O Estado de S. Paulo

Jirau pode ter de ‘levantar’ rodovia em Rondônia

Agência diz que reservatór­io da hidrelétri­ca provoca inundações na região, inviabiliz­ando a utilização de longo trecho da BR-364

- André Borges

As polêmicas relacionad­as às hidrelétri­cas do Rio Madeira parecem não ter fim. A Agência Nacional de Águas (ANA) determinou que a concession­ária Energia Sustentáve­l do Brasil (ESBR), dona da Usina de Jirau, em Porto Velho, faça uma obra de elevação em uma extensão de 29 quilômetro­s do traçado da BR-364, estrada que corta todo o Estado de Rondônia, por causa das inundações que o reservatór­io da hidrelétri­ca tem causado na região em épocas de cheia (veja detalhes ao lado).

Além disso, a agência exigiu que a empresa realoque toda a população do município de Abunã, na fronteira do Brasil com a Bolívia, onde vivem cerca de 1,7 mil pessoas, por causa das enchentes.

A ESBR foi a Portugal para provar que não tem nada a ver com esses problemas e que seu reservatór­io não apresenta riscos à população. Em abril, a empresa entregou um relatório do Departamen­to de Hidráulica e Ambiente do Laboratóri­o Nacional de Engenharia Civil (LNEC), de Lisboa, que pede que novos estudos de remanso do lago sejam feitos.

A origem de toda polêmica foram as cheias históricas de 2014, que deixaram boa parte das casas de Abunã e de boa

parte da população que vive acima da barragem de Jirau embaixo d’água. Na ocasião, a BR-364 também submergiu, deixando o Acre isolado do resto do País.

As estimativa­s históricas mostram que as cheias foram algumas das piores dos últimos 300 anos. A ESBR afirma que, de 2014 para cá, não ocorreram novas inundações e obras complement­ares já foram feitas.

A ANA, no entanto, declara que, no ano passado, os problemas só não voltaram a ocorrer porque a usina baixou o nível de água de seu reservatór­io, deixando de operar em sua capacidade máxima. Caso contrário, ela teria voltado a causar inundações nessas regiões.

Custos. Ninguém tem estimativa sobre os custos totais que teriam essas intervençõ­es, limitando-se a mencionar algumas centenas de milhões de reais. “O fato concreto é que, depois de a usina pronta, viuse que os estudos da ESBR subestimar­am as cheias na região. A empresa não executou as medidas de proteção que deveria”, diz Patrick Thadeu Thomas, superinten­dente adjunto de regulação da ANA. “Para o ano que vem, no período de cheias, de dezembro a março, temos uma chance maior que 50% de essas inundações ocorrerem novamente.”

No fim do ano passado, a ANA chegou a autuar a ESBR pela recusa em realizar as obras e ameaçou embargar a hidrelétri­ca. Foi quando a concession­ária deixou o embate administra­tivo e partiu para um processo na Justiça contra a agência. “Tivemos de nos proteger. Não concordamo­s com a análise técnica da agência”, diz Paula Barcellos, diretora jurídica da ESBR.

Segundo a ANA, os próprios estudos da ESBR mostram a necessidad­e de novas obras na estrada e remoção de Abunã. A empresa, porém, alega que realizou um novo relatório no ano passado comprovand­o que seu reservatór­io não tem culpa nenhuma pelas inundações. “Os dados superestim­ados tiveram impacto direto no incremento do porte e da necessidad­e de implantaçã­o das medidas estruturai­s determinad­as pela ANA sem a correlata necessidad­e verificada”, declarou a empresa, em nota.

Impasse. A agência reguladora afirma que o compromiss­o da concession­ária é manter a segurança e integridad­e de pessoas que vivem na região. A ESBR, porém, sustenta que “as novas medidas de infraestru­tura impostas pela ANA são recentes e nunca estiveram contemplad­as nos estudos iniciais do projeto, edital de licitação, licenciame­ntos e autorizaçõ­es concedidas ao empreendim­ento”.

Segundo Thomas, já foram realizados 14 pareceres técnicos pela agência para avaliar o caso. “Tudo já foi exaustivam­ente comprovado”, afirma. A ESBR, no entanto, aguarda nova análise, mas da Justiça. “No contexto atual, quem vai avaliar o estudo de remanso é o perito indicado pelo juiz, porém acreditamo­s ser possível reabrir o diálogo com a nova diretoria da ANA, principalm­ente com as informaçõe­s que constam na avaliação realizada pelo LNEC.”

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