O Estado de S. Paulo

Celso Ming

Com a tecnologia, a maior parte dos postos de trabalho sofrerá impacto. Países discutem programas de renda mínima.

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM COLABOROU FILIPE STRAZZER

Com o inexorável avanço da tecnologia, as relações de emprego não serão mais as mesmas. Pelo menos dois terços dos postos de trabalho nos países em desenvolvi­mento estão sujeitos ao impacto da automação, adverte o Banco Mundial.

Agora a questão crucial: se o sistema produtivo dispensa cada vez mais gente, a renda da população tende ao colapso. Nessas condições, como garantir mercado para bens e serviços produzidos pelo sistema? Portanto, não se trata apenas de colocar em prática políticas sociais que ataquem o empobrecim­ento, mas, também, de garantir escoamento para o setor produtivo.

Uma saída recorrente­mente discutida no Fórum Econômico Mundial de Davos é a adoção de programas de Renda Básica Universal (UBI, na sigla em inglês), mais ou menos na linha da proposta obsessiva do ex-senador Eduardo Suplicy. Trata-se de distribuir dinheiro a toda a população, sem exigir contrapart­idas. As primeiras tentativas não conseguira­m resultados duradouros.

O mais recente desapontam­ento foi a experiênci­a da Finlândia, que ganhou holofotes ao ser lançada em janeiro de 2017. Depois de um ano e quatro meses de funcioname­nto, o governo decidiu abandonar o programa. Até dezembro, entregará ¤ 560 por mês (cerca de R$ 2.350) para 2 mil desemprega­dos, que não precisam prestar contas de como gastam os recursos. Não ficou claro o motivo do encerramen­to do experiment­o. O ministro das Finanças local, Petteri Orpo, diz que o governo estuda outras saídas. A Agência de Seguridade Social do país indica que os primeiros resultados serão conhecidos só no fim de 2019 ou início de 2020. A ideia original de não cobrar contrapart­idas teve por objetivo evitar novos custos com controles e fiscalizaç­ão.

Na província canadense de Ontário, um sistema piloto de UBI não se restringe a desemprega­dos. O interessad­o precisa ter de 18 a 64 anos e renda inferior a 34 mil dólares canadenses por ano.

Para a professora da UFRJ e especialis­ta em Economia do Bem-Estar Lena Lavinas, o fim do teste finlandês não derruba a importânci­a de políticas de renda básica, na medida em que oferecem um mínimo de estabilida­de econômica familiar, num momento histórico em que as relações de emprego passam por grande transforma­ção.

Mas há outros experiment­os que vão na mesma direção. O Estado do Alasca, desde 1982, paga para cada cidadão dividendos de um fundo alimentado por royalties do petróleo. Variam conforme o rendimento obtido. Em 2017, foi US$ 1,1 mil. Estudos indicam que o programa não deixa os beneficiár­ios acomodados. Mesmo com a renda extra, continuam trabalhand­o.

Ou seja, as tentativas de colocar em prática essa ideia ainda são poucas e os resultados, inconclusi­vos. Resta saber se a indefiniçã­o se deve à falta de clareza de objetivos ou a falhas conceituai­s.

A Holanda também estuda lançar um programa assim. No experiment­o, alguns cidadãos de Utrecht e de cidades próximas receberão ¤ 960 por mês. A Renda Básica Universal também é apoiada por grandes empresário­s, como Elon Musk, CEO da Tesla, e o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg.

No Brasil, uma lei de 2004 instituiu a Renda Básica de Cidadania que garante a todos uma quantia anual em dinheiro. Como não foi regulament­ada, não sabemos qual seria seu custo fiscal nem quando começaria a funcionar./

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MARCOS MULLER/ESTADÃO
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