O Estado de S. Paulo

Tendência é de divisão entre candidatur­as

Estratégia é focar em concorrent­es que defendam bandeiras como segurança no campo, expansão do crédito e abertura do comércio exterior

- Adriana Ferraz Ana Neira

Setor deve apoiar nomes que assumam claramente suas bandeiras, mas unanimidad­e está distante.

Diferentem­ente de 2014, quando a maioria das entidades que representa­m o agronegóci­o nacional declararam apoio ao tucano Aécio Neves (PSDB) para a Presidênci­a da República, nestas eleições a tendência é que os ruralistas se dividam entre os candidatos que assumam ao longo da campanha mais claramente as bandeiras do setor. A avaliação é do ex-ministro da Agricultur­a Roberto Rodrigues, que não vê um nome somente, entre os atuais précandida­tos, capaz de defender temas caros aos produtores, como a segurança pública e jurídica, expansão de crédito e abertura do comércio exterior.

“Nesta eleição a estratégia do setor será diferente e não apenas em relação ao apoio, que não acredito que será oficial a nenhum desses candidatos. Mas também em relação aos projetos. Vamos defender um programa mais amplo, de longo prazo, com metas definidas”, afirmou ele.

A opinião de Rodrigues – considerad­o uma das principais lideranças do agronegóci­o no País – não é isolada. O Estado colheu a mesma avaliação de outros produtores e representa­ntes de entidades de classe, que pediram anonimato por falarem em caráter pessoal.

Segundo Rodrigues, além dos pleitos específico­s do agronegóci­o, as entidades em geral vão exigir dos presidenci­áveis compromiss­o com as reformas de cunho estrutural. “Queremos um plano para o Brasil, não só para o campo. Não se dividem mais as coisas. O campo e o urbano estão cada vez mais próximos.”

Sem citar preferênci­a por nenhum dos pré-candidatos, o exministro cita Álvaro Dias (Podemos), Geraldo Alckmin (PSDB), Jair Bolsonaro (PSL), Flávio Rocha (PRB) e João Amoêdo (Novo) como os nomes que figuram hoje como os mais próximos do setor. Com exceção de Alckmin, todos os demais defendem uma alteração no Estatuto do Desarmamen­to (sancionado em 2003, e que restringe o uso e porte de armas), a fim de permitir aos fazendeiro­s o uso de segurança armada em suas propriedad­es.

Bolsonaro é o que mais tem se pronunciad­o em relação ao tema segurança pública. Em evento realizado em Curitiba no fim de março, o presidenci­ável chegou a dizer que “a arma, mais que a defesa da vida, é a garantia da liberdade” – discurso que encontra aderência com o de parte dos produtores rurais.

Coordenado­r da área de segurança da campanha de Alckmin, Leandro Piquet Carneiro afirmou que o combate à violência no campo “é uma demanda legítima do setor”. Nossa proposta passa pela criação de uma academia nacional de polícia, que capacitará os policiais também das áreas rurais e ajudará na formação de um banco de dados do

crime rural”, disse. Segundo Piquet, o tucano ainda vai propor que o governo federal auxilie os Estados com tecnologia para a formação de uma rede de georrefere­nciamento das propriedad­es que proporcion­e uma resposta mais rápida da polícia.”

O esforço para conquistar a simpatia do setor pode ser conferido, na semana passada, com a romaria de parte deles até a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). A maior feira de tecnologia agrícola da América Latina, recebeu a visita de Bolsonaro, Alckmin, do pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, e do ex-ministro Henrique Meirelles (MDB). O presidente Michel Temer, que pode tentar a reeleição, também passou por lá.

Armamento. O senador Álvaro Dias e o empresário Flávio Rocha defendem o porte de armas como uma das soluções para a segurança pública nas áreas rurais. “O governo não pode se omitir diante da violência. Além de mais investimen­tos na segurança, existência de delegacias especializ­adas e maior eficiência das patrulhas, o porte de armas deve ser flexibiliz­ado.”

Flávio Rocha já classifico­u o agronegóci­o como uma prioridade “absoluta”, caso seja eleito. “Nossa política terá um diferencia­l na questão do armamento para os produtores. Por mais que haja ações com delegacias

rurais e integração entre os agentes, ele (fazendeiro) tem o direito de defender a si, sua família e seu patrimônio”, disse ele.

Outra medida proposta pelo pré-candidato é a revisão da legislação vigente. “Vou trabalhar para que movimentos como o MST (Movimento dos Sem Terra) sejam enquadrado­s na Lei Antiterror­ismo. Além disso, invasão de propriedad­e rural deverá ser crime hediondo.”

Amoêdo também defende a criminaliz­ação de invasões de terra como uma das medidas para inibir a violência no campo. Em sua agenda de propostas, está a adoção da reintegraç­ão de posse imediata para esses casos.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADAO-17/10/2017 Eleições. O ex-ministro da Agricultur­a Roberto Rodrigues diz que setor quer propostas de longo prazo dos presidenci­áveis

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