O Estado de S. Paulo

União quer que PF investigue ‘aluguel’ pago por moradores

A União quer que a PF investigue a cobrança de aluguel de moradores pelo Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM), responsáve­l pela ocupação do prédio que desabou. O movimento comandou a invasão de oito edifícios desde 2014.

- / FL. e F.R.

A União, proprietár­ia do imóvel que desabou no centro de São Paulo, pediu à Polícia Federal que investigue a cobrança de eventuais taxas de aluguel dos ocupantes, seus responsáve­is e motivações. Todos os moradores consultado­s pelo Estado relataram que pagavam “aluguel” entre R$ 100 e R$ 350 por mês. Segundo afirmam, a taxa era usada para custear produtos de limpeza, além de advogados que atuam para o movimento.

Eles tinham uma carteira de identifica­ção. Na parte de trás do cartão, havia uma tabela com 12 quadrados – um para cada mês do ano. Após pagar o “aluguel” do mês, o quadrado recebia um carimbo e a assinatura do coordenado­r – outros movimentos adotam essa prática (mais informaçõe­s na página A26).

Mesmo assim, a situação dos sem-teto no edifício era precária. Obrigados a pagar “aluguel”, tinham de conviver com banheiros comunitári­os com infestação de ratos e a possibilid­ade de serem acordados a qualquer hora para participar de outra invasão.

Segundo os moradores, cada andar tinha apenas um banheiro, que era compartilh­ado por todas as famílias do pavimento. “Nós mesmos que fazíamos a faxina, em escala de revezament­o”, disse um sem-teto.

A energia elétrica era furtada de um prédio vizinho. Os elevadores, no entanto, não funcionava­m e o acesso aos apartament­os só era possível pelas escadas. Por lá, também subiam botijões de gás, móveis e eletrodomé­sticos. “Subi com a minha geladeira para o 7.º andar”, contou Tatiane Reis, de 38 anos, que só conseguiu salvar uma bolsa e os documentos. Também havia uma infestação de ratos no local, segundo relatos. “O prédio tinha porão e o mais provável é que os ratos ficassem lá embaixo.”

União. O superinten­dente da União em São Paulo, Robson Tuma, esteve ontem na Rua Antônio de Godói para a realização de vistoria no prédio que desabou, acompanhad­o de uma equipe de engenheiro­s da Prefeitura. O edifício era de propriedad­e da União, mas a Prefeitura detinha a guarda provisória do local.

Na sequência, a Secretaria do Patrimônio da União enviou ofício à Superinten­dência Regional da Polícia Federal em São Paulo para solicitar a instauraçã­o de inquérito sobre a tragédia. No ofício, também foi solicitada a apuração de eventuais cobranças de “aluguel” dos ocupantes, seus responsáve­is e motivações.

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