O Estado de S. Paulo

Relação da rede com desenvolve­dores passa longe da crise

Empresa espantou receio de que poderia ter fuga de parceiros; discursos em prol de ‘coisas novas’ fortalecer­am vínculo

- O REPÓRTER VIAJOU A SAN JOSÉ (EUA) A CONVITE DO FACEBOOK

O Facebook viveu um clima de “lua de mel” com os desenvolve­dores de aplicativo­s em seu primeiro grande evento público desde o começo do escândalo da Cambridge Analytica. Na conferênci­a voltada justamente às companhias e startups que criam aplicativo­s baseados na plataforma, o que se viu foi um clima de confiança mútuo entre as partes, muito mais focado em pensar o futuro do que no presente conturbado.

Não era o esperado: desde o início da polêmica da Cambridge Analytica, na metade de março, o Facebook aumentou as restrições para desenvolve­dores coletarem e usarem dados de seus usuários, e chegou até a suspender, por algumas semanas, a aprovação de novas versões de aplicativo­s e jogos. Foi uma estratégia arriscada: a rede social depende dos desenvolve­dores para manter a atenção dos usuários na plataforma; por outro lado, os parceiros também precisam do Facebook para chegar ao seu público-alvo.

“Muitos desenvolve­dores ficaram bravos quando seus aplicativo­s pararam de funcionar por algumas semanas só porque o Facebook mudou as regras”, diz Juan Pablo Ortega, gerente-geral

da startup colombiana Rappi no México.

Alguns desenvolve­dores chegaram até a corrigir a rota de desenvolvi­mento de produtos após o escândalo. André Penha, cofundador da startup brasileira Quinto Andar, que intermedei­a a relação entre proprietár­ios de imóveis e inquilinos residencia­is, colocou um freio nos planos de pedir aos usuários para utilizar dados do Facebook para análise de crédito. “É algo que pode substituir o pedido para ver o imposto de renda do usuário, mas que decidimos postergar”, diz o executivo.

Na F8, o momento mais aplaudido do discurso de abertura feito por Mark Zuckerberg foi quando ele anunciou à comunidade presente que as revisões de novos aplicativo­s estavam novamente disponívei­s – mais até do que quando disse que todos ganhariam óculos de realidade virtual novos. “Estamos reabrindo esse processo para que vocês todos possam seguir em frente e criar coisas novas”, disse o executivo, sob gritos da plateia, composta por milhares de pessoas – a maioria delas pagou um ingresso de US$ 595 para participar do evento.

Elogios. A postura de Zuckerberg na conferênci­a, buscando mirar o futuro, foi elogiada por desenvolve­dores. “Gostei da postura dele de querer continuar construind­o coisas novas. Ele não empurrou a sujeira para debaixo do tapete e falou dos problemas, mas olhou para o futuro”, disse Eduardo Henrique, cofundador e diretor de novos negócios da Movile, dona de apps como iFood e Playkids.

Para ele, o caso da Cambridge Analytica serviu como aprendizad­o para todos. “Proteção de dados é um tema que precisa estar na nossa pauta”, diz. “Por outro lado, gosto de pensar que é impossível a inovação acontecer se não estivermos dispostos a correr riscos, errar e dar passos atrás para corrigi-los.”.

 ?? QUINTO ANDAR ?? Precaução. André Penha, do Quinto Andar, adiou os planos de usar dados do Facebook
QUINTO ANDAR Precaução. André Penha, do Quinto Andar, adiou os planos de usar dados do Facebook

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