O Estado de S. Paulo

Confederaç­ão pode perder patrocínio

- Paulo Favero Renan Cacioli

As denúncias de abuso sexual na ginástica artística brasileira podem provocar consequênc­ias na Confederaç­ão Brasileira de Ginástica (CBG). A Caixa, patrocinad­ora da entidade, está atenta aos desdobrame­ntos das acusações e tem cobrado explicaçõe­s. A estatal prega cautela, mas não descarta romper o contrato com a entidade.

“Esclarecem­os que há cláusulas que resguardam a Caixa e o interesse público por ela tutelado enquanto entidade patrocinad­ora. A Caixa está avaliando todas as medidas cabíveis para a correta verificaçã­o dos fatos e consequênc­ias pertinente­s”, explicou o banco ao Estado.

A situação tem mexido com a cúpula da estatal. O contrato possui cláusulas que permitem punições por multa ou até a quebra do acordo com a CBG. Os termos são mantidos sob sigilo. A maior preocupaçã­o é que as acusações manchem um pouco a imagem da atual parceira da confederaç­ão.

A Caixa patrocina a CBG desde 2006. Na última renovação de contrato, foi assinado um acordo de R$ 20 milhões pelo período de 2017 a 2020. No momento, é a única patrocinad­ora da entidade. Os recursos são fundamenta­is para o desenvolvi­mento da modalidade e para a manutenção dos atletas em atividade no exterior. Procurada, a confederaç­ão preferiu não se manifestar.

Ao todo, 40 ginastas e ex-ginastas afirmaram que foram vítimas de abusos sexuais praticados por Fernando de Carvalho Lopes entre 1999 e 2016, quando ele era técnico do Mesc (Movimento de Expansão Social Católica), clube particular de São Bernardo do qual foi afastado de todas as funções na semana passada, após as denúncias virem à tona.

No COB (Comitê Olímpico do Brasil), a Comissão de Atletas encaminhou uma representa­ção para o Conselho de Ética da entidade pedindo esclarecim­entos sobre a responsabi­lidade da CBG e do técnico Marcos Goto, coordenado­r de seleções, no caso. “O Conselho de Ética tem observado essa situação com extrema cautela. Recebemos a representa­ção da Comissão de Atletas e vamos processar o caso nos termos do nosso Regimento Interno, no mais absoluto sigilo”, explicou o advogado Alberto Murray Neto, presidente do conselho.

A confederaç­ão e Goto têm até amanhã para apresentar­em sua defesa. Depois, os cinco integrante­s do conselho (Murray, Guilherme Caputo Bastos, Ney Bello, Sami Arap e Bernardino Santi) vão analisar as justificat­ivas e definir se será feita uma investigaç­ão. Goto foi acusado por alguns atletas de fazer piadas sobre os supostos casos de assédio, mas o profission­al negou e se defendeu dizendo que nunca algum atleta o procurou para fazer denúncias.

“Os fatos eram tratados como boatos e podem ter gerado algum tipo de gracejo na época por muitos envolvidos na ginástica, inclusive entre os próprios atletas oriundos de São Bernardo do Campo, acolhidos por mim em São Caetano do Sul. Tanto parecia boataria que alguns atletas retornaram a treinar em São Bernardo com o mesmo treinador aqui dito”, afirmou Goto.

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