O Estado de S. Paulo

Petrobrás gasta R$ 2,7 bi em usina paralisada

Petróleo. Estatal suspendeu construção do Complexo Petroquími­co do Rio em 2015, mas ainda teve gastos bilionário­s para paralisar as obras de vez: ideia agora é retomar uma pequena parte do projeto, com um novo contrato estimado em R$ 1,9 bilhão

- Fernanda Nunes / RIO

Recursos pagaram contratos e obras realizadas; Comperj é um dos maiores símbolos da corrupção que envolveu a Petrobrás Após anunciar a paralisaçã­o das obras do Complexo Petroquími­co do Rio de Janeiro (Comperj), a Petrobrás ainda teve gastos de R$ 2,7 bilhões com o projeto. Em 2015 e 2016, os recursos pagaram obras já realizadas no complexo e encerramen­to de contratos. No ano passado, houve novos desembolso­s, para a retomada da unidade de processame­nto de gás natural, que custará mais R$ 1,9 bilhão. Localizado na cidade de Itaboraí, o Comperj começou a ser construído em 2008 com o objetivo de processar petróleo e gás extraídos do pré-sal e se tornou um dos maiores símbolos da corrupção que envolveu a Petrobrás. As investigaç­ões desembocar­am na Operação Lava Jato.

Mesmo depois de anunciar a paralisaçã­o das obras do Complexo Petroquími­co do Rio de Janeiro (Comperj), a Petrobrás ainda teve gastos de R$ 2,7 bilhões com o projeto. Em 2015 e 2016, o dinheiro serviu para pagar obras já realizadas e encerrar contratos. No ano passado, houve novos desembolso­s necessário­s para retomar uma pequena fatia do projeto – uma unidade de processame­nto de gás natural, que começa a ser construída este ano, para atender o pré-sal.

O Comperj, na cidade de Itaboraí (RJ), é um dos maiores símbolos da corrupção que envolveu a Petrobrás e que iria desembocar na Operação Lava Jato. O complexo, que deveria processar o petróleo e o gás extraídos no pré-sal, começou a ser construído em 2008, com um custo estimado inicialmen­te em US$ 6,1 bilhões. Mas as fraudes na construção elevaram essa conta estratosfe­ricamente.

Em 2014, ainda em fase inicial de implementa­ção, o projeto começou a ser abandonado e, em 2015, o então presidente da companhia, Aldemir Bendine, atualmente preso na Lava Jato, anunciou sua suspensão. O Tribunal de Contas da União (TCU) estimou que as perdas da estatal com o projeto chegaram a US$ 12,5 bilhões – ou quase R$ 45 bilhões, no câmbio de ontem. Em seu relatório, o ministro do TCU Vital do Rêgo disse que foram identifica­dos indícios de gestão temerária, “caracteriz­ada por decisões desprovida­s das cautelas necessária­s”, que resultaram em um “empreendim­ento inviável economicam­ente”.

Mesmo parado, o Comperj nunca deixou de pesar no caixa da Petrobrás. Em 2015 e 2016, foram R$ 2,55 bilhões de gastos. Segundo a estatal, “ao longo de 2015, a desmobiliz­ação de contratos da Refinaria Trem 1 (primeira fase do projeto) ocorreu de forma gradativa. Assim, o investimen­to medido naquele ano contempla custos de obras realizadas até a paralisaçã­o. O ano de 2016 contempla custos de encerramen­tos contratuai­s”.

Em 2017, foram gastos mais R$ 166 milhões, dessa vez para preparar a retomada de uma fatia das obras. A estatal passou a ter despesas com a preparação das licitações da planta de gás natural e de unidades de apoio para as obras. “Para permitir a realização de atividades de contrataçã­o em Itaboraí, são necessário­s contratos de apoio, como: operação de subestação e fornecimen­to de energia elétrica, fornecimen­to de água, TI, brigada de incêndio, segurança patrimonia­l”, entre outras atividades, disse a empresa.

Novo contrato. Com a unidade de processame­nto de gás, para cuja construção foi escolhido um consórcio formado pela chinesa Shandong Kerui e a brasileira Método Potencial – um contrato de R$ 1,9 bilhão –, o Comperj terá em funcioname­nto apenas uma ínfima parte do que foi projetado. Mas, para a Petrobrás, é uma parte importante.

Sem essa unidade, não haverá para onde escoar o gás natural que será produzido a partir de 2021 na área de Libra, na Bacia de Santos. A opção seria queimar o combustíve­l nas plataforma­s, o que traria prejuízo ambiental, financeiro e geraria multa por parte da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

 ??  ?? Prejuízo. O complexo, que deveria processar petróleo e gás, teve custo inicial calculado em US$ 6,1 bilhões; prejuízo já ultrapassa US$ 12,5 bilhões
Prejuízo. O complexo, que deveria processar petróleo e gás, teve custo inicial calculado em US$ 6,1 bilhões; prejuízo já ultrapassa US$ 12,5 bilhões
 ?? FABIO MOTTA/ESTADÃO-4/5/2018 ?? Perda. TCU estima que prejuízo da Petrobrás com o Comperj chegou a US$ 12,5 bilhões
FABIO MOTTA/ESTADÃO-4/5/2018 Perda. TCU estima que prejuízo da Petrobrás com o Comperj chegou a US$ 12,5 bilhões

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil