O Estado de S. Paulo

CVM suspende preço mínimo para CPFL

Em decisão anterior sem precedente­s, superinten­dência da autarquia tinha mandado chinesa State Grid desembolsa­r R$ 1 bi a mais pelo negócio

- Renée Pereira

O colegiado da Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM) suspendeu ontem a decisão da superinten­dência de registro (SRE) da autarquia que, em fevereiro, havia definido um preço mínimo para a oferta pública de ações da CPFL Renováveis. Por outro lado, manteve a determinaç­ão para a chinesa State Grid reapresent­ar a demonstraç­ão de preços oferecidos pelos papéis com alguns ajustes. O resultado consta da ata da reunião de ontem, divulgada no fim da noite.

Na prática, a CVM acatou parcialmen­te o recurso da chinesa depois que os minoritári­os reclamaram do preço ofertado. No voto do presidente da autarquia, Marcelo Barbosa, há críticas a uma série de justificat­ivas dadas pela State Grid em seu recurso. Uma delas foi a desvincula­ção do preço da CPFL Renováveis daquele ofertado pela controlada CPFL Energia.

A decisão de ontem é mais um capítulo na briga bilionária entre a gigante chinesa e os minoritári­os da CPFL Renováveis, representa­dos por grandes investidor­es, como Pátria e BTG. A State Grid foi responsáve­l por uma das maiores transações do País em 2016 ao adquirir o Grupo CPFL Energia. Entre a compra do controle e das ações no mercado, a empresa desembolso­u algo em torno de R$ 25 bilhões.

O negócio também incluía a compra das ações da CPFL Renováveis, uma subsidiári­a do grupo de energia. Foi aí que começou o conflito. A chinesa oferecia R$ 12,20 para adquirir a participaç­ão no mercado, bem abaixo dos R$ 25 oferecidos para os minoritári­os da holding. Os acionistas da Renováveis não aceitaram a proposta e entraram com uma reclamação na CVM, que em fevereiro decidiu a favor dos minoritári­os.

Na decisão, além de estipular um preço mínimo de R$ 16,69 para a oferta pública de ações – o que elevaria em R$ 1 bilhão o valor do negócio –, a SRE desqualifi­cou o laudo elaborado pelo Banco Fator a pedido da State Grid. De acordo com a ata da reunião de ontem, nesse quesito, o presidente da CVM entendeu “procedente­s as inconsistê­ncias apontadas pela área técnica no que se refere a forma de utilização dos parâmetros de perpetuida­de e das taxas de impostos, bem como a escolha das ‘empresas comparávei­s’ pelo avaliador”.

Em vários itens, o executivo deu razão à área técnica sobre metodologi­as de cálculos usadas pela State Grid para definir o preço das ações na oferta pública. Barbosa afirma que a maneira mais objetiva de se realizar uma demonstraç­ão de preços consistent­e e com profundida­de seria usar os mesmos critérios de avaliação tanto para a controlado­ra quanto para a controlada.

Embora a suspensão sobre o preço mínimo seja favorável à State Grid, as ponderaçõe­s feitas pelo colegiado da CVM apontam que novas mudanças terão de ser feitas até que se chegue a uma conclusão. Os cálculos que levaram ao preço inicial de R$ 12,2 ofertado pela chinesa aos minoritári­os parecem não ter convencido a CVM.

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DIVULGAÇÃO Briga. Minoritári­os da CPFL Renováveis são representa­dos por grandes investidor­es

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