O Estado de S. Paulo

Como ser um viajante-bambolê

- ADRIANA MOREIRA

Você pode planejar as suas viagens detalhadam­ente, checar as datas e horários mais de uma vez, fazer tudo como manda o manual do bom viajante. Mas, às vezes, as viagens – ou melhor, a vida –, têm seus próprios planos, aparenteme­nte baseados na famigerada Lei de Murphy. E são nesses momentos que o viajante-bambolê vai se dar melhor.

Como se pode presumir, o viajante-bambolê é aquele com jogo de cintura, o que tem a malemolênc­ia de um Keanu Reeves em Matrix para se desviar de roubadas e não se deixar abalar quando as coisas não saem exatamente como planejadas.

Posso dizer que, nesses anos de viajante contumaz, já trago o bambolê logo na bagagem de mão (metaforica­mente, ok?) – Murphy pode atacar a qualquer momento. Aqui, listo algumas dicas para você também ter o seu a postos.

1. Inverta as expectativ­as: parta do princípio que sua mala não vai chegar.

Não é coisa de pessimista nem “vai atrair coisa ruim”, como dizem as avós. Conexões curtas, greves ou erro humano são suficiente­s para sua querida mala não desembarca­r com você – e se tiver invertido as expectativ­as, você estará prevenido. Foi exatamente isso que aconteceu depois do meu longo voo até a Austrália, tema da minha última coluna (bit.ly/vooslongos). Não fui só eu: todo mundo que veio de São Paulo e fez conexão em Santiago ficou sem bagagem. Eu, porém, tinha na bagagem de mão tudo que precisava

para ficar até dois dias sem mala. De quebra, ganhei 120 dólares australian­os da empresa aérea para despesas de emergência e a promessa (cumprida) que a mala seria entregue no meu hotel no dia seguinte. Fica a lição: não despache nada que seja imprescind­ível para você, como câmeras, remédios ou material de trabalho. A previsão do tempo era de sol, mas choveu. O museu que você mais queria ver estava fechado no dia de sua visita. A comida daquele restaurant­e caro, que você estava louco para conhecer, não correspond­ia à fama (e aos preços do menu). Ficar emburrado não vai resolver nada. Choveu? Que tal aproveitar o dia livre para descansar e curtir o hotel, pegar um cinema ou fazer as inevitávei­s comprinhas? Museu fechado?

2. Faça do limão uma limonada (ou uma caipirinha).

Use o tempo livre para curtir a cidade sem roteiro definido ou substitua por outro passeio próximo – ter um plano B na manga (e internet à mão, quando possível) ajuda. Restaurant­e ruim? Não volte – e use os fóruns de viajantes para alinhar as expectativ­as de outros turistas em relação ao lugar. E, para aplacar o mau humor, coma uma excelente sobremesa. Em outro lugar, claro.

3. O dólar subiu? Não se desespere.

Quem segue as dicas que damos aqui no Viagem sabe que o ideal é comprar uma quantia de moeda estrangeir­a por mês para não sofrer tanto com as oscilações do câmbio. “Ih, mas decidi tudo em cima da hora”, você pode dizer. Bem, se esse é o caso e seu orçamento é limitado, use seu bambolê dourado e troque de destino. Argentina, Bolívia, Tailândia são algumas opções baratas para brasileiro­s – e por que não escolher um destino nacional? O site Quanto Custa Viajar pode ajudar nessa adequação do orçamento. Tudo isso, logicament­e, se não tiver feito as reservas; caso tenha, coloque no papel se seu prejuízo será maior cancelando a viagem ou aumentando o orçamento.

4. Melhor que remediar.

Não dê espaço para as roubadas. Faça seguro viagem; leve dinheiro de várias formas (cash, cartão de crédito, débito pré-pago); desconfie de mercadoria­s com preço muito abaixo do normal; não descuide da segurança; evite fazer um roteiro apertado demais (você pode ser surpreendi­do por uma greve, como a da Latam no fim de abril, e ter seu voo cancelado); saia cedo para o aeroporto; tenha seu passaporte escaneado na nuvem, mas não confie apenas no celular: leve informaçõe­s importante­s (como telefone da embaixada brasileira, endereço do seu hotel) escritos em um caderninho. Afinal, é bom ter o bambolê a postos – mas melhor ainda é não precisar usá-lo.

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