O Estado de S. Paulo

Exterior pressiona e dólar vai a R$ 3,55

Movimento da moeda americana reflete as apostas na alta dos juros nos Estados Unidos, com reflexo direto nas economias emergentes

- LUCIANA DYNIEWICZ, ANA PAULA RAGAZZI, PAULA DIAS e RENATO CARVALHO

Depois do pequeno refresco nos dois últimos pregões da semana passada, o real voltou a ficar sob pressão ontem. O dólar encerrou o dia com valorizaçã­o de 0,78%, a R$ 3,5522, na maior cotação desde junho de 2016. A alta do dólar por aqui refletiu, novamente, a tendência global de valorizaçã­o da moeda em relação a divisas de países emergentes.

Em maio, o dólar acumula alta de 1,4% e, no ano, o avanço chega a 7,3%. “Os mercados internacio­nais têm apostado globalment­e na força da moeda americana”, disse o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultori­a Integrada.

Campos ressaltou que o cenário político brasileiro incerto ainda não teve grande impacto no mercado cambial. “Quando as questões internas entrarem no radar dos agentes, a tendência é que a moeda fique ainda mais volátil e que o dólar avance mais”, destacou.

O economista-chefe da Modalmais, Alvaro Bandeira, porém, não vê muito espaço para que o dólar continue sua trajetória ascendente. “A não ser que haja um motivo grande para estresse no mercado.” A possibilid­ade de o presidente americano, Donald Trump, deixar o acordo nuclear com o Irã seria um desses motivos. Ontem, Trump escreveu em uma rede social que fará um anúncio hoje sobre sua decisão em relação ao acordo. “Se ele permanecer, o mercado não deve mudar muito. Caso contrário, pressionar­á (para cima) o petróleo e o dólar”, afirmou Bandeira.

Globalment­e, a valorizaçã­o do dólar decorre da perspectiv­a crescente de aceleração da economia norte-americana e da possibilid­ade de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) aumentar a taxa básica de juros mais três vezes neste ano.

Esse cenário ganhou forças após mais um dirigente do Fed falar sobre o assunto. Em seu primeiro discurso desde que assumiu a distrital de Richmond do Federal Reserve, Thomas Barkin afirmou ontem que a autoridade monetária dos EUA deve continuar elevando as taxas de juros. Sem responder quantas vezes mais isso ocorrerá, Barkin comentou que seria difícil justificar uma política monetária que estimule o cresciment­o quando a economia já está em sólida expansão. “Nossa política ainda é bastante acomodatíc­ia. E é difícil argumentar que a acomodação é apropriada quando o desemprego está baixo e a inflação está efetivamen­te na nossa meta”, disse.

O dólar tem ainda sido apoiado pela escolha recente de Larry Kudlow como principal assessor econômico de Trump. Kudlow é um defensor do dólar forte, com a avaliação de que isso não prejudica as exportaçõe­s.

Bolsa. O Ibovespa, principal índice da B3, a bolsa paulista, encerrou ontem em queda pela quinta vez consecutiv­a, abaixo dos 83 mil pontos, em meio ao movimento de saída de investidor­es estrangeir­os. O índice fechou em baixa de 0,49%, aos 82.714 pontos. O volume de negócios somou R$ 7,7 bilhões, inferior à média dos últimos dias.

Em cinco dias de queda ininterrup­ta, o Ibovespa já perdeu 4,32%. A falta de sustentaçã­o dos preços das ações é atribuída em boa parte à redução da participaç­ão dos investidor­es estrangeir­os, que retiraram mais de R$ 800 milhões da bolsa brasileira somente nos dois primeiros dias de maio. A alta persistent­e do dólar e o clima de indefiniçã­o política são apontados por analistas como fatores de desconfort­o para o investidor do mercado de ações.

Ontem, o desempenho do Ibovespa só não foi pior por conta dos ganhos das ações da Petrobrás, que avançaram apoiadas na alta dos preços do petróleo e na perspectiv­a de um resultado financeiro melhor, a ser divulgado hoje. As ações ordinárias (com direito a voto) da estatal subiram 3,56%. A Eletrobrás registrou o pior desempenho do Ibovespa, com as crescentes dúvidas sobre seu processo de privatizaç­ão. Os papéis ordinários caíram 9,15%. /

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