Conversa com o CEO
Executivo afirma que o profissional antenado com o dia a dia da empresa, que conhece os projetos e entende o cliente é mais eficiente
“Acordo de manhã e penso o que posso fazer lá na empresa para que realmente demonstre diferença. É um exercício diário conseguir fazer algo diferente, conseguir ser mais produtivo, produzir mais no mesmo período de tempo”, afirma José Geraldo Ortigosa, CEO da ValeCard, empresa de meios de pagamentos e gerenciamento de frota.
José Geraldo Ortigosa, CEO da ValeCard
Formado em análise de sistemas e em ciências da computação, o executivo José Geraldo Ortigosa (foto) teve apenas uma pequena experiência na área e logo foi para o agronegócio. “Fiquei 15 anos na Usina da Barra, Grupo Ometto, passei pela União, União Coopersucar, que foi onde eu cheguei a uma carreira de executivo”, conta. Depois, foi para a Algar Telecom, onde foi diretor de tecnologia. Em seguida, migrou para a holding da Algar, em Uberlândia, e de lá, para a Brasil Telecom. “Fiquei em Brasília por um tempo e conduzi a fusão da parte de tecnologia entre a Brasil Telecom e a Oi, quando a Oi comprou a BT. Acabei indo para o Rio de Janeiro e fiquei uns três anos e meio na Oi.” A volta para Uberlândia ocorreu depois de a família decidir deixar a capital fluminense. Na cidade mineira, há sete anos entrou para o conselho da ValeCard, empresa de meios de pagamentos e gerenciamento de frota, e há 4 anos, tornou-se o CEO da companhia, que possui mil funcionários e oferece serviços como cartão alimentação e refeição, cartão combustível e gestão de frotas. Segundo Ortigosa, a previsão é fechar o ano com faturamento de R$ 3 bilhões. A seguir, trechos da conversa.
• Você foi do agronegócio para no setor de telecomunicações e depois para serviços. Como foram as transições?
Eu acho que eu tive a vantagem de ter atingido minha maturidade profissional cedo, de certa maneira, já no agrobusiness. Acho que é um ponto interessante, quando você começa a buscar uma visão mais corporativa, é importante quando você decide ir para a área estratégica. Mas agora são outros desafios, tem de lidar com gente, com negócios, com concorrência. Então, o nível de decisão que você tem é diferente.
• Como foram as adaptações?
Eu lembro bem, acho que foi um ponto de ruptura, eu consegui me adaptar rapidamente a uma empresa de alta tecnologia, de telecom. Participei de todo aquele movimento de abertura das telecomunicações no Brasil. Eu tinha de entender de política, de telecom, de TI e de negócios. E tive oportunidade de trazer muitas inovações para o Brasil. Com tudo isso, eu fui incrementando esse meu lado de negócios. Quando decidi voltar para Uberlândia, pensei que já sabia bastante coisa de agrobusiness e de telecom e que um desafio na área financeira seria interessante. Foi por isso que escolhi vir trabalhar aqui, para conhecer a área financeira, de meios de pagamentos. O risco era maior, mas fiz uma opção pessoal de ir para uma área que me desafiava muito.
• O executivo precisa estar sempre se desafiando?
Ficando na área de conforto, ele pode, por exemplo, ficar cada vez mais especializado e conseguir contribuir positivamente. Não vejo nenhum problema em relação às pessoas que fazem essa opção. Mas eu gosto de mudar. Acho que isso faz parte das minhas características.
• Qual é sua marca como gestor?
Acho que sempre temos a oportunidade de sermos mais produtivos. Acordo de manhã e penso o que posso fazer lá na empresa para que realmente demonstre diferença. É um exercício diário conseguir fazer algo diferente, conseguir ser mais produtivo, produzir mais no mesmo período de tempo.
• Você cobra muito os seus colaboradores?
Quando eu monto minha equipe, busco pessoas diferentes, com habilidades diferentes. A equipe diretamente ligada é de dez pessoas. A cobrança é para a equipe, não individual. Porque, se eu cobrar apenas uma pessoa – talvez a competência, a qualificação dela, não consiga dar resposta para aquilo que estou precisando –, aí o problema é de um dos dez, então dez problemas serão meus.
• Para trabalhar com você, então, precisa ser flexível e interessado?
Interessado é uma palavra bacana – tem muito a ver com o que eu cobro. Eu gosto de profissional que está antenado com a empresa, sabe dos projetos, entende dos clientes. Que não seja do tipo que, quando você faz uma pergunta, ele responde ‘eu vou lá consultar meu computador, minhas planilhas’, porque isso, para mim, parece que ele não participa do que está acontecendo na empresa. Eu acho que a pessoa que está envolvida com o dia a dia acaba sendo mais produtiva, consegue ter discernimento entre o que é urgente, o que é importante, o que tem de ser entregue.
• Você passou por alguma reciclagem? Fez algum curso?
Com o tempo que você vai ficando no mercado, você vai fazendo todos os melhores cursos. Eu fiz pós em Harvard, algumas coisas em Cambridge, participo de algumas feiras no exterior para me atualizar. Busco alguns cursos diferentes para abrir a mente. Mas o que eu diria é que hoje o que existe é ser autodidata.
• Por quê?
Hoje, se tem acesso a qualquer informação. Um exemplo: eu tive de aprender sobre mercado público, que é importante aqui para a empresa. Para aprender sobre as leis, os processos, como funciona o setor , tem de estudar porque é muito complexo, é preciso acompanhar a mudança. Então, ser autodidata é pesquisar, e sabendo pesquisar se encontra de tudo, com ou sem qualidade. Eu fui muito mais autodidata para entender o mercado de meios de pagamento. Assim, consegui me atualizar.
• Que dicas você pode dar para quem está entrando no mercado de trabalho?
Em qualquer empresa, se o dono pudesse vender, comprar, cobrar, produzir, emitir o faturamento, ele faria tudo e entregaria o produto. Como não consegue fazer isso, coloca representantes para esse fim. E são basicamente esses jovens que estão chegando ao mercado que acabam sendo representantes dele. E para representar o dono você tem de pensar como dono: como você vai fazer para seu processo ser mais eficiente, com mais qualidade, com fluxo menor? É isso o que o dono pensa. Então, quem for entrar no mercado de trabalho vai ter esse desafio de ser dono daquela ação, daquele pedaço que ele está assumindo a responsabilidade em uma empresa. Mas também há o lado do empreendedorismo, conseguir ser empreendedor no que se faz. Para isso, tem de ser sempre um inconformado.
“Para representar o dono você tem de pensar como dono: como você vai fazer para seu processo ser mais eficiente, com mais qualidade, com fluxo menor? É isso o que o dono pensa”