O Estado de S. Paulo

Ipea projeta alta de 0,3% no investimen­to no 1º trimestre

Se IBGE confirmar estimativa no fim mês, será mais um sinal da lentidão na recuperaçã­o da economia

- Vinicius Neder / RIO

Os investimen­tos cresceram apenas 0,3% no primeiro trimestre do ano, na comparação com o quarto trimestre de 2017, conforme estimativa divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Se a estimativa for confirmada, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) informar os dados do Produto Interno Bruto (PIB), no fim do mês, será mais um sinal de lentidão na recuperaçã­o da economia, na avaliação de Leonardo Mello de Carvalho, pesquisado­r do Ipea.

“O primeiro trimestre, em termos de atividade econômica, foi frustrante”, disse Carvalho. O ligeiro cresciment­o foi estimado com base no avanço de 0,8% em março ante fevereiro no Indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). O índice procura estimar, a partir de dados antecedent­es, o comportame­nto da FBCF, como são chamados os investimen­tos no PIB.

Segundo Carvalho, o fraco cresciment­o dos investimen­tos no início do ano não chega a compromete­r as estimativa­s de alta nos investimen­tos em 2018. Isso porque esse item do PIB fechou 2017 em alta. Nas contas do pesquisado­r, se o investimen­to registrar variação nula ao longo de 2018, sempre na comparação de um trimestre com o trimestre imediatame­nte anterior, já teria alta de 2,5% em relação a 2017 – para o Ipea, a alta anual poderá chegar a 4,0%.

O problema é que até um cresciment­o de 4,0% é pouco, pois, como lembrou Carvalho, o investimen­to, geralmente, cai mais do que o PIB nos momentos de retração, mas, por outro lado, avança mais rapidament­e nos momentos de cresciment­o econômico. “A questão é que os investimen­tos poderiam crescer mais”, disse.

A forma como os investimen­tos cresceram no primeiro trimestre corroboram o cenário de lentidão. Conforme o Indicador Ipea de FBCF, a alta foi puxada pelos aportes em máquinas e equipament­os. O consumo aparente desses itens (produção interna líquida das exportaçõe­s, acrescida das importaçõe­s) encerrou o primeiro trimestre com alta de 2,4%.

Segundo Carvalho, esses investimen­tos respondem mais a uma demanda por modernizaç­ão e aumento da produtivid­ade nas fábricas. Há pouco investimen­to em expansão e em infraestru­tura. Tanto que, no índice do Ipea, o componente de construção civil apresentou cresciment­o mais modesto em março, de 0,2% ante fevereiro, resultado que sucedeu duas quedas consecutiv­as. Com isso, o setor encerrou o primeiro trimestre com retração de 0,6% ante o último trimestre de 2017.

Carvalho lembrou que esses investimen­tos são diretament­e afetados pela falta de confiança na economia e na demanda futura, marcada pela incerteza em relação ao cenário eleitoral deste ano. Para piorar, o setor da construção civil foi atingido tanto pela queda de investimen­tos dos governos, em meio à crise fiscal, quanto pelas investigaç­ões contra a corrupção, que atingiram em cheio as principais empreiteir­as do País.

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