O Estado de S. Paulo

Aprovado pagamento de calote da Venezuela e de Moçambique

Projeto que libera crédito de R$ 1,164 bilhão para cobrir dívida com BNDES e Credit Suisse vai agora à sanção presidenci­al

- Idiana Tomazelli Felipe Frazão / BRASÍLIA

O Congresso Nacional aprovou ontem à noite a abertura de crédito de R$ 1,164 bilhão para cobrir o calote dos governos da Venezuela e de Moçambique com o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) e o Credit Suisse. O pagamento, que vence no dia 8, poderá ser feito graças a um cancelamen­to, no mesmo valor, na previsão de gastos do Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (FAT) com o seguro-desemprego. O projeto agora vai à sanção presidenci­al.

A abertura do crédito suplementa­r é necessária porque o Fundo de Garantia à Exportação (FGE), vinculado ao Ministério da Fazenda, é o avalista das operações. Embora o FGE tenha o dinheiro para cobrir a inadimplên­cia dos dois países, a despesa não está prevista no Orçamento, o que impede o desembolso. Além disso, há a trava do teto de gastos, que exige o cancelamen­to de outras despesas para que a cobertura do calote entre no lugar. O projeto serve para incluir essa previsão legal e adequar o gasto ao teto.

Mais de duas horas foram necessária­s para que os governista­s reunissem os 41 senadores exigidos como mínimo para iniciar a votação. O presidente do Casa, senador Eunício Oliveira (MDB-CE), ameaçou encerrar a sessão por volta das 20h30 se não houvesse quórum.

A base agiu para evitar que a oposição pedisse votação nominal no Senado – o que abriria novo painel e imporia o desafio de reunir novamente 41 senadores –, e se antecipou pedindo a verificaçã­o na Câmara, que tinha quórum mais folgado e aprovou por 216 votos a 41, com seis abstenções. Dessa forma, a votação no Senado foi simbólica.

O não pagamento da dívida com BNDES e Credit Suisse poderia arranhar a imagem do Brasil no cenário internacio­nal. Havia risco de o Brasil entrar em “default técnico”. Nessa situação, credores externos podem pedir quitação antecipada de dívidas do País. Poderia haver ainda rebaixamen­to da nota do Brasil pelas agências de classifica­ção de risco e piora do risco país, medido pelas operações de Credit Default Swap (CDS).

Segundo os aliados, o não pagamento prejudicar­ia as exportaçõe­s de empresas brasileira­s, já que o FGE ficaria impedido de garantir novas operações com bancos até a regulariza­ção. Também poderia inviabiliz­ar a participaç­ão de companhias nacionais em licitações no exterior.

Aliados fizeram ressalvas sobre as operações com Venezuela e Moçambique, firmadas durante o governo petista. O líder do PSDB na Câmara, Nilson Leitão (MT), cobrou que o Congresso quebre o sigilo dos financiame­ntos para que se saiba detalhes das operações. O deputado Bohn Gass (PT-RS) defendeu os financiame­ntos e disse que a base governista “fala grosso com países pobres e fino com os Estados Unidos”.

Integrante­s da oposição reclamaram do cancelamen­to de despesas com seguro-desemprego. De acordo com o Ministério do Planejamen­to, a mudança não trará prejuízos na execução desses gastos, uma vez que o remanejame­nto foi decidido com base em projeções de gastos menores com o benefício.

“Não se sabe se (a obra) está superfatur­ada ou não, não se sabe se lá também há esquema, não se sabe se lá há propina, o sigilo é total.” Nilson Leitão (MT)

LÍDER DO PSDB NA CÂMARA

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FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL Votação. Base teve dificuldad­e para conseguir quórum

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