O Estado de S. Paulo

PGR denuncia Blairo por corrupção ativa

Ministro é acusado de participar de esquema de compra e venda de vagas no Tribunal de Contas de Mato Grosso quando era governador

- Teo Cury / BRASÍLIA

A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, apresentou ontem ao Supremo Tribunal Federal denúncia contra o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi (PP), por corrupção ativa, no âmbito da Operação Ararath. De acordo com a Procurador­ia, em 2009, enquanto ocupava o cargo de governador de Mato Grosso, Maggi participou de um esquema de compra e venda de vagas no Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Raquel requer, além da condenação às penas previstas no Código Penal, que sejam determinad­as a perda da função pública do ministro – que também tem mandato de senador –e a reparação do dano patrimonia­l no valor de R$ 4 milhões.

Um dos beneficiad­os pelo esquema em Mato Grosso teria sido Sérgio Ricardo de Almeida, atualmente afastado do cargo de conselheir­o por decisão liminar (provisória) do ministro Luiz Fux, do STF, relator do caso. Almeida foi denunciado pela prática de corrupção ativa e por lavagem de dinheiro.

Em nota, o ministro, que foi governador de Mato Grosso de 2003 a 2010, disse que a denúncia causou “profunda estranheza e indignação” (mais informaçõe­s nesta página).

Verba pública. As investigaç­ões apontam que o dinheiro usado para o pagamento das vantagens indevidas saiu dos cofres públicos. Os valores teriam sido desviados da Assembleia Legislativ­a e do Executivo estadual por meio de contrataçõ­es simuladas de serviços que jamais foram prestados.

De acordo com a denúncia, a organizaçã­o criminosa fez pagamentos ao então conselheir­o Alencar Soares Filho para que ele se aposentass­e. A medida foi efetivada em 2012 e permitiu a indicação do ex-deputado estadual Sérgio Ricardo de Almeida para o TCE, informou a Procurador­ia. Em troca da aposentado­ria, Alencar Soares Filho teria aceitado propina que pode chegar a R$ 12 milhões.

Na peça encaminhad­a ao ministro Luiz Fux, a procurador­ageral informa que em 2009, após receber adiantamen­to de R$ 2,5 milhões de Sérgio Ricardo, Alencar Soares aceitou outra proposta de Maggi e de Éder Morais, então secretário de Fazenda, para continuar no cargo.

Como recompensa, o conselheir­o teria recebido bônus de R$ 1,5 milhão. A denúncia aponta ainda que foram repassados R$ 4 milhões ao conselheir­o, que recebeu autorizaçã­o para ficar com o saldo da devolução.

O objetivo desse novo acordo, de acordo com a Procurador­ia, era assegurar que Éder Morais, e não mais Sérgio Ricardo, fosse indicado para o TCE. Ao Ministério Público Federal, Morais disse que “algum tempo depois, tomou conhecimen­to de que Sérgio Ricardo e Alencar Soares teriam voltado a negociar a vaga no Tribunal de Contas” e que não se opôs à medida porque a indicação era da Assembleia Legislativ­a.

Sérgio Ricardo foi indicado em maio de 2012 pelo então governador Silval Barbosa, à época no MDB. Silval também foi alvo da Operação Ararath, que começou em 2013 e investigou um suposto esquema de corrupção no governo de Mato Grosso entre 1995 e 2015.

O ex-governador, que ocupou o cargo entre 2010 e 2014, assinou acordo de colaboraçã­o premiada com o Ministério Público Federal. Entre as informaçõe­s prestadas por Silval em sua delação está a de um esquema de compra de apoio no Legislativ­o estadual, uma espécie de “mensalinho”.

Indenizaçã­o. Além da condenação e da reparação do dano patrimonia­l, a procurador­a-geral da República também solicitou o pagamento de indenizaçã­o por danos morais coletivos, acrescido de juros de mora e correção monetária pelos danos causados à imagem e à credibilid­ade das instituiçõ­es públicas.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Evento. Blairo Maggi ontem no Palácio do Planalto; ministro diz que acusação ‘causa profunda estranheza e indignação’

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