O Estado de S. Paulo

Brasil quer punir empresas que subornem no exterior

Rede de colaboraçã­o está sendo formada com países da América Latina para investigar crimes transnacio­nais

- Felipe Frazão / BRASÍLIA

O Ministério da Transparên­cia e Controlado­ria-Geral da União (CGU) está montando uma rede de colaboraçã­o internacio­nal para investigar e punir empresas brasileira­s ou com presença no País que são suspeitas ou condenadas por corromper funcionári­os públicos no exterior. O Ministério já firmou parcerias com outros órgãos de controle do governo e países da América Latina, como a Colômbia, para receber notificaçõ­es de escândalos chamados de suborno transnacio­nal. O envio dos dados pode levar à abertura de processos administra­tivos de responsabi­lização, com punições que incluem multas de até 20% do faturament­o bruto e veto à celebração de contratos. No mês passado, a Anvisa assinou acordo com a CGU para troca de dados. Parceria também deve ser formalizad­a com o Cade. Há conversas com bancos públicos, CVM e ministério­s ligados à exportação.

O Ministério da Transparên­cia e Controlado­ria-Geral da União (CGU) começou a montar uma rede de colaboraçã­o internacio­nal para investigar e punir empresas brasileira­s ou com presença no País que são suspeitas ou condenadas por corromper funcionári­os públicos no exterior, o chamado suborno transnacio­nal. O ministério já firmou parcerias com outros órgãos de controle do governo federal e países da América Latina, como a Colômbia, para receber notificaçõ­es de escândalos.

O envio dos dados pode levar à abertura de processos administra­tivos de responsabi­lização, com punições que incluem multas de até 20% do faturament­o bruto e veto à celebração de contratos com órgãos públicos federais.

Atualmente, correm de forma sigilosa na CGU três investigaç­ões preliminar­es sobre corrupção de agentes públicos estrangeir­os. Outros 14 casos estão em análise na Corregedor­iaGeral da União, ainda sem investigaç­ão aberta. As apurações precedem os acordos bilaterais e com outros órgãos federais e foram abertas em 2017. Também já foram notificado­s casos em propostas de acordo de leniência, ainda em negociação.

No mês passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) assinou acordo com a CGU para troca de dados. O próximo órgão brasileiro a formalizar a parceria deve ser o Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade), que já tem memorandos prontos. Também há conversas com bancos públicos, com a Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM) e ministério­s ligados à exportação, como o da Agricultur­a e o da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

O memorando com a Colômbia foi assinado em fevereiro, envolvendo a Superinten­dência de Sociedades, ligada ao Ministério de Comércio, Indústria e Turismo do país. Ele prevê uma metodologi­a para “pedidos de assistênci­a” e entrega de informaçõe­s. O acordo não cria obrigações de colaboraçã­o, mas o país que negar a entrega dos dados deve justificar o motivo.

Ainda em âmbito internacio­nal, estão no radar Chile, Peru e México – cujas tratativas para acordos bilaterais já foram iniciadas. Auditores envolvidos na montagem da rede, idealizada no ano passado e uma das prioridade­s do ministério, já visitaram o Organismo Europeu de Luta Antifraude (Olaf), na Bélgica, e a Europol, na Holanda.

Os países europeus são considerad­os

fundamenta­is porque diversos financiame­ntos internacio­nais de empresas brasileira­s são comunicado­s a esses órgãos. Também está prevista uma visita para negociaçõe­s nos Estados Unidos. A CGU busca colaboraçã­o da Comissão de Títulos e Câmbio americana, do FBI e do Departamen­to de Justiça.

Legislação. A lei anticorrup­ção, de 2013, deu competênci­a à CGU para apurar, processar e julgar casos envolvendo agentes públicos de outros países. Desde então, porém, a CGU enfrenta dificuldad­es para obter compartilh­amento de dados pelo Ministério Público, à frente de escândalos de repercussã­o

global, como a Operação Lava Jato, e até mesmo para tomar ciência dos casos e pedir a colaboraçã­o internacio­nal. Neste caso, o compartilh­amento de provas tem de ser feito por meio do Ministério da Justiça e do Itamaraty, numa segunda etapa da apuração.

Atualmente advogando em um escritório especializ­ado em compliance, o ex-ministro da CGU Jorge Hage afirmou que o órgão sempre enfrentou dificuldad­es em intercâmbi­o de informaçõe­s. “Lembro que tivemos enormes dificuldad­es, por exemplo, no caso da SBM, para obter as informaçõe­s da Holanda, que alegava que o país só tinha, com o Brasil, um tratado para troca de informaçõe­s para

processos criminais”, disse ele, em referência ao caso em que a empresa holandesa reconheceu envolvimen­to no pagamento de propina para obter contratos com a Petrobrás. “Ora, o processo criminal alcança as pessoas físicas, não as empresas.”

De acordo com o ex-ministro, existem convenções internacio­nais contra suborno e corrupção que preveem cooperação entre países. “A corrupção hoje é um fenômeno global, e não pode ser enfrentada adequadame­nte sem isso. Então, a construção de uma rede entre países, que torne essa troca de informaçõe­s algo automático, seria de grande relevância para o combate à corrupção”, afirmou Hage.

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FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL-14/6/2017 Cooperação. O ministro Wagner de Campos Rosário negocia acordos com outros países

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