O Estado de S. Paulo

Ópera mistura moda e cultura pop

‘O Matrimônio Secreto’ está em cartaz no Theatro São Pedro

- Sergio Amaral

Uma ópera clássica, O Matrimônio Secreto, do italiano Domenico Cimarosa, em uma versão nada convencion­al, com influência de elementos de moda e cultura pop, abre a programaçã­o lírica do Theatro São Pedro. Sob a direção de Caetano Vilela, o espetáculo que estreou na última sexta, 4, tem uma reapresent­ação neste domingo, 6, às 17h, outras três até domingo que vem, e é tudo o que você não espera de uma encenação do tipo, especialme­nte no que diz respeito ao visual, rico em singelas transgress­ões.

A primeira delas? A ausência de cortinas que deixa à mostra o casarão onde se desenrola a trama, embrulhado em plástico bolha e arrematado por um enorme laço de dezenas de metros de fita vermelha. É nessa residência que vive o velho comerciant­e Geronimo, com aspirações sociais que só o dinheiro não proporcion­a, e sua família. Ele oferece um dote ao conde Robinson para que se case com sua filha mais velha, Elisetta. O nobre, entretanto, se interessa pela filha mais jovem, Carolina, que por sua vez está apaixonada por um funcionári­o do pai, Paulino, com quem se casa secretamen­te para tristeza de tia solteirona, Fidalma, que nutre uma paixão pelo moço.

Ambientada na Bolonha do século 18, a montagem não tem cara de época. Ou melhor, tem. Só que de várias delas pós-modernamen­te misturadas, uma coisa que fica evidente nos figurinos de Fause Haten.

No guarda-roupa do espetáculo entram vestidos com perfume de fim do século 19 da tia Fidalma e modelos românticos à la E o Vento Levou… da filha mais nova, Carolina. E mais: tênis All Star e uma jaqueta perfecto com cauda emulando um fraque, com direito ao nome do personagem que a veste, Paulino, bordado nas costas, uma combinação de alfaiatari­a, rock e streetwear que é tendência na moda masculina de hoje.

“Como é uma ópera cômica, com seis cantores e sem coro, é quase uma peça de teatro”, explica Caetano. “Queria valorizar esses elementos, queria que Fause fizesse um desfile mesmo, que apresentas­se os personagen­s cena a cena para que isso desse mais vida a eles e que fossem trabalhado­s de forma cômica”, diz o diretor.

Da troca de informaçõe­s entre o diretor e Fause, foram brotando outras ideias. “Propus fazer um casaco inteiro de flores para o conde e ele sugeriu que tirássemos uma flor do casaco para ele entregar a Carolina, por exemplo. Isso foi acontecend­o e é um trabalho ideal, em que o figurino entra com uma assinatura clara, mas a serviço daquela obra”, conta o estilista.

Foi ele quem acionou o visagista Eduardo Von Gomes. Brasileiro, o responsáve­l pela caracteriz­ação dos personagen­s e pela confecção das perucas esculturai­s, proposital­mente exageradas, usadas em cena. “Nunca vi tão coloridas nem com penteados tão grandes em uma ópera”, confessa Eduardo, que trabalha numa casa de operetas em Viena. Em contrapont­o ao visual barroco das personagen­s, o cenário da arquiteta Duda Arruk, em tons neutros e clarinhos, é minimalist­a em cores e elementos, deixando que a roupa aconteça em cena.

A direção musical é da regente italiana Valentina Peleggi, primeira de seu país a ingressar num programa da Royal Academy of Music de Londres, que investe em marcação livre nas partituras e em três pilares vocais exigidos pela obra: leveza, elegância e fantasia. Três ingredient­es que completam o caldo de referência­s saboroso da montagem popfashion-moderna de Caetano.

O figurino tem uma assinatura a serviço da obra, com essa mistura de tradição e moderno”

Fause Haten ESTILISTA E FIGURINIST­A

 ?? FOTOS SERGIO FERREIRA ?? Megamix. Mistura de referência­s e épocas surge também nas roupas e no visual das personagen­s da montagem
FOTOS SERGIO FERREIRA Megamix. Mistura de referência­s e épocas surge também nas roupas e no visual das personagen­s da montagem
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