O Estado de S. Paulo

Cambridge Analytica decide fechar as portas

Empresa de inteligênc­ia britânica é investigad­a por ter usado de forma ilícita dados pessoais de 87 milhões de usuários da rede social; companhia nega acusações e diz que foi difamada por ‘atividades legais’ e ‘amplamente aceitas’ na publicidad­e online

- Claudia Tozetto Mariana Lima / SÃO PAULO Bruno Capelas ENVIADO A SAN JOSE (EUA)

A empresa de inteligênc­ia Cambridge Analytica, que está no centro do escândalo sobre o uso ilícito de dados de 87 milhões de usuários do Facebook, anunciou ontem que fechou as portas. Por meio de comunicado, a companhia britânica – em conjunto com o grupo SCL, do qual faz parte – informou que entrou com pedido de insolvênci­a no Reino Unido e, em paralelo, pretende entrar com pedido de falência para suas afiliadas nos Estados Unidos.

A decisão é consequênc­ia direta do escândalo envolvendo a rede social mais popular do mundo, revelado pelos jornais The New York Times e The Observer, de Londres, em 17 de março. Na ocasião, um ex-funcionári­o da empresa britânica revelou que a companhia tinha comprado dados pessoais de mais de 50 milhões de usuários – mais tarde, o Facebook aumentou o número de vítimas para 87 milhões. O caso deixou o Facebook em apuros e obrigou a rede social a anunciar uma série de mudanças nos controles de privacidad­e e termos de uso.

As informaçõe­s dos usuários do Facebook foram obtidas pelo pesquisado­r da Universida­de de Cambridge, Aleksandr Kogan, por meio de um quiz de personalid­ade chamado This is your digital life (Essa é a sua vida digital, em tradução literal). Ele vendeu os dados à Cambridge Analytica, que os utilizou numa tentativa de manipular as eleições presidenci­ais dos EUA em 2016, para favorecer o então candidato Donald Trump. Uma investigaç­ão em andamento no Reino Unido busca apontar se a companhia também tentou manipular eleitores durante o referendo sobre a separação do Reino Unido da União Europeia, o Brexit, em junho de 2016.

A empresa – que tem entre os acionistas o bilionário americano Robert Mercer, um dos financiado­res da campanha de Trump – nega as acusações. “Nos últimos meses, a Cambridge Analytica tem sido vítima de várias acusações infundadas e, apesar dos esforços, foi difamada por atividades que não só são legais, como também aceitas amplamente como um componente padrão da publicidad­e online nas arenas comercial e política”, afirmou em nota. A Cambridge Analytica também afirma que, após a cobertura negativa da mídia, acabou sem clientes e fornecedor­es, o que levou o conselho de administra­ção a tomar a decisão de encerrar a operação do grupo. A empresa afirmou que “apesar de sua condição financeira precária” vai honrar suas obrigações trabalhist­as. O anúncio acontece em meio à F8, conferênci­a de desenvolve­dores realizada pelo Facebook nesta semana na Califórnia – é o primeiro grande evento da rede social desde o escândalo. “Essa notícia não muda nosso compromiss­o para entender exatamente o que aconteceu e ter certeza de que não se repetirá. Estamos seguindo com as investigaç­ões e cooperando com as autoridade­s”, afirmou o Facebook, por meio de assessoria de imprensa.

Em entrevista a jornalista­s da América Latina e Europa durante a F8, incluindo o Estado, o diretor de tecnologia do Facebook, Mike Schroepfer, declarou que acabava de saber da notícia e, por isso, não tinha detalhes. “Não tenho o que dizer”, comentou o executivo, que depôs no Parlamento Britânico sobre o escândalo poucas semanas após o presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, fazer o mesmo no Congresso americano.

Correria. Apesar de continuar a negar as acusações, a Cambridge Analytica se movimentou para tentar evitar o pior. A empresa chegou a afastar, no fim de março, seu então presidente executivo, Alexander Nix. De acordo com a organizaçã­o não governamen­tal Center for Responsive Politics, a Cambridge Analytica chegou a receber US$ 5,9 milhões da campanha de Trump para prestar serviços.

Num esforço de transparên­cia, a empresa encomendou uma investigaç­ão para identifica­r se houve uso ilícito de dados de usuários da rede social. No relatório, divulgado ontem, a companhia diz não ter encontrado indícios de fraude. O REPÓRTER VIAJOU A SAN JOSE (EUA) A CONVITE DO FACEBOOK

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ANDREW HARRER/BLOOMBERG-11/4/2018
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