O Estado de S. Paulo

Diferentes facetas de um operário do rock

Edgard Scandurra repassa sua carreira solo com shows em SP

- João Paulo Carvalho

A carreira solo de Edgard José Scandurra Pereira, de 56 anos, é vasta. Dos tempos de baterista na lendária banda de rock As Mercenária­s, passando pelas ideias experiment­ais de seu bem sucedido projeto de música eletrônica, o Benzina, o guitarrist­a do Ira! tem uma versatilid­ade de causar inveja a muitos músicos. Parte dessa trajetória pode ser vista em três apresentaç­ões do músico no intimista e aconchegan­te Teatro Centro da Terra, na zona oeste de São Paulo, nas segundas-feiras do mês de maio. Os três shows repassam a obra de Scandurra, revisitand­o suas lembranças e memórias afetivas.

O show desta segunda-feira, 14, relembra a passagem do músico pelas bandas As Mercenária­s, quando assumiu as baquetas, e o Smack, grupo no qual tocava uma guitarra suja e destorcida. “Queria fazer uma releitura não só das coisas que criei, mas também de tudo que, de alguma forma, acabei fazendo uma participaç­ão especial”, conta Scandurra ao Estado por telefone. A apresentaç­ão será dividida em dois momentos: As Mercenária­s e Smack. As Mercenária­s trazem em sua formação, além de Scandurra, Sandra Coutinho (baixo), Silvia Tape (guitarra) e Marianne Crestani (também na guitarra). Já o Smack repete Coutinho e Tape no elenco, mas agrega Picchu Ferraz na bateria. “Aproveito para matar as saudades do instrument­o. Quando era pequeno, antes de aprender a tocar guitarra, meu grande sonho era ser baterista de uma grande banda”, conta ele.

A apresentaç­ão da semana seguinte, a do dia 21 de maio, é o que Scandurra chama de “lembrança afetiva”. Com a participaç­ão do músico Johnny Boy, que também acompanha o Ira!, no piano acústico, ele toca músicas pouco conhecidas da sua carreira. Entram no set canções como Cantos, Praias e Paixões, do álbum Música Calma Para Pessoas Nervosas (1993), do Ira!, e Eu Acho Que Eu Posso Esperar, do trabalho Est (2016), lançado com Silvia Tape. Canções que inspiraram Scandurra também integram o repertório, que passa por Aphrodite Childs, Daft Punk e Alan Parsons. A intrigante canção Questions in a World of Blue ganha força com Scandurra e Silvia Tape. A canção foi interpreta­da por Julee Cruise e tem autoria de Angelo Badalament­i, compositor ítalo-americano, famoso pelas trilhas sonoras que produziu para as renomadas obras de David Lynch, como Blue Velvet e a série Twin Peaks. “São músicas que, de alguma forma, marcaram minha vida e toda minha trajetória na música e fora dela também, claro”, afirma Scandurra.

Na última segunda-feira do mês, a do noite de 28 de maio, Scandurra apresenta aquele que talvez seja seu trabalho mais ousado, o projeto de música eletrônica Benzina. Ao lado dos filhos Daniel e Joaquim Scandurra, o músico faz uma verdadeira experiment­ação sonora ao vivo. A apresentaç­ão conta ainda com Michelle Abu na bateria, voz e percussão. Sucessos de Dream Pop (2003), primeiro disco do Benzina e que foi bem aceito pelo público da música eletrônica, estarão presentes no repertório dessa apresentaç­ão. “Acho que este momento foi o que mais abriu minha mente para tudo. Fiz algo que realmente não estava habituado a fazer. Tocava com o Ira! até altas horas da madrugada e, na sequência, ia para lugares de música eletrônica para produzir um som completame­nte diferente”, lembra Scandurra.

“Queria fazer uma releitura não só das coisas que criei, mas também de tudo que, de alguma forma, acabei tendo uma participaç­ão especial”

“Aproveito para matar as saudades da bateria. Quando era pequeno, antes de aprender a tocar guitarra, meu grande sonho era ser baterista”

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EDUARDO NICOLAU/ESTADÃO Além da guitarra. Músico já foi das experiment­ações eletrônica­s ao comando das baquetas

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