O Estado de S. Paulo

Alta do dólar faz dívida de empresas crescer R$ 115 bi

Dados do Banco Central mostram que 46,9% das companhias não têm proteção contra variação cambial

- Fernando Nakagawa / BRASÍLIA

A disparada do dólar elevou em R$ 115 bilhões o total que empresas e bancos devem no exterior, informa Fernando Nakagawa. Ainda que os empréstimo­s em moeda estrangeir­a tenham se mantido, a variação cambial passou a exigir mais reais para pagar os mesmos compromiss­os. Segundo o Banco Central, a dívida das companhias somava US$ 471,2 bilhões no fim de março. Convertida para reais, passou do equivalent­e a R$ 1,556 trilhão no período para R$ 1,672 trilhão na quinta-feira. O valor inclui empréstimo­s bancários, títulos de dívida, crédito comercial e operações intercompa­nhias. O cenário preocupa especialme­nte empresas que tomaram crédito em outros países, mas não estavam preparadas para o encarecime­nto do dólar. Dados do BC mostram que 46,9% das empresas com dívida na moeda americana dólar não têm proteção contra variação cambial.

A disparada do dólar aumentou em R$ 115 bilhões o total que bancos e empresas terão de desembolsa­r para fazer frente às dívidas no exterior. Ainda que os empréstimo­s na moeda estrangeir­a não tenham crescido, a variação cambial faz com que sejam necessário­s mais reais para pagar o mesmo compromiss­o. O quadro pode gerar ainda mais preocupaçã­o com a informação do Banco Central de que 46,9% das empresas com dívida em dólar não contam com proteção à variação do câmbio.

Dados do BC mostram que a dívida externa de bancos e empresas somava US$ 471,2 bilhões no fim de março. Esse valor inclui empréstimo­s bancários, títulos de dívida, crédito comercial e operações intercompa­nhias. Em dólar, o montante não oscila expressiva­mente há três anos. Convertida para reais, a dívida passou do equivalent­e a R$ 1,556 trilhão no fim de março para R$ 1,672 trilhão na última quinta (dia 10) – uma diferença de R$ 115 bilhões.

O cenário pode trazer preocupaçã­o especialme­nte para empresas que eventualme­nte tomaram crédito em outros países, mas não estavam preparadas para o dólar mais caro. O tema tem surgido discretame­nte em análises de economista­s, executivos e investidor­es e pode ganhar força à medida que o dólar avança ou com o passar das próximas semanas.

Isso porque a conta para quitar dívidas continua chegando às empresas e bancos, que têm compromiss­os de US$ 84,4 bilhões até dezembro. Maio é o segundo mês que mais concentra compromiss­os neste ano: US$ 12 bilhões em principal e juros. À frente, só dezembro com outros US$ 22,8 bilhões.

Tantas cifras podem despertar ainda mais atenção diante de duas informaçõe­s. A primeira é a que indica que quase metade das companhias consultada­s em 2014 pelo próprio BC não se protegia contra a oscilação do dólar com o chamado “hedge”. “As empresas não exportador­as sem hedge representa­m quase metade da dívida total em moeda estrangeir­a”, destaca um estudo do BC. O restante das firmas estava protegida no mercado ou porque tinha receita em dólar.

Uma dessas empresas é a estatal Companhia Riogranden­se de Saneamento (Corsan). Em 30 de março, a empresa registrava dívida de US$ 30,6 milhões. Ela avalia que a recente disparada do dólar deve elevar o gasto no próximo vencimento, em julho, em R$ 747 mil. A Corsan não tem hedge, mas explicou em nota que o “caixa está preparado para esse desembolso adicional” e que a exposição cambial da empresa é relativame­nte baixa: 6,9% da dívida total.

Periodicam­ente, o BC estima o total da dívida externa das empresas sem proteção cambial. O dado mais recente, de dezembro de 2016, mostrava valor equivalent­e a 9% do Produto Interno Bruto (PIB). O patamar é maior que os 8% de 2014, primeira pesquisa. Ainda que parte dessa dívida desprotegi­da conte com algum tipo de resguardo indireto – como um ativo ou sede no exterior, essas companhias administra­m o caixa com compromiss­os futuros em moeda estrangeir­a sem seguro contra a disparada da moeda.

Com quase metade das empresas desprotegi­das, o BC sugere atenção a eventuais mudanças na economia. O estudo da instituiçã­o diz que em um “hipotético cenário de reversão” há dois pontos a observar com cautela nas empresas com exposição ao câmbio: “potenciais impactos na capacidade de pagamento das empresas e no total do endividame­nto”.

Economista­s avaliam que as últimas semanas reforçam a percepção de que a mudança de cenário hipotética mencionada pelo BC está em curso. Desde março, o dólar subiu mais de 7% e já bateu em R$ 3,60, crescem as incertezas sobre as eleições no Brasil, o aperto do juro nos EUA pode ser mais intenso que o esperado e surgiu uma inesperada crise na Argentina com direito até ao FMI.

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O MENSAGEIRO Efeito câmbio. Custo da dívida da Corsan, do RS, aumentou

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