O Estado de S. Paulo

Lula cogitou comprar sítio, diz Okamotto em depoimento

Depoimento marca a retomada das audiências no processo após STF tirar das mãos de Sérgio Moro delações que citavam petista

- Ricardo Brandt Fausto Macedo

O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, afirmou em depoimento a Sérgio Moro que o ex-presidente Lula chegou a ter a intenção de comprar o sítio em Atibaia “como presente para dona Marisa”. Ele disse que frequentou o local “algumas vezes” e que parte do acervo de Lula ficaria no imóvel após o fim do mandato. Okamotto falou como testemunha de defesa na terceira ação penal contra o petista.

O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, afirmou ontem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, avaliou comprar o sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), e que parte do acervo presidenci­al do petista seria levada ao imóvel após o término de seu segundo mandato. Okamotto prestou depoimento por teleconfer­ência ao juiz da 13.ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, como testemunha de defesa na ação penal da qual Lula é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A força-tarefa da Lava Jato sustenta que o sítio é de Lula, que nega a propriedad­e do imóvel. Segundo a acusação, a Odebrecht, a OAS e a Schahin, com ajuda do pecuarista José Carlos Bumlai, gastaram R$ 1,02 milhão em obras de melhorias no sítio em troca de contratos com a Petrobrás. O imóvel foi comprado no fim de 2010 e está registrado em nome de Fernando Bittar e Jonas Suassuna, sócios dos filhos do ex-presidente.

Okamotto foi questionad­o pela advogada de Bittar sobre um almoço em 2015, no Instituto Lula, no qual teria sido discutida a aquisição do sítio. “Teve um almoço. Esse tema tinha sido tratado. O presidente Lula, já há algum tempo, achava que tinha que comprar o sítio como presente para dona Marisa. Ele tinha um pouco de dúvida, mas tinha essa impressão.”

O presidente do Instituto Lula também disse que, no fim de 2010, o ex-ministro Gilberto Carvalho afirmou que “teria que providenci­ar a retirada do acervo presidenci­al”. “Coisa que eu acabei fazendo, levei para a Granero, como muita gente sabe. Fui informado de que uma parte do acervo, algumas peças, seria levada para o sítio do Fernando.”

O armazename­nto do acervo presidenci­al de Lula chegou a constar na acusação na ação sobre o triplex do Guarujá – na qual o ex-presidente foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão. Em relação ao armazename­nto, eles foram absolvidos – Lula por corrupção e lavagem e Okamotto por lavagem.

A juíza Carolina Lebbos autorizou uma esteira ergométric­a na sala onde Lula cumpre pena. Já o Ministério Público se posicionou contra um frigobar no local por considerá-lo uma “regalia”.

O depoimento de Okamotto marca a retomada das audiências no processo do sítio após o Supremo Tribunal Federal determinar o envio do conteúdo das delações de executivos da Odebrecht do caso para a Justiça Federal em São Paulo. A defesa de Lula chegou a pedir que todo o processo fosse retirado de Moro, mas o pedido foi negado na quinta-feira passada pelo ministro Dias Toffoli.

Votos virtuais. Toffoli e o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato, já votaram no plenário virtual da Corte contra o recurso apresentad­o pela defesa de Lula para reverter a sua prisão. O julgamento começou na sexta-feira passada e deve ser concluído até a meia-noite de quinta-feira. Segundo o Estadão/Broadcast apurou, Toffoli acompanhou o voto de Fachin, negando o recurso de Lula.

Participam da votação eletrônica os outros três ministros da Segunda Turma do Supremo: Celso de Mello, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowsk­i. Como o acesso ao ambiente de julgamento é remoto, a apresentaç­ão dos votos pode ocorrer a qualquer momento dentro do prazo.

Se todos os ministros votarem antes da data final, o resultado já poderá ser conhecido previament­e – mas isso só ocorrerá quando o último dos ministros apresentar sua posição.

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MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO-3/2/2016 Atibaia. Vista do sítio atribuído a Lula; ao lado, Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, durante audiência por meio de teleconfer­ência com Moro
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