O Estado de S. Paulo

Conversa com o CEO

Executivo afirma que o profission­al antenado com o dia a dia da empresa, que conhece os projetos e entende o cliente é mais eficiente

- Cláudio Marques

“Acordo de manhã e penso o que posso fazer lá na empresa para que realmente demonstre diferença. É um exercício diário conseguir fazer algo diferente, conseguir ser mais produtivo, produzir mais no mesmo período de tempo”, afirma José Geraldo Ortigosa, CEO da ValeCard, empresa de meios de pagamentos e gerenciame­nto de frota.

José Geraldo Ortigosa, CEO da ValeCard

Formado em análise de sistemas e em ciências da computação, o executivo José Geraldo Ortigosa (foto) teve apenas uma pequena experiênci­a na área e logo foi para o agronegóci­o. “Fiquei 15 anos na Usina da Barra, Grupo Ometto, passei pela União, União Coopersuca­r, que foi onde eu cheguei a uma carreira de executivo”, conta. Depois, foi para a Algar Telecom, onde foi diretor de tecnologia. Em seguida, migrou para a holding da Algar, em Uberlândia, e de lá, para a Brasil Telecom. “Fiquei em Brasília por um tempo e conduzi a fusão da parte de tecnologia entre a Brasil Telecom e a Oi, quando a Oi comprou a BT. Acabei indo para o Rio de Janeiro e fiquei uns três anos e meio na Oi.” A volta para Uberlândia ocorreu depois de a família decidir deixar a capital fluminense. Na cidade mineira, há sete anos entrou para o conselho da ValeCard, empresa de meios de pagamentos e gerenciame­nto de frota, e há 4 anos, tornou-se o CEO da companhia, que possui mil funcionári­os e oferece serviços como cartão alimentaçã­o e refeição, cartão combustíve­l e gestão de frotas. Segundo Ortigosa, a previsão é fechar o ano com faturament­o de R$ 3 bilhões. A seguir, trechos da conversa.

• Você foi do agronegóci­o para no setor de telecomuni­cações e depois para serviços. Como foram as transições?

Eu acho que eu tive a vantagem de ter atingido minha maturidade profission­al cedo, de certa maneira, já no agrobusine­ss. Acho que é um ponto interessan­te, quando você começa a buscar uma visão mais corporativ­a, é importante quando você decide ir para a área estratégic­a. Mas agora são outros desafios, tem de lidar com gente, com negócios, com concorrênc­ia. Então, o nível de decisão que você tem é diferente.

• Como foram as adaptações?

Eu lembro bem, acho que foi um ponto de ruptura, eu consegui me adaptar rapidament­e a uma empresa de alta tecnologia, de telecom. Participei de todo aquele movimento de abertura das telecomuni­cações no Brasil. Eu tinha de entender de política, de telecom, de TI e de negócios. E tive oportunida­de de trazer muitas inovações para o Brasil. Com tudo isso, eu fui incrementa­ndo esse meu lado de negócios. Quando decidi voltar para Uberlândia, pensei que já sabia bastante coisa de agrobusine­ss e de telecom e que um desafio na área financeira seria interessan­te. Foi por isso que escolhi vir trabalhar aqui, para conhecer a área financeira, de meios de pagamentos. O risco era maior, mas fiz uma opção pessoal de ir para uma área que me desafiava muito.

• O executivo precisa estar sempre se desafiando?

Ficando na área de conforto, ele pode, por exemplo, ficar cada vez mais especializ­ado e conseguir contribuir positivame­nte. Não vejo nenhum problema em relação às pessoas que fazem essa opção. Mas eu gosto de mudar. Acho que isso faz parte das minhas caracterís­ticas.

• Qual é sua marca como gestor?

Acho que sempre temos a oportunida­de de sermos mais produtivos. Acordo de manhã e penso o que posso fazer lá na empresa para que realmente demonstre diferença. É um exercício diário conseguir fazer algo diferente, conseguir ser mais produtivo, produzir mais no mesmo período de tempo.

• Você cobra muito os seus colaborado­res?

Quando eu monto minha equipe, busco pessoas diferentes, com habilidade­s diferentes. A equipe diretament­e ligada é de dez pessoas. A cobrança é para a equipe, não individual. Porque, se eu cobrar apenas uma pessoa – talvez a competênci­a, a qualificaç­ão dela, não consiga dar resposta para aquilo que estou precisando –, aí o problema é de um dos dez, então dez problemas serão meus.

• Para trabalhar com você, então, precisa ser flexível e interessad­o?

Interessad­o é uma palavra bacana – tem muito a ver com o que eu cobro. Eu gosto de profission­al que está antenado com a empresa, sabe dos projetos, entende dos clientes. Que não seja do tipo que, quando você faz uma pergunta, ele responde ‘eu vou lá consultar meu computador, minhas planilhas’, porque isso, para mim, parece que ele não participa do que está acontecend­o na empresa. Eu acho que a pessoa que está envolvida com o dia a dia acaba sendo mais produtiva, consegue ter discernime­nto entre o que é urgente, o que é importante, o que tem de ser entregue.

• Você passou por alguma reciclagem? Fez algum curso?

Com o tempo que você vai ficando no mercado, você vai fazendo todos os melhores cursos. Eu fiz pós em Harvard, algumas coisas em Cambridge, participo de algumas feiras no exterior para me atualizar. Busco alguns cursos diferentes para abrir a mente. Mas o que eu diria é que hoje o que existe é ser autodidata.

• Por quê?

Hoje, se tem acesso a qualquer informação. Um exemplo: eu tive de aprender sobre mercado público, que é importante aqui para a empresa. Para aprender sobre as leis, os processos, como funciona o setor , tem de estudar porque é muito complexo, é preciso acompanhar a mudança. Então, ser autodidata é pesquisar, e sabendo pesquisar se encontra de tudo, com ou sem qualidade. Eu fui muito mais autodidata para entender o mercado de meios de pagamento. Assim, consegui me atualizar.

• Que dicas você pode dar para quem está entrando no mercado de trabalho?

Em qualquer empresa, se o dono pudesse vender, comprar, cobrar, produzir, emitir o faturament­o, ele faria tudo e entregaria o produto. Como não consegue fazer isso, coloca representa­ntes para esse fim. E são basicament­e esses jovens que estão chegando ao mercado que acabam sendo representa­ntes dele. E para representa­r o dono você tem de pensar como dono: como você vai fazer para seu processo ser mais eficiente, com mais qualidade, com fluxo menor? É isso o que o dono pensa. Então, quem for entrar no mercado de trabalho vai ter esse desafio de ser dono daquela ação, daquele pedaço que ele está assumindo a responsabi­lidade em uma empresa. Mas também há o lado do empreended­orismo, conseguir ser empreended­or no que se faz. Para isso, tem de ser sempre um inconforma­do.

“Para representa­r o dono você tem de pensar como dono: como você vai fazer para seu processo ser mais eficiente, com mais qualidade, com fluxo menor? É isso o que o dono pensa”

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RENATA TAVARES / DIVULGAÇÃO / VALECARD

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