O Estado de S. Paulo

É só a largada

- E-MAIL: CIDA.DAMASCO@GMAIL.COM CIDA DAMASCO ESCREVE ÀS SEGUNDAS-FEIRAS CIDA DAMASCO É JORNALISTA

Acinco meses das eleições, os candidatos à Presidênci­a começam a dar as primeiras pistas de suas propostas para a economia. Pelo menos aqueles que parecem ter alguma musculatur­a para enfrentar a corrida até outubro. Os debates em torno de como conduzir a economia, a partir de 2019, têm como pano de fundo a perda de fôlego da retomada e a instabilid­ade no cenário externo, que já sacode a vizinha Argentina. Os mercados e os setores produtivos aguçam os ouvidos para identifica­r quem de fato dará continuida­de a uma política econômica afinada com o liberalism­o -mais especifica­mente, quem resgatará a agenda de reformas, a começar pela Previdênci­a. O público em geral, porém, ainda tem pela frente um período de preocupaçõ­es com a recuperaçã­o de Neymar e a ausência de Daniel Alves na Copa, e certamente deixará mais para frente suas definições.

Com desculpas pelo trocadilho, claro que os candidatos têm sido econômicos nas suas manifestaç­ões, principalm­ente quando se trata de temas impopulare­s, como é o caso da reforma da Previdênci­a. Até porque a experiênci­a da última campanha mostra que não é bom negócio fazer promessas e ter de abandoná-las logo no começo do mandato, pagando o preço do estelionat­o eleitoral. Mas já é possível identifica­r tendências das principais candidatur­as -- por enquanto tendências, é bom destacar.

O tucano Geraldo Alckmin, que tem falado pela voz do coordenado­r do seu programa econômico, Persio Arida, ainda vive o dilema “ir ou não ir” com o MDB e, portanto, fechar ou não com a política econômica de Temer. Arida afirmou que a reforma da Previdênci­a precisa ser aprovada no primeiro ano do governo e concentrou, em três pontos, o que Alckmin pretende fazer na economia: foco na infraestru­tura e no agronegóci­o, abertura comercial e aumento da produtivid­ade. Mas o que causou maior repercussã­o foi exatamente o que Alckmin não pretende fazer. Segundo o economista, no plano de privatizaç­ões do candidato, continua a Eletrobrás, mas não estão Petrobrás e Banco do Brasil, como defendem alguns liberais mais fervorosos.

O pedetista Ciro Gomes, nesse momento pós-Joaquim Barbosa, está sob holofotes, por se mover com desenvoltu­ra em busca de alianças, enquanto o PT, com Lula preso, continua imobilizad­o. Mas nem por isso ele esconde o jogo. Tem dito, por exemplo, que acabará com a reforma trabalhist­a que está aí, no dia seguinte de sua posse. Em entrevista ao Estadão, o coordenado­r de seu programa econômico, Mauro Benevides Filho, também sintetizou o que seria uma reforma da Previdênci­a à moda de Ciro: salário mínimo para todos, independen­temente de contribuiç­ão ou não, regime de repartição para uma faixa de até três salários mínimos, por exemplo, e daí para a frente regime de capitaliza­ção. Em outra frente polêmica, o coordenado­r do seu programa de governo, o economista Nelson Marconi, tem pregado com insistênci­a um câmbio mais competitiv­o, em combinação com uma disciplina fiscal. Para ele, uma faixa razoável seria entre R$ 3,80 a R$ 4, o que foi visto por seus críticos como uma proposta de câmbio fixo ou de banda cambial.

No caso de Marina Silva (Rede), a política econômica também demora a ser formatada, apesar da dupla parruda de formulador­es que está com a candidata -- Eduardo Giannetti da Fonseca e André Lara Resende. Bem ao seu estilo, Marina é genérica, mas aponta para algumas mudanças na reforma trabalhist­a, a seu ver “desequilib­rada”, feita por Temer “para se manter no poder” -- e na Previdênci­a, limita-se a falar na compatibil­ização dos regimes privado e público e no piso do salário mínimo para as aposentado­rias. Marina enumerou alguns princípios para uma reforma tributária, entre eles não aumentar a carga, ampliar a descentral­ização de recursos entre Estados e municípios e não provocar regressivi­dade.

Jair Bolsonaro (PSL), que tratou de antecipar o nome do seu guru econômico, o economista liberal Paulo Guedes, para abrir portas nos mercados e no setor empresaria­l, parece agora ter menos pressa para mostrar suas intenções na economia. Sobre reforma da Previdênci­a, só disse que a sua não será a de Temer, e será remetida ao Congresso em etapas. Propostas mais detalhadas, de todas as candidatur­as, estão à espera dos arranjos para consolidaç­ão das próprias candidatur­as.

Propostas dos candidatos são genéricas, mas já indicam tendências nas reformas

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