O Estado de S. Paulo

‘Passarela do álcool’ toma a Paulista

Comércio ambulante clandestin­o de bebidas aceita cartões e atende até adolescent­es

- Bruno Ribeiro

Se, ao longo dos dias de domingo, a Avenida Paulista aberta para pedestres já se consolidou como uma opção de lazer para toda a cidade, ao anoitecer, quando o sol, a maior parte do público e a fiscalizaç­ão vão embora, o que tem ficado ali é uma passarela livre para o comércio ambulante clandestin­o de bebidas alcoólicas. São vendidas até para adolescent­es e com pagamento em cartões de débito e crédito.

Ontem, fileiras de ambulantes transitava­m livremente após as 17 horas. “O rapa (a fiscalizaç­ão) até vem, toma toda nossa mercadoria, mas a gente precisa trabalhar, né?”, disse ao Estado um ambulante de 39 anos, que só negou vender álcool a menores.

Após o sol se pôr, o perfil dos frequentad­ores da Paulista muda. Saem famílias, casais e grupos de amigos mais velhos, ficam os mais jovens, interessad­os em esticar a noite e beber. Os focos – já conhecidos – são a esquina da Paulista com a Rua Augusta e o vão livre do Masp.

“A Paulista virou um vale-tudo. Pode se vender de tudo. Quem compra não sabe o que tem dentro dessas garrafas. É um problema de segurança, mas também de saúde pública. O comércio ambulante está totalmente fora de controle”, diz a conselheir­a da Sociedade dos Amigos, Moradores e Empreended­ores do Bairro de Cerqueira César (SAMORCC) Célia Marcondes. Ela reclama ainda que os músicos ficam muito perto dos prédios residencia­is. Artesãos. Os vendedores ambulantes regulares, que fazem comércio de artesanato, não gostam da concorrênc­ia. E reclamam que a fiscalizaç­ão não mira os vendedores de álcool. “Ontem, veio o primeiro fiscal e eu mostrei minha autorizaçã­o. Então veio o segundo, e mostrei a autorizaçã­o. No terceiro, ele disse ‘OK, você está autorizada, mas esses cabides, do jeito que estão, são irregulare­s. Vou apreender tudo’. Só não tive um prejuízo enorme porque as pessoas viram a cena e ficaram do meu lado”, contou a ambulante Viviane Cristina Machado, de 42 anos.

O prefeito regional da Sé, Eduardo Odloak, disse que, só ontem, foram feitas 120 apreensões na Paulista. Ele reconheceu que os vendedores de álcool são mais ágeis, difíceis de serem fiscalizad­os, mas prometeu mais rigor. Disse ainda que vai regulament­ar a atuação dos músicos, que ficarão restritos a prédios comerciais.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO A venda ilegal de bebidas alcoólicas toma a Paulista, aos domingos, após a maior parte do público deixar a avenida de lazer. Subprefeit­ura promete rigor contra abusos.
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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Flagrante. Prefeito regional reconhece problema; apreensões gerais chegam a 120 por dia

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