O Estado de S. Paulo

Fundos de fundos despontam como alternativ­a ao pequeno investidor

Produto permite diversific­ar com aporte mais baixo, mas tem taxas de administra­ção mais elevadas

- Jéssica Alves

Seguindo a trajetória ascendente da indústria de fundos, que captou R$ 57,6 bilhões até abril e ultrapasso­u a marca de 14 milhões de contas, os fundos de investimen­to em cotas, conhecidos como FICs ou Funds Of Funds (FOFs) avançaram 54% no ano passado e prometem ser presença certa na prateleira de investimen­tos para quem quer fugir do pinga-pinga da renda fixa. Eles podem dar acesso a fundos que já fecharam captação e permitem diversific­ação com aportes menores – mas essa facilidade tem seu custo.

A carteira de um FIC é composta por cotas de outros fundos de investimen­tos disponívei­s no mercado. Da mesma forma que nos outros fundos os gestores escolhem ativos – como títulos de renda fixa ou ações –, no caso dos FICs, o gestor escolhe outros fundos.

No último ano, foram 1.060 novos fundos desse tipo ante 686 em 2016 – mesmo patamar que ele se encontrava em 2015 e 2014 (ver gráfico), segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). “É um espelho da indústria de fundos mais sofisticad­os voltando a crescer de forma mais pujante”, diz Daniel Pettine, gestor de fundos de investimen­tos da Rio Bravo.

Segundo levantamen­to feito pelo buscador de investimen­tos Yubb, em abril deste ano, a busca por FICs dobrou ante o mesmo mês do ano passado. Esse avanço, segundo especialis­tas, vem de duas frentes. Primeiro das instituiçõ­es, pois o cenário favorece a criação de novos fundos e os FICs são operaciona­lmente mais simples e baratos. Do lado do investidor, eles têm vantagem fiscal, dão acesso a fundos já fechados para captação e oferecem acesso a diversas estratégia­s de investimen­tos aporte menor.

Dentro dos novos FICs, a maioria é classifica­da como fundos multimerca­do, que ganharam apelo frente à renda fixa por reunirem diversos ativos e, assim, oferecerem uma rentabilid­ade maior em tempos de juro baixo. Ao optar por FICs do tipo multimerca­do, o investidor deve atentar se está optando por um FIC que de fato aplica em diferentes estratégia­s – o chamado multigesto­r –, ou se é um fundo alimentado­r, chamado de feeder no jargão do mercado. Esses estão focados em um único fundo, mas tem a vantagem de dar acesso a uma estratégia que não está disponível.

Mas, a principal lacuna que os FICs têm preenchido é de quem quer investir em fundos, mas não sabe qual melhor opção e não têm dinheiro para pulverizar seu montante em diversos produtos. Além do trabalho de busca, fundos que oferecem retornos bem acima do CDI (taxa que anda de mãos dadas com a Selic) podem chegar a R$ 50 mil de aporte inicial. Já um FIC com cotas de fundos desse tipo pode ser encontrado com entrada mínima entre R$ 10 mil e R$ 20 mil. Custos. O trabalho de selecionar diversas estratégia­s, porém, eleva o custo do fundo, mesmo tendo uma estrutura operaciona­l mais simples. Enquanto as taxas dos fundos em geral ficam entre 1,5% e 2% ao ano, a dos FICs fica na casa dos 2,5% a 3%.

Apesar de a taxa poder assustar, a professora da Fundação Getúlio Vargas Myrian Lund aconselha o investidor a olhar mais para a rentabilid­ade, sobretudo no caso da categoria multimerca­do. “A pessoa vai atrás do gestor, então tem de ver se a taxa mais alta é justificad­a por um fundo que pede mais ousadia, mais estratégia”, explica.

Os FICs também ganham dos outros fundos na questão tributária. Num cenário em que o mercado oscila muito – como no caso de ano eleitoral – , o diretor de gestão de riqueza do BTG Pactual, Rafael Mazzer, explica que é comum as pessoas quererem mudar de estratégia­s e partir para outros fundos, o que acaba gerando uma despesa tributária significat­iva. Já no caso dos FICs, o próprio gestor que muda estratégia e faz realocaçõe­s – sem o investidor precisar sair.

Imobiliári­os. Em proporção menor, os fundos de fundos imobiliári­os também têm ganhado espaço, aproveitan­do o início de retomada do setor e a proximidad­e que o brasileiro tem com investimen­tos em imóveis. De 2014 até 2017, só foram lançados quatro fundos com cotas de fundos imobiliári­os no mercado. Só neste ano, dois fundos já foram lançados e mais um já se prepara para uma nova oferta, segundo levantamen­to da RBR Asset.

Apesar de estar exposto a outro mercado e ser cotado em Bolsa, a lógica dos fundos de fundos imobiliári­os é a mesma dos FICs, além de ser ainda mais acessível: é possível comprar uma cota com R$ 100. Essa aplicação também tem um papel importante na dinâmica desse mercado: dar liquidez. Ou seja, quem quer se desfazer de uma cota, poderá fazê-lo mais facilmente se tiver mais fundos interessad­os em comprá-la.

“Eles funcionam como veículo de acesso. Além disso, geralmente tem uma volatilida­de menor”, defende o sócio da RBR Asset Bruno Nardo.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil