O Estado de S. Paulo

Para matar aquela ‘Saudade da Boa’

CD duplo com canções inéditas do compositor pernambuca­no Accioly Neto vai ser lançado até o fim do ano

- Paulo Favero

Compositor de mão cheia, Accioly Neto conseguiu expressar os sentimento­s do coração em forma de música como poucos. Mostrou que Saudade da Boa, uma de suas mais famosas canções, é aquela que traz a lembrança de um beijo, de um abraço, de uma noite que fica para sempre na memória. Também se especializ­ou em sucessos com diversos xotes, daqueles para dançar agarradinh­o.

Além das letras que tocam a alma, ele conseguiu unir melodias agradáveis, daquelas que grudam na cabeça e você fica por aí cantarolan­do sem perceber. Espumas ao Vento, eternizada na voz de Fagner, talvez seja o melhor exemplo do trabalho desse artista, que morreu em 2000 e receberá uma homenagem em forma de CD duplo.

“Eu e minha mãe sempre mantivemos a obra dele ativa. Temos contato com os artistas, pois ela também é produtora cultural. Então meu pai continuou sendo gravado, fez parte de trilha sonora de filmes e foi gravado por artistas nacionais. Mas a gente queria fazer algo que fosse uma homenagem”, contou ao Estado Talitha Accioly, filha do compositor.

No início do ano passado, em um show no Teatro de Santa Isabel, no Recife, a fagulha foi novamente acesa. O projeto do CD já existia, mas a família ainda buscava formas de viabilizar a empreitada. Até que ele foi aceito e aprovado pelo Funcultura, de Pernambuco. No final do ano passado veio o sinal verde para o novo disco.

“Já temos os nomes dos artistas, serão 30. Estávamos prevendo 20 músicas, mas não conseguimo­s nos ater a esse número, até porque é uma obra muito vasta, incluindo coisas inéditas e mais antigas. A gente resolveu juntar o maior grupo de pessoas que têm reconhecim­ento nacional e conhecem a obra dele, como de pessoas que estão começando a ter um nome e que fazem uma música totalmente diferente”, disse Talitha.

Grandes parceiros de Accioly Neto estarão presentes no álbum, como Fagner, Maciel Melo, Petrúcio Amorim e Santanna o Cantador. Outros nomes conhecidos da música brasileira são Chico César, Zeca Baleiro, Elba Ramalho, Zélia Duncan, Mariana Aydar e Lucy Alves. E a homenagem trará alguns jovens artistas pernambuca­nos, como Almério, Flaira Ferro e Ylana Queiroga.

O músico e compositor André Macambira será o diretor musical do projeto enquanto Talitha está cuidando da produção e coordenaçã­o executiva. Sua mãe, Tereza Accioly, é a consultora enquanto os principais arranjador­es são Juliano Holanda, Renato Bandeira, Júlio Cesar Mendes e Yuri Queiroga. “Teremos algumas músicas inéditas, muita música conhecida, inclusive com artistas inusitados para aquela música. O CD terá gravações desconheci­das e tem coisa do primeiro LP que ele lançou, de 1981, que o público em geral não conhece. Vamos começar a gravar em breve e sairá pelo Incentivo Cultural do Funcultura”, explicou.

O talento das composiçõe­s de Accioly Neto foi reconhecid­o por dezenas de grupos e cantores. Fagner gravou Espumas ao Vento, que também fez parte da trilha sonora do filme Lisbela e o Prisioneir­o. Também cantou Lembrança de um Beijo e muitas outras. Quem também escolheu uma composição do pernambuca­no de Goiana foi o grupo de forró Falamansa, que gravou Minha Gata em seu disco de maior sucesso.

Jessé, outro que se rendeu às letras românticas de Accioly Neto, ganhou fama ao cantar Paraíso das Hienas. E Flávio José, em sua interpreta­ção de A Natureza das Coisas, também cantou os versos do compositor, que tinha a capacidade de usar uma linguagem bastante popular com palavras mais “clássicas”.

Accioly Neto, inspirado poeta popular, autor de um caminhão de sucessos na voz de artistas de diferentes estilos: fui um deles” Fagner

Estou realmente muito feliz e honrada em participar dessa justa homenagem para um dos compositor­es que mais me inspiraram” Mariana Aydar

Sou fã do Accioly, desde quando o vi no Festival da Globo cantando ‘No Nosso É Refresco’. Depois, passei a acompanhar sua carreira” Zeca Baleiro

“Em 29 de outubro vai fazer 18 anos que meu pai faleceu. Uma caracterís­tica dele foi estar antenado com o mundo, bem informado. E o amor não tem época. A música pode ser de 1978, mas até hoje se mantém atual na temática. É inevitável que as canções dele se mantenham”, afirmou Talitha, que corre para tirar esse material do forno. “Eu tenho um prazo para entregar o projeto pronto do CD e prestar contas até o final do ano. Estamos tentando manter esse cronograma. Gostaria de fazer um lançamento com um show em janeiro.”

 ?? MACAMBA ?? No forno. Talitha Accioly está preparando um CD em homenagem ao seu pai
MACAMBA No forno. Talitha Accioly está preparando um CD em homenagem ao seu pai

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil