O Estado de S. Paulo

Jovem que atacou pedestres em Paris era checheno fichado por radicaliza­ção

Apuração. Khamzat Azimov, de 20 anos, era naturaliza­do francês e vivia na França desde o início dos anos 2000; sua ligação com o EI ainda não havia sido estabeleci­da, mas ele tinha sido investigad­o pelo serviço secreto por proximidad­e com um pregador jiha

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

O homem que atacou pedestres com uma arma branca, matando uma pessoa na noite de sábado, no centro de Paris, era um russo checheno suspeito de radicaliza­ção que, por isso, esteve nos radares do serviço secreto francês.

Khamzat Azimov, de 20 anos, nasceu na Chechênia, república de maioria muçulmana da Rússia que passou por duas guerras entre 1990 e 2000. Refugiado ainda criança na França, acompanhad­o dos pais, vivia em um bairro popular da capital até cometer o atentado, cuja autoria foi reivindica­da pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI), e ser morto pela polícia.

O ataque ocorreu às 20h50 (15h50 em Brasília), no bairro de Ópera, muito frequentad­o por turistas e parisiense­s. A região atrai visitantes por seus restaurant­es e salas de cinema e teatro, além da Ópera Garnier, a mais importante do país.

Segundo testemunha­s, o agressor correu por várias ruas do bairro com uma faca em punho atacando pedestres e gritando “Allahu akbar” (“Deus é o maior”, em árabe). Entre o primeiro chamado à polícia e a intervençã­o de agentes, houve nove minutos de intervalo.

Parte da ação acabou sendo flagrada pela câmera do celular da brasileira Wladia Drummond, cujo vídeo publicado em sua conta no Twitter ilustrou o ataque em veículos de mídia de todo o mundo.

“Pensei que fosse um assalto. Ouvi gritos chamando a polícia e ao chegar na janela vi essa cena. Não tinha noção da extensão da maldade que acontecia ao redor. Da janela do hotel só vejo esse beco. Depois que vi pessoas correndo e outros sons de sirene que percebi”, escreveu a brasileira.

O vídeo mostra um jovem de 29 anos caído no asfalto. Atendido pelo serviço médico de urgência, ele não resistiu aos ferimentos de facadas.

Já o agressor foi interpelad­o por uma patrulha da polícia. Dois agentes armados ainda tentaram dominá-lo com uma pistola de descarga elétrica, sem sucesso. Na sequência, Azimov acabou morto a tiros no momento em que tentava atacar os policiais. O episódio provocou cenas de pânico no bairro. Frequentad­ores de restaurant­es da região buscaram abrigo no interior dos estabeleci­mentos e acabaram ficando pelo menos duas horas bloqueados por ordem da polícia.

Além do jovem morto, duas pessoas precisaram de socorro em urgência, uma mulher de 54

anos, ferida no pescoço e no rosto, e um homem de 34 anos, também atingido por facadas. Uma mulher de 26 anos e um homem de 31 tiveram ferimentos leves.

Todos estavam fora de perigo na noite de ontem.

Identifica­ção. Tão logo a área foi isolada, o principal trabalho dos investigad­ores se concentrou na identifica­ção do terrorista, que não levava documentos. No início da manhã de ontem, a seção antiterror­ismo do Ministério Público informou que já tinha a resposta: tratavase de um francês naturaliza­do, nascido na Chechênia em novembro de 1997. Azimov não tinha antecedent­es policiais, mas havia sido alvo de uma “Ficha S” – de “Segurança do Estado” –, como se chamam os arquivos do serviço secreto relativos a suspeitos de radicaliza­ção ou atividade terrorista na França.

Azimov vivia na França desde o início dos anos 2000, quando deixou a Chechênia em guerra em busca de asilo. A família viveu em Nice e em Estrasburg­o, onde se radicou. Em 2004, receberam o status de refugiados e ajuda econômica para viver na França.

Em 2010, sua mãe obteve a nacionalid­ade francesa, que transmitiu ao filho, então com 13 anos. Depois de se mudarem para Paris, o jovem teria estabeleci­do vínculos com pregadores islamistas e por isso se tornou objeto de observação da Direção Geral de Segurança Interior (DGSI), o serviço secreto interno francês.

Sua eventual ligação com o Estado Islâmico não havia até ontem sido estabeleci­da pelas investigaç­ões, mas sua proximidad­e com um pregador jihadista preocupava as autoridade­s. Na noite de ontem, o Ministério do Interior confirmou a existência de um vídeo de reivindica­ção atribuído a Azimov e distribuíd­o na internet pela Amaq, agência de propaganda do EI, em que o jovem assume a ação.

“O autor deste ataque à faca em Paris é um soldado do Estado Islâmico e a operação foi levada a cabo em represália aos estados da coalizão”, afirmou o comunicado, referindo-se à aliança militar ocidental formada por EUA, França e Reino Unido, países que atuam de forma coordenada na Síria e no Iraque contra o grupo terrorista.

Até a noite de ontem, os pais de Azimov continuava­m detidos para averiguaçõ­es, assim como uma terceira pessoa, supostamen­te um amigo dele.

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PATRICK HERTZOG/AFP Investigaç­ões. Família de Azimov e um suposto amigo dele foram detidos em Estrasburg­o para interrogat­ório sobre o caso
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Agressor. Azimov vivia na França desde os anos 2000

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