O Estado de S. Paulo

Obras com orgia são isoladas

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A exposição de Ismael Nery no MAM será dividida em grupos temáticos. Primeiro, os nus, seguidos de figuras em grupos e então os retratos e autorretra­tos. Por fim, obras surrealist­as. Separados, porém, estão ainda desenhos de cenários teatrais, que nunca saíram do papel, e uma ala que foi criada após um pedido da assessoria jurídica do museu, com classifica­ção indicativa de 12 anos, para apresentar desenhos que tratam de atos sexuais, o que o curador Paulo Sergio Duarte chama de “partouse”, nome francês para orgia. A preocupaçã­o, claro, vem da polêmica gerada no ano passado no MAM, com a performanc­e La Bête, de Wagner Schwartz, quando uma criança, acompanhad­a da mãe, interagiu com o artista, que estava nu.

A importânci­a das oito obras que integram a seção é justamente a discussão sobre sexualidad­e. “Não somente ele desenhou uma partouse, como ainda represento­u a ele próprio, Adalgisa e amigos como Murilo Mendes e Antônio Bento, que frequentav­am sua casa”, explica Duarte. A questão ambígua do pintor está presente também na obra em maior destaque na mostra, Autorretra­to (1927), em que Nery aparece, ao meio, sendo beijado por figuras atribuídas a Adalgisa e ao poeta Murilo Mendes, seu grande amigo. “É um trabalho chagallian­o, que mostra como a cabeça dele oscilava entre Paris e Rio de Janeiro.” O quadro é destaque não por decisão curatorial, mas dos colecionad­ores – é a única protegida por uma estrutura de acrílico. “Só está aqui graças à família colecionad­ora, que pagou o seguro de R$ 60 milhões, muito elevado para o orçamento da exposição.”

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