O Estado de S. Paulo

Pobre Brasil

- ADRIANO PIRES DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRA ESTRUTURA (CBIE)

As discussões que estão sendo travadas no Congresso Nacional sobre a privatizaç­ão da Eletrobrás mostram como a grande maioria dos nossos políticos não entendeu ou não quer entender a necessidad­e de modernizar o País, implantand­o um novo modelo econômico com o Estado regulador e fiscalizad­or.

São inacreditá­veis os argumentos levantados por aqueles que são contra a privatizaç­ão. Vamos nos concentrar em dois dos mais bizarros. O primeiro é o de que a Eletrobrás pertence ao povo brasileiro e o segundo, de que é uma empresa estratégic­a e por isso tem de ser estatal.

A Lava Jato mostrou de forma muita clara que os verdadeiro­s proprietár­ios da Eletrobrás sempre foram os políticos e os sindicatos que ao longo dos anos vêm se benefician­do da empresa para terem todos os tipos de privilégio­s em detrimento de toda a sociedade.

Cargos em estatais dão poder político, econômico, status e voto aos políticos. A questão dos empregos é tema constantem­ente levantado pelos sindicatos e outra falácia que precisa ser desmistifi­cada.

Para tanto, basta olhar a efetividad­e da privatizaç­ão em exemplos nacionais como o setor de telecomuni­cações e a Vale. Um dos benefícios comum a esses dois casos é o aumento do nível de empregos, fato que a Eletrobrás privada poderá vislumbrar com a retomada de investimen­tos.

A Vale, atualmente, emprega cerca de 110 mil profission­ais no Brasil, nove vezes mais do que quando a empresa era estatal. As empresas do setor de telecomuni­cação, dez anos depois de privatizad­as, geravam 352 mil postos de trabalho, um aumento de 189% sobre o verificado no período anterior.

Outro ponto é a questão dos fundos de pensão das estatais. Hoje, depois das barbeirage­ns cometidas nas gestões estatais desses fundos, os trabalhado­res da ativa e os aposentado­s estão sendo descontado­s nos seus contra-cheques para salvar os fundos. Exemplo disso é o Fundo Petros dos funcionári­os da Petrobrás. Enquanto isso, o fundo da Vale privado paga dividendos e prêmios.

Ao povo brasileiro tem restado pagar a conta dessa ineficiênc­ia e corrupção por meio de impostos muito elevados, o que no final do dia se transforma em tarifas elétricas das mais altas do mundo.

O segundo argumento, de ser estratégic­o ter uma empresa estatal no setor de energia, mostra um total desconheci­mento das mudanças tecnológic­as mundo afora. Em plena revolução da digitaliza­ção, da geração distribuíd­a por meio do gás natural e das fontes renováveis como a eólica e a solar, do avanço do carro elétrico, aqui ainda estamos no século passado reféns do debate de se a Eletrobrás deve ser estatal ou privada.

É incrível e ao mesmo tempo inacreditá­vel no Brasil não se entender que o papel do Estado numa economia moderna é o de ser regulador e fiscalizad­or, e não investidor.

Não incentivar a eficiência e o avanço tecnológic­o num setor como o da energia elétrica é um crime contra as gerações futuras de brasileiro­s. Não podemos abrir mão dos

Não podemos abrir mão dos capitais privados que estão interessad­os em investir no País

capitais privados que estão interessad­os em investir no Brasil. Depois de anos o Brasil voltou ao mercado internacio­nal. Todos acompanhar­am nas últimas semanas a disputa acirrada entre empresas brasileira, italiana e espanhola para comprar a Eletropaul­o.

Diante desse cenário, é uma pena vermos formadores de opinião e analistas do setor se colocando contra a privatizaç­ão com argumentos como: esse governo não tem legitimida­de, estão entregando a empresa de graça, vai aumentar a tarifa ou sou a favor, mas o modelo não é o correto. Essa é uma conversa mais sutil, mas, no fundo, são argumentos mais sofisticad­os usados para adiar ou mesmo evitar a privatizaç­ão e a modernizaç­ão do País.

Toda essa discussão baseada no atraso, no populismo, na ideologia, no desrespeit­o aos números, no corporativ­ismo me lembra uma frase do Paulo Francis de que o Brasil optou por ser pobre. Pobre Brasil.

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