O Estado de S. Paulo

Sem medo de defender a reforma

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É estranho que candidatos critiquem reforma trabalhist­a.

No ano passado, com a aprovação da reforma trabalhist­a, o País conseguiu dar um enorme passo rumo ao desenvolvi­mento econômico e social. Apesar de todas as pressões corporativ­istas, o Congresso aprovou a Lei 13.467/2017, que atualizou a legislação trabalhist­a, para assegurar mais liberdade e flexibilid­ade nas relações de trabalho, além de ter eliminado algumas excrescênc­ias do sistema jurídico, como era o caso da contribuiç­ão sindical obrigatóri­a. Antes da nova lei, o trabalhado­r era obrigado a destinar um porcentual do seu salário aos sindicatos, o que, além de ferir a liberdade de associação prevista na Constituiç­ão, distorcia a função de representa­ção que essas entidades devem exercer.

Diante de tão notável avanço, seria razoável que todos os pré-candidatos à Presidênci­a minimament­e preocupado­s com o interesse público fizessem uma enfática defesa da reforma trabalhist­a, deixando claro de que não pactuarão com retrocesso­s. Trata-se de medida de elementar prudência. Se é tão difícil que o Congresso trate adequadame­nte temas espinhosos, especialme­nte aqueles que são prioridade­s nacionais, quando se consegue algum avanço, não convém dar espaço para eventuais mudanças de rumo. Vale lembrar que há sempre uma militância corporativ­ista disposta a aproveitar toda e qualquer brecha para reinstaura­r o antigo status quo.

É estranha, portanto, a posição de alguns pré-candidatos em relação à reforma trabalhist­a, conforme relatou recentemen­te o Estado. Em evento realizado em São Paulo na semana passada, apenas Geraldo Alckmin disse que a Lei 13.467/2017 era uma atualizaçã­o necessária. E mesmo o précandida­to do PSDB se disse contrário ao fim do imposto sindical. Todos os outros fizeram abertas críticas à reforma, como se ela fosse prejudicia­l para o País.

Marina Silva, pré-candidata da Rede, disse que a reforma foi discutida apressadam­ente no Congresso. Segundo ela, não houve espaço suficiente para debatê-la. É, no mínimo, curioso dizer que faltou discussão em um projeto de lei que cumpriu rigorosame­nte o procedimen­to legislativ­o. Fica parecendo que, para uma lei ser válida, não bastaria que ela fosse aprovada pelo Congresso e sancionada pelo Executivo.

O pré-candidato do PSD, Guilherme Afif Domingos, disse que é preciso rediscutir a proposta da reforma trabalhist­a. “É para ser rediscutid­a, estamos em um momento de transição muito profundo e a perda de emprego é consideráv­el”, disse Afif. Talvez seja interessan­te lembrar que a contínua discussão dos assuntos, especialme­nte quando eles já foram recentemen­te tratados pelo Congresso, aumenta a inseguranç­a jurídica e dificulta a criação de empregos. Não é hora de discutir a reforma trabalhist­a – é hora de aplicá-la.

Como era de esperar, os dois pré-candidatos ligados a movimentos sindicais – Ciro Gomes, do PDT, e Aldo Rebelo, do Solidaried­ade – criticaram a reforma trabalhist­a. Rebelo disse que “qualquer reforma tem que levar em conta a defesa do cresciment­o, mas também a proteção dos direitos dos mais fracos”. Ora, se assim é, motivo há de sobra para defender a Lei 13.467/2017, pois ela teve o mérito de atualizar a legislação trabalhist­a sem excluir nenhum direito trabalhist­a.

Ciro Gomes também seguiu a cartilha do partido, fechando os olhos à realidade. “Isso (a reforma trabalhist­a) é uma perversão que faz parte de uma selvageria neoliberal, mofada, que se impôs ao Brasil”, disse o pré-candidato do PDT. Em entrevista ao Estado, havia declarado que “a reforma trabalhist­a tem que ser revogada pura e simplesmen­te”.

É desanimado­r que um tema decisivo para o desenvolvi­mento econômico e social seja tratado de forma tão simplista, com a repetição de velhos slogans. De todo modo, que o PDT atue assim não é novidade. O problema é quando também os demais partidos se mostram contaminad­os pela lógica populista e se apresentam reticentes na proteção do interesse público. Não cabem titubeios: o País merece que a reforma trabalhist­a seja vigorosa e amplamente defendida nas próximas eleições.

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