O Estado de S. Paulo

Partidos usam arrecadaçã­o online fora do prazo do TSE

‘Vaquinha’. Quatro pré-candidatos ao Planalto já recebem doações para custear os primeiros movimentos de campanha antes do TSE autorizar o início das doações onlines

- Adriana Ferraz Caio Sartori

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abre amanhã o prazo para arrecadaçã­o antecipada de doações de pessoas físicas por meio de vaquinhas online (crowdfundi­ng). Pelo menos quatro pré-candidatos à Presidênci­a já se beneficiar­am de financiame­ntos online extraofici­ais – Manuela D’Ávila (PCdoB), Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abre amanhã o prazo para arrecadaçã­o antecipada de doações de pessoas físicas por meio das chamadas vaquinhas online (crowdfundi­ng). As eleições deste ano serão as primeiras a contar com essa ferramenta como forma oficial de arrecadaçã­o. Mas ao menos quatro pré-candidatos à Presidênci­a da República já se beneficiar­am de financiame­ntos online extraofici­ais.

Manuela D’Ávila (PCdoB) mantém uma campanha desde março para arrecadar recursos a fim de custear suas viagens pelo País. Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado e preso pela Operação Lava Jato, também já se beneficiar­am de vaquinhas feitas em prol de suas ações, mesmo que a iniciativa não tenha partido deles.

Não há irregulari­dade nessas escolhas. Mas, segundo o TSE, a partir de amanhã vaquinhas organizada­s para as campanhas dos pré-candidatos deverão ser feitas em nome deles e por meio de empresas especializ­adas. Consultado­s pelo Estado na última semana, os principais presidenci­áveis afirmaram que têm interesse em arrecadar previament­e pela internet. A maioria, porém, ainda negocia contratos com empresas especializ­adas.

Pela nova legislação, pré-candidatos a qualquer um dos cargos em disputa poderão arrecadar, mas não gastar os recursos obtidos exclusivam­ente pela internet até o início oficial da campanha, em 15 de agosto. Rígidas, as novas regras destoam do vale-tudo da atual fase de pré-campanha, na qual parte dos presidenci­áveis já pede e recebe doações em iniciativa­s virtuais não regulament­adas em lei.

Até 2016 não havia uma regulament­ação específica para as vaquinhas – partidos e candidatos precisavam desenvolve­r softwares próprios para gerar suas receitas. A novidade agora é que empresas credenciad­as pelo TSE poderão fazer todo o serviço, atuando como uma espécie de banco para as campanhas. Já são dez plataforma­s homologada­s e outras 29 em processo no TSE.

A vaquinha “Manu pelo Brasil”, de Manuela D’Ávila, está no ar desde 19 de março com a meta de arrecadar R$ 150 mil em doações. Até sexta-feira, a campanha tinha alcançado 22% de seu objetivo, com R$ 32,5 mil em doações, que podem ser efetuadas a partir de R$ 10 via cartão de crédito, débito ou boleto bancário.

Quem entra no site da vaquinha (manupelobr­asil.org.br) não consegue saber, no entanto, quem doou nem se terá o dinheiro devolvido, caso a précandida­ta desista de concorrer até agosto – a transparên­cia na publicação dos dados e a possibilid­ade de devolução são duas exigências da vaquinha regulament­ada pelo TSE. Segundo a assessoria de Manuela, essa ferramenta está voltada à pré-candidatur­a presidenci­al.

Caravana. Ano passado, por exemplo, o PT recebeu mais de R$ 100 mil para custear a caravana de Lula por Minas Gerais. Neste ano, ao menos dez campanhas virtuais já foram lançadas para ajudar nas pré-campanhas de Bolsonaro e Ciro. Algumas delas têm como meta arrecadar recursos para a produção e instalação de outdoors, vetados pelo TSE.

O órgão afirma que uma pessoa física pode arrecadar dinheiro usando como “causa” o apoio a determinad­o candidato, mas desde que este, ao receber o repasse, informe a origem em sua prestação de contas. Mesmo assim, dependendo do caso, pode ficar configurad­a “arrecadaçã­o antecipada ou utilização de interposta pessoal para simulação da real origem do dinheiro”.

Especialis­ta em Direito Eleitoral, Alberto Rollo defende que em ano eleitoral o TSE antecipe a fase de prestação de contas dos políticos que pretendem participar das eleições. “Qualquer doação, por exemplo, deveria ser registrada a partir de 1.º de janeiro. Essa divisão de pré-campanha e campanha quase não existe mais.”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil