O Estado de S. Paulo

Turfe. Jeane Alves supera obstáculos para ser joqueta de ponta.

Única joqueta a disputar hoje a tradiciona­l prova no Hipódromo Paulistano, ela vive grande fase e tem chances reais de vitória

- Paulo Favero

Jeane Alves será a única mulher a competir no Grande Prêmio São Paulo Black Opal 2018, que será realizado hoje a partir das 12h no Jockey Club, em São Paulo, em uma das mais importante­s competiçõe­s do turfe brasileiro. O evento está em sua 94ª edição e terá como destaque a joqueta que se acostumou a superar obstáculos, vencer barreiras e muitas vezes deixar os adversário­s comendo poeira.

“Já enfrentei bastante preconceit­o. Todos os dias acabava escutando alguma piadinha, mas atualmente é bem menos do que quando entrei. As meninas que já competiam antes sofreram mais do que eu. Quando cheguei ainda existia discrimina­ção, mas aos poucos foi diminuindo. Agora as mulheres estão ganhando mais espaço e ganhando competiçõe­s”, diz Jeane ao Estado.

Aos 28 anos, ela está em um momento muito bom nas pistas e hoje vai competir nos dois Grandes Prêmios mais importante­s do dia, a Milha Internacio­nal, na qual ela montará o cavalo Tupã Ceretã, e o GP São Paulo, em que ela estará montando Kris Five.

“Minha expectativ­a é grande, espero que tudo corra bem. Fiquei meses me preparando para o Grande Prêmio. Fiz uma preparação antes, estou treinando mais para essas provas, e tento trabalhar os cavalos que eu monto todos os dias para me acostumar”, explica a atleta.

Nascida em Acopiara, no interior do Ceará, Jeane tomou gosto pela modalidade por causa do amor aos cavalos e pelo incentivo do primo e da prima, que já montavam e lhe ajudaram na carreira. “Ele está na Inglaterra e ela também continua montando. Sempre gostei de cavalo, fui criada em fazenda. Adorava, assistia, queria vir, eles falaram com o professor da escolinha de preparação para jóquei, fui passando nos testes e estou aqui hoje”, afirma.

Sua trajetória começou quando tinha 18 anos, em uma modalidade que não faz divisão de gênero nas disputas. As mulheres são minoria e as que vencem estão em número mais reduzido ainda. “Quando eu era aprendiz, fui ganhadora nos dois anos nas estatístic­as com o maior número de vitórias”, conta. Só que, faltando dois meses para virar joqueta, Jeane sofreu um acidente sério, quebrou o braço e precisou colocar pinos e placa. Aí começou sua trajetória de superação. Quando retornou, emendou uma boa fase e chegou a vencer

cinco provas seguidas no mesmo dia. “Depois do acidente, quando retornei nada me abalou. Voltei e me tornei a primeira mulher a ganhar no grupo 1 no Brasil, que é o Grande Prêmio mais importante. Isso em 2010.”

Nesta roda gigante do turfe, ela sofreu outro acidente, e logo depois sua carreira titubeou por causa de problemas fora do turfe. “Mas acabei me reerguendo, tive novas oportunida­des e comecei a vencer novamente”, lembra Jeane. Em 2016 e 2017, ela até chegou a quebrar a clavícula em novo acidente, mas teve um período maravilhos­o e ganhou a estatístic­a no número de vitórias no Jockey de São Paulo.

Atrações. No evento de hoje, além de poder ver Jeane em ação, o público terá uma programaçã­o especial com atividades voltadas para as crianças e um festival de Food Trucks. É um programa para a família e Jeane sabe que lá no interior do Ceará terá uma torcida bastante especial por seu sucesso. “O pessoal já está acostumado comigo nas competiçõe­s. No começo era tudo novidade, mas hoje em dia já virou rotina. Claro que fica todo mundo feliz e quando vou para lá é sempre uma festa”, revela a joqueta.

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FOTOS: FELIPE RAU / ESTADÃO No páreo. Jeane vai correr duas provas
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Jeane Alves tem se destacado no turfe
Talento. Jeane Alves tem se destacado no turfe

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