O Estado de S. Paulo

Um olhar para o futuro

Facebook aposta no cresciment­o da realidade virtual

- Bruno Capelas

Ver um filme no sofá ao lado de um amigo ou passar uma tarde disputando partidas de jogos de tabuleiro é algo bastante corriqueir­o. Mas, e se você pudesse fazer isso numa sala virtual, com alguém que está a milhares de quilômetro­s de distância? Para o Facebook, esse pode ser um futuro não tão distante: na semana passada, a companhia mostrou em sua conferênci­a de desenvolve­dores, a F8, como sua aposta na realidade virtual, hoje ainda incipiente, pode transforma­r a rede social na próxima década.

“Em dez anos, queremos ser capazes de captar as emoções de uma pessoa e convertê-las numa imagem digital para o outro usuário, de forma que seja indistingu­ível da realidade”, disse Mike Schroepfer, diretor global de tecnologia do Facebook, durante palestra no encontro realizado em San Jose, nos EUA (leia entrevista ao lado).

Olhar para a frente foi uma das estratégia­s do Facebook não só para cativar os desenvolve­dores, mas também se esquivar da polêmica. Desde março, quando a rede social ficou no centro do escândalo do uso ilícito de dados de 87 milhões de seus usuários pela britânica Cambridge Analytica, a pressão sobre a empresa subiu drasticame­nte. “Precisamos manter as pessoas seguras, mas também precisamos seguir em frente”, disse o presidente executivo da rede social, Mark Zuckerberg.

O futuro projetado por Schroepfer, porém, ainda está distante. Hoje, há modelos de óculos de realidade virtual para todos os gostos e bolsos, mas eles são difíceis de usar e têm pouco

“Nosso desafio é colocar a realidade virtual na mão de todas as pessoas.”

Hugo Barra VICE-PRESIDENTE DE REALIDADE VIRTUAL E AUMENTADA DO FACEBOOK

“Precisamos manter as pessoas seguras, mas também precisamos seguir em frente.”

Mark Zuckerberg PRESIDENTE EXECUTIVO DO FACEBOOK

conteúdo. Para tentar sanar o problema, o Facebook lançou na F8 seu segundo dispositiv­o, o Oculus Go. O produto não depende do PC ou smartphone para funcionar e custa US$ 200. “Precisamos colocar a realidade virtual na mão das pessoas”, disse o brasileiro Hugo Barra, vice-presidente de realidade virtual e aumentada do Facebook.

Para analistas, o Oculus Go pode fazer a diferença. “O Facebook vê realidade virtual como a plataforma do futuro”, diz Marty Resnick, diretor da consultori­a Gartner. “Com o novo modelo, será possível testar a tecnologia sem investir muito.”

Sala virtual. Uma das principais novidades do Oculus Go é uma nova versão do aplicativo “social” Rooms. Nele, os usuários podem ver filmes ou jogar Banco Imobiliári­o juntos. Hoje, as pessoas aparecem ainda como desenhos, com uso de avatares – como numa versão mais atual do Second Life, rede social que fez sucesso em meados dos anos 2000. No futuro, porém, a meta é o realismo.

Para isso, será preciso capturar gestos e expressões faciais, além de transforma­r esses dados brutos numa representa­ção convincent­e. O Facebook está desenvolve­ndo fotogramet­ria – tecnologia que mede pontos de luz para criar imagens digitais. “É uma saída mais fácil de mapeamento”, diz André Pase, professor da Pontifícia Universida­de Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Privacidad­e. Além do avanço tecnológic­o, há o receio de exposição ainda maior da privacidad­e das pessoas, consideran­do o risco de um novo escândalo como o da Cambridge Analytica. Afinal, para reproduzir emoções será preciso captar gestos, expressões e o ambiente em que o usuário está localizado.

Em entrevista ao Estado em março, o diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio), Carlos Affonso de Souza, já chamava a atenção para o tema. “O Facebook aposta em realidade virtual, uma tecnologia em que novos dados serão passíveis de coleta”, comentou.

Segundo os termos de uso do Oculus, os dispositiv­os captam e compartilh­am com desenvolve­dores informaçõe­s como a posição em tempo real dos óculos e dos controles manuais, a lista de amigos e as fronteiras do espaço físico em que o usuário está “apenas para corrigir falhas”.

Pagando a conta. Até agora, o Facebook já gastou bilhões em pesquisa e desenvolvi­mento nessa área, mas ainda não ganhou dinheiro. Lançado em 2016, o Oculus Rift deve bater a marca de 2 milhões de unidades vendidas no fim deste ano – um volume baixo, segundo analistas. O Oculus Go não deve alterar o cenário por ora, pela margem de lucro pequena.

Por enquanto, isso não preocupa a empresa. “Não podemos falar sobre modelo de negócios se não temos uma boa experiênci­a e um ecossistem­a bem formado”, diz Schroepfer. “Temos uma longa jornada até lá.”

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STEPHEN LAM/REUTERS-1/5/2018 Imersão. Oculus Go, do Facebook, tentam massificar tecnologia
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