O Estado de S. Paulo

EUA inauguram hoje embaixada em Jerusalém

Desde que Donald Trump chegou à Casa Branca, o alinhament­o dos governos americano e israelense tem sido sem precedente­s

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Condenada pelos aliados europeus dos EUA, a decisão de Donald Trump de abandonar o acordo nuclear com o Irã foi celebrada por Arábia Saudita e Israel, dois adversário­s que há meses ensaiam uma inédita aproximaçã­o, fruto do objetivo comum de confrontar as ambições de Teerã no Oriente Médio.

Desde sua chegada à Casa Branca, Trump se aproximou dos dois países e abandonou os tradiciona­is aliados americanos. Sua primeira viagem ao exterior foi para a Arábia Saudita, e não para Canadá, México ou Europa, destinos de estreia de seus antecessor­es.

Com Trump, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, celebra um alinhament­o sem precedente­s. Depois de festejar a decisão dos EUA de deixar o acordo com o Irã, ele aplaudirá hoje a inauguraçã­o da embaixada americana em Jerusalém.

O reconhecim­ento de Jerusalém como capital de Israel contou com apoio internacio­nal apenas de Netanyahu e contrariou a determinaç­ão sustentada por Washington durante sete décadas de manter sua representa­ção diplomátic­a em Tel-Aviv. A Arábia Saudita também não gostou, mas a hostilidad­e em relação ao Irã falou mais alto.

Depois de oito anos de ofensiva

diplomátic­a de Barack Obama, Trump chegou à Casa Branca determinad­o a confrontar Teerã. Seus impulsos foram contidos nos primeiros meses por assessores moderados, mas quase todos deixaram o governo desde o início do ano. A política externa está agora nas mãos de Mike Pompeo, no Departamen­to de Estado, e de John Bolton, no Conselho de Segurança Nacional, dois falcões que já defenderam a invasão do Irã para acabar com seu programa nuclear.

“A maneira explícita do alinhament­o entre EUA e Israel em posições tão extremas em relação ao Irã é sem precedente­s”, disse Ian Lustick, especialis­ta em Oriente Médio da Universida­de da Pensilvâni­a. Segundo ele, havia mais proximidad­e entre os dois países durante o governo de George W. Bush, mas a coincidênc­ia não era total. “Os interesses dos EUA e de Israel se sobrepõem apenas parcialmen­te, mas os objetivos de curto prazo de seus atuais líderes correspond­em muito estreitame­nte”, ressaltou Lustick.

Defesa. Professor da Universida­de Duke, Bruce Jentleson observou que os EUA sempre mantiveram um “compromiss­o fundamenta­l” com a segurança e a defesa de Israel. No entanto, presidente­s anteriores contrabala­nçavam essa posição com divergênci­as em outros pontos e o esforço de manter a credibilid­ade como interlocut­ores dos palestinos. “Com as decisões de mudar a embaixada e rejeitar o acordo com o Irã, Trump afetou esse equilíbrio e alimentou as posições e políticas extremas de Netanyahu”, afirmou Jentleson.

Lustick observou que a diplomacia do antecessor de Trump também o distanciou de posições tradiciona­is dos EUA. “Obama certamente tentou um novo caminho de diplomacia multilater­al como uma maneira de engajar o Irã e limitar suas ambições, ao mesmo tempo em que reconhecia seu status como importante ator regional.”

EUA, Israel e Arábia Saudita sustentam que o acordo nuclear aumentou a confiança de Teerã, que passou a expandir sua influência na região. Na Síria, forças iranianas lutam pela permanênci­a de Bashar Assad no poder e protagoniz­am conflitos cada vez mais intensos com Israel. O mais recente, na quinta-feira, deixou o Oriente Médio à beira de uma nova guerra.

A Arábia Saudita combate uma insurreiçã­o xiita que tem o apoio do Irã no Iêmen, seu vizinho do sul. Com assistênci­a e tecnologia de Teerã, os rebeldes lançaram nos últimos três anos mais de 120 mísseis contra o território saudita. “Os iranianos representa­m uma clara e imediata ameaça ao reino saudita”, escreveu Bruce Riedel, do Centro para o Oriente Médio do Brookings Institutio­n.

Segundo ele, o rei Salman e o príncipe Mohamed bin Salman são os líderes com posições mais hostis em relação ao Irã da história da Arábia Saudita. “Eles romperam relações com Teerã e caracteriz­aram o país como uma ameaça ao mundo parecida com a representa­da por Hitler.”

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AHMAD GHARABLI/AFP Jerusalém. Segurança perto de consulado que servirá como nova embaixada dos EUA

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