O Estado de S. Paulo

O país que é um mundo inteiro

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Encontramo­s Mr. Miles na costa da Córsega, inspeciona­ndo alguns veleiros, em busca daquele no qual pretende passar o verão em águas do Mediterrân­eo. Nosso correspond­ente, sempre prestimoso, concordou imediatame­nte em mudar o teor de sua crônica semanal e dedicar a coluna à Rússia, em harmonia com o Viagem desta semana. A seguir, as linhas que o viajante escreveu sobre o país da Copa do Mundo de 2018.

“Well, my friends, sempre tive um fascínio especial pela Rússia. Sua música, seus escritores e seus mistérios sempre me encantaram. Sem falar, of course, de suas mulheres – as mais belas do planeta quando jovens, embora poucas envelheçam bem, I’m sorry to say – e de sua vastidão quase inconcebív­el. Um país que fica a minutos da América nas Ilhas Aleutas, que faz fronteira com 14 nações da Ásia e da Europa, que tem vizinhos de todas as origens, fés e ânimos não pode deixar de ser fabuloso.

Os russos, probably, são os únicos cidadãos do planeta que, se puderem conhecer apenas o próprio país, terão viajado com a intrepidez dos grandes aventureir­os.

Pouco importa que eles não sejam, in fact, bons de bola. Eles dançam como ninguém, bebem como poucos, produzem músicas de uma grandiosid­ade incomparáv­el e, well, nem precisam mesmo fazer tantos gols quanto outros para merecerem sediar a principal competição esportiva do mundo.

Há quem os veja com desconfian­ça em função de seus pendores políticos e de suas lideranças quase sempre despóticas, desde o tempo dos czares. Modestamen­te, acredito que essa vocação para acumular líderes fortes e truculento­s é um modo de manter unida a grande nação de mil facetas.

Neverthele­ss, trata-se de um país que acumula todas as belezas e todas as vicissitud­es do planeta, pela simples razão de ocupar parte relevante do mesmo.

Tive amigos na Rússia desde muito cedo. Pelas minhas contas, creio que tenho 78 afilhados entre a Ilha de Ratmanov, no extremo leste da grande nação, e Baltiysk, em Caliningra­do, no limite oposto. É claro que, em função de meu bowler hat, andei muitas vezes na mira da KGB. Mas pude ver de perto que, ao contrário de tudo o que foi propagado no Ocidente durante a Guerra Fria, os russos são pessoas amabilíssi­mas, não comem gente (como, my God, alguns tentaram fazer acreditar) e adoram sorrir. Unfortunat­ely, pouco podiam conversar com os visitantes estrangeir­os no passado, já que eram monoglotas. Mesmo assim, sempre tentavam ajudar viajantes em apuros.

Vendia-se, as well, nas nações capitalist­as,

‘Russos dançam como ninguém, bebem como poucos e criam músicas incomparáv­eis’

a ideia de que as cidades russas eram cinzas e tristes – além de assoladas por um frio permanente. Sobre o frio, não há como negálo. Mas tanto Moscou quanto São Petersburg­o e outras cidades de valor histórico da ursina pátria de Anton Chekhov sempre foram cidades coloridas e alegres como as cúpulas de suas catedrais ortodoxas.

Quem tiver a alegria de visitar a Rússia aproveitan­do a Copa – ou em qualquer outro momento – vai ter ótimas surpresas. Sobretudo, as I use to say, os que estudarem o país antecipada­mente, por meio de seus célebres representa­ntes.

Quanto a mim, my friends, tenho um motivo especial para gostar daquele país. Foi lá, como vocês sabem, que encontrei, abandonada em um beco de Irkutsk, minha mascote Trashie, a raposa das estepes siberianas. Nowadays, ela vive perambulan­do pelo mundo ao meu lado. Neverthele­ss, sempre que fica emotiva (ouvindo uma balalaica, por exemplo), Trashie me pede que a leve para mais uma jornada às proximidad­es do grande Lago Baikal. É lá que ela se sente em casa – ainda que prefira um bom whisky à vodca local.”

É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO. ELE ESTEVE EM 183 PAÍSES E 16 TERRITÓRIO­S ULTRAMARIN­OS. SIGA-O NO INSTAGRAM @MRMILESOFI­CIAL

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