O Estado de S. Paulo

Gregório, o rei e o terceiro sinal

- JOÃO WADY CURY E-MAIL: JOAO.CURY@ESTADAO.COM BLOG:CULTURA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/ARCENICO

Quando o ator e diretor baiano, radicado em São Paulo, Ricardo Bittencour­t voltar à cena na próxima segunda, 7, com Boca a Boca: Um Solo para Gregório, estará com três peças em cartaz, duas como ator (esta e O Rei da Vela, no elenco do Oficina) e uma como diretor, em Terceiro Sinal, com a atriz Bete Coelho. Três projetos com voz própria, mas a única realmente particular é sobre o soteropoli­tano e barroco de carteirinh­a Gregório de Matos, o Boca do Inferno. Na encenação, Bittencour­t leva em três segundas-feiras o lirismo de Matos em forma de 40 poemas na Biblioteca Mario de Andrade. O MEDO, ESSE DANADO Boca do Inferno, espelho de uma época, tinha uma espada fincada em seu peito capaz de traduzir o sentimento que assombra e cruza nossas vidas: o medo, esse danado. Fontes ricas sobre as aflições incontidas dos humanos, de Delumeau, em A História do Medo no Ocidente, a Bauman, com Medo Líquido, tentam dar conta do tema, mas não o encerram. Claro, assunto não falta para alimentar qualquer conversa, mas no palco a história é outra. Talvez seguindo essa lógica, a diretora e dramaturga Gabriela Mellão decidiu encarar o tema quando caiu em seu colo uma pesquisa sobre o medo nos dias de hoje. A partir das oitiva e juntando textos seus, colaboraçõ­es dos atores e atrizes e também inspirados em obras de outros dramaturgo­s, Gabriela criou Kansas, peça que estreia dia 30 no Teatro Sérgio Cardoso. Trata-se de um trabalho que caminha há um ano, às vezes rápido, noutras lentamente, e que teve troca de elenco, o que já retrata a dificuldad­e de construir a narrativa de forma relevante. Mas isso é teatro, haja coragem, e certamente parte dela vem da gente experiente do elenco para dar conta do medo maior, encalacrar essa voz que quer e precisa sair. Estão ali Ester Lacava, Erika Puga, Alexandre Stockler, Clovys Tôrres e Plínio Soares. Agora, por que Kansas? A inspiração vem de uma frase de O Mágico de Oz, “We’re not in Kansas anymore”, referência ao paraíso que não temos mais. Angústia pura.

ÂMAGO FEMININO

O projeto nasceu da única forma que poderia, com intimidade e cumplicida­de artística entre duas atrizes, Maria Laura Nogueira e Rita Gullo. Am- bas, separadame­nte, tinham a imagem da atriz norueguesa Liv Ullmann e seu livro Mutações pululando ao seu redor. Não deu outra e o resultado vai à cena no próximo dia 17, no Sesc Pinheiros, e chama-se Eu Sou Essa Outra. O tom confession­al de Ullmann, discorrend­o sobre a própria vida, o teatro, o cinema e o relacionam­ento turbulento com o cineasta sueco Ingmar Bergman como somente esses nórdicos sabem fazer, se torna um uníssono do âmago feminino. Às duas atrizes juntouse uma terceira, Nana Yazbek, e a dramaturga Carla Kinzo, para dar conta de encapsular a densidade de Ullmann e colocá-la no palco. A direção é da estreante Vera Egito, conhecida por sua atuação em audiovisua­l. Sim, somente mulheres falando sobre uma mulher e, ao mesmo tempo, sobre todas. E isso é bom.

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RAFAELA CARVALHO
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SORA MAIA Bittencour­t. Dose tripla
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