O Estado de S. Paulo

A sobrevida do PT

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O PT vem se destruindo por dentro, forçado pelas circunstân­cias a servir de milícia para o encalacrad­o Lula da Silva.

OPartido dos Trabalhado­res (PT) vem se destruindo por dentro, forçado pelas circunstân­cias a servir de milícia para seu encalacrad­o líder máximo, Lula da Silva. O lulismo é hoje a única expressão autorizada do petismo, o que limita drasticame­nte o raio de atuação do partido. Somando-se ainda todas as vicissitud­es petistas nos últimos anos – o impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff, os escândalos de corrupção, o legado trágico na economia e a desmoraliz­ação das instituiçõ­es –, nada mais natural do que esperar um profundo desgaste do PT. E no entanto essa legenda surgiu como a detentora da maior bancada da Câmara dos Deputados depois do troca-troca partidário permitido até a primeira semana de abril. Ademais, recente pesquisa de opinião mostrou que o PT, mesmo depois da prisão de seu líder por corrupção e lavagem de dinheiro, continua a ter o maior porcentual de simpatizan­tes, muito à frente dos demais partidos.

Esse fenômeno pode ser explicado muito menos pelas imaginária­s virtudes dos petistas e muito mais pela incapacida­de de partidos programáti­cos, notadament­e o PSDB, de ocupar o espaço político que a crise do PT começa a deixar.

O PSDB emprestou hesitante apoio ao governo do presidente Michel Temer no momento em que este mais precisava de suporte para aprovar as reformas de que o País necessitav­a, e ainda necessita. Além disso, quando Temer foi alvo de uma denúncia inepta da Procurador­ia-Geral da República, metade da bancada tucana na Câmara votou contra o presidente. Tal comportame­nto revelou claramente que faltou aos tucanos naquele momento perspectiv­a histórica e demonstrou que muitos deles pareciam ter aderido às deletérias práticas do chamado “centrão”, o que decerto prejudicou seu patrimônio eleitoral.

A força institucio­nal de um partido está principalm­ente em sua capacidade de sustentar uma mensagem, um princípio. No caso do PSDB ou do MDB, não se sabe que mensagem é essa. O MDB, partido do presidente Michel Temer, por exemplo, foi um dos principais responsáve­is pelas derrotas mais importante­s sofridas pelo governo. Se há uma mensagem aí, é a de que o MDB não é um partido, mas uma federação de interesses privados de seus integrante­s, e muitos destes não se sentiram na obrigação de defender Temer e de ajudá-lo a aprovar as reformas. Assim, hoje, o eleitor que escolhe alguma dessas legendas não é capaz de dizer o que espera delas.

Não faz diferença, portanto, votar nesses partidos ou no Partido Progressis­ta (PP), expressão mais bem-sucedida do tal “centrão” fisiológic­o, e que, por esse motivo, emergiu da janela de infidelida­de como o segundo maior partido da Câmara, empatado com o MDB.

Já o eleitor do PT sabe muito bem no que está a votar. A mensagem é direta e cristalina: vota-se hoje no PT para sustentar o lulismo, cuja essência é a promessa do paraíso do consumo de bens e serviços, a que os intelectua­is petistas e seu demiurgo chamam, cinicament­e, de “justiça social”. Está deliberada­mente ausente do discurso lulopetist­a a necessidad­e de respeitar as instituiçõ­es democrátic­as. Ao contrário: quando estas se interpõem no caminho do lulismo, tolhendo-lhe os movimentos, são imediatame­nte considerad­as “golpistas”.

Ainda assim, a despeito de manter esse vigor militante e de formar a maior bancada da Câmara, o PT diminui a olhos vistos. Na eleição de 2016, o partido caiu de mais de 600 prefeitura­s para 250, e nenhuma delas é de uma grande cidade. No mesmo ano, foi defenestra­do do governo federal. Com a substancia­l perda de capilarida­de municipal e sem a máquina federal, o desempenho petista nas urnas em outubro dependerá basicament­e da capacidade de seu chefão, Lula da Silva, de conseguir traduzir em votos o calvário que ora encena na cadeia em Curitiba.

Em condições normais, portanto, seria previsível mais uma acachapant­e derrota do PT, talvez a definitiva. Mas, em se tratando do atual cenário partidário, em que a mediocrida­de parece prevalecer, o PT, movido a lulismo, conserva força suficiente para continuar a causar problemas ao País.

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