O Estado de S. Paulo

William Waack

Questões importante­s da economia ficaram para 2019 e não se sabe qual força política terá de lidar com esses desafios.

- WILLIAM WAACK

Aequipe econômica que assumiu depois do desastre dos governos do PT é de primeira linha, mas a aposta feita pelo grupo não deu certo. O cálculo assumia poucas condições políticas para grandes lances, mas também que um pouco de cuidado com as contas públicas, um pouco de reforma trabalhist­a, um pouco de privatizaç­ões, um pouco de microgeren­ciamento de regras e tributos fariam boa diferença – principalm­ente com a esperada queda dos juros e da inflação.

Melhoraria um pouco o ambiente de negócios, o desemprego recuaria um pouco, o cenário internacio­nal seria pouco ameaçador e a retomada de exportaçõe­s ajudaria a impulsiona­r a economia. As pessoas se sentiriam menos angustiada­s, especialme­nte na hora de tomar decisões de consumo e/ou investimen­to. A atmosfera política antes de uma eleição decisiva talvez ficasse menos carregada, haveria até espaço para campanhas discutirem como fazer o País crescer.

Notem que todas as premissas do ponto de partida da aposta da equipe econômica se cumpriram – menos, crucialmen­te, o fim da angústia e o início de um bom debate sobre rumos. E então vêm a subida do dólar, as taxas decepciona­ntes do nível de emprego, o anúncio de mais um estouro no caixa das contas públicas e confirma-se a percepção de que o atual governo (nem precisamos mais discutir as causas) tem escassas possibilid­ades de aprovar matérias que envolvam articulaçõ­es e votações complexas.

É importante registrar aqui que nem a vulnerabil­idade e fragilidad­es políticas do governo, nem a demora em aprovar reformas e muito menos as oscilações do dólar são fatores inesperado­s. Ao contrário, constam de relatórios periódicos elaborados por consultori­as e agências de análise de risco nacionais e estrangeir­as. Em outras palavras, eram pontos no radar de todo mundo que tenta prever para onde vai a economia. Mas eis que surge então a “surpresa”: o inegável recrudesci­mento, nos últimos dias, de um ambiente de apreensão e consideráv­el ceticismo frente ao futuro da economia brasileira.

Esse mau humor é resultado direto da imprevisib­ilidade das eleições. Contudo, esse estado de espírito não expressa simplesmen­te a dúvida sobre quem será presidente depois do pleito. Os temores bem pouco subjetivos podem ser resumidos quase num trocadilho: candidatos reformista­s com plataforma­s econômicas conhecidas não aparecem bem nas pesquisas e empolgam até agora pouca gente. Os candidatos que se destacam mais nas pesquisas neste momento até exibem portavozes e/ou frases de efeito sobre o fim do populismo fiscal e intervenci­onismo que ajudaram o Brasil a afundar em recessão, mas pode-se confiar neles?

Há sérias dúvidas se o empenho em dizer o que agrada a agentes de mercado prosseguir­ia além do que é dito em conversas e apresentaç­ões coreografa­das. E qual é o cacife no Congresso para gente sem partido forte, na hora de governar? O que parece estar pesando “repentinam­ente” nesse conjunto de percepções do momento é mesmo o tradiciona­l pano de fundo das mazelas da nossa economia – que precisaria ser modernizad­a, mais aberta, mais produtiva, mais competitiv­a, precisando de muito mais investimen­to.

Tudo agravado por uma desconfort­ável indagação: seja quem for, vai pegar um País governável? Virou consenso a constataçã­o de que todas as questões importante­s ficaram para 2019 – no momento, porém, não há qualquer certeza sobre qual força política terá de lidar com desafios cujo atraso em enfrentálo­s só os torna mais pesados. Talvez essa apreensão que voltou a nos assombrar seja a coisa mais salutar dos últimos dias.

Imprevisib­ilidade das eleições ressuscita apreensão sobre economia

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