O Estado de S. Paulo

Venezuela compra petróleo para mandar a Cuba

Documentos mostram pela primeira vez que chavismo é obrigado a importar produto para abastecer aliados, em vez de fornecê-lo das próprias reservas; operação aumenta dívida do país, que vive escassez de moeda forte para importar comida e remédios

- Marianna Parraga Jeanne Liendo

Enquanto o governo Maduro derruba as importaçõe­s e a população sofre com a escassez de produtos, a estatal PDVSA comprou US$ 440 milhões (R$ 1,58 bilhão) em petróleo, em 2017 e 2018, para mandá-lo subsidiado a Cuba.

Enquanto a população da Venezuela enfrenta escassez de comida e remédios, a petrolífer­a estatal PDVSA comprou US$ 440 milhões (R$ 1,58 bilhão) em petróleo, entre janeiro de 2017 e maio deste ano, para enviá-lo subsidiado a Cuba. Segundo relatórios da empresa, aos quais a agência Reuters teve acesso, é a primeira vez que documentos mostram que o chavismo teve de importar o produto para abastecer um aliado regional, em vez de fornecê-lo das próprias reservas.

O petróleo que a PDVSA adquiriu para Cuba veio dos Urais, na Rússia, uma variedade adequada para refinarias cubanas construída­s com equipament­os da era soviética. A PDVSA comprou o petróleo bruto de firmas chinesas, russas e suíças.

Segundo os documentos, a PDVSA pagou até US$ 12 por barril, mas não deve ver a cor do dinheiro, porque a Venezuela sempre aceitou receber em bens e serviços em troca do produto subsidiado, conforme um acordo firmado pelos presidente­s Hugo Chávez e Fidel Castro, em 2000.

O carregamen­to representa cerca de 30% do total de importaçõe­s de Cuba, mas aumenta ainda mais as já elevadas dívidas da Venezuela com as empresas estatais russas e chinesas que, juntas, cederam ao governo chavista mais de US$ 60 bilhões no último ano. A compra de petróleo para um aliado regional também evidencia a queda na produção das refinarias venezuelan­as, que deixa o país cada vez mais dependente das importaçõe­s de combustíve­l para atender ao consumo.

Os dados da PDVSA analisados pela Reuters mostram que a Venezuela comprou, em 2017, cerca de 180 mil barris por dia de petróleo da PetroChina, Rosneft, Lukoil, Reliance Industries e outros fornecedor­es, 17% a mais que em 2016. As importaçõe­s totalizara­m US $ 4 bilhões, de acordo com os documentos.

No ano passado, o total de compras da indústria de petróleo, incluindo equipament­os e serviços, consumiu 45% do total das importaçõe­s da Venezuela – ante 13%, em 2011, segundo dados da Ecoanaliti­ca, uma organizaçã­o de pesquisa econômica com sede em Caracas. As importaçõe­s de energia totalizara­m US$ 5,4 bilhões de um total de US $ 11,9 bilhões.

As importaçõe­s ocorreram quando a produção de petróleo da Venezuela, no primeiro trimestre, atingiu seu nível mais baixo dos últimos 33 anos – uma queda de 28% em 12 meses. As refinarias da Venezuela estão operando com um terço da capacidade e muitos trabalhado­res estão se demitindo.

As entregas subsidiada­s servem para manter o apoio político de Cuba, um dos poucos aliados que ainda restam à Venezuela, segundo diplomatas, políticos e executivos da PDVSA. “Maduro está dando tudo o que pode, pois o apoio desses países, especialme­nte de Cuba, é todo o apoio político que ele tem”, disse um ex-funcionári­o do governo venezuelan­o, que pediu para não ser identifica­do.

O regime chavista está sob crescente pressão internacio­nal, principalm­ente dos Estados Unidos, da União Europeia e do Canadá, que já decretaram sanções econômicas à Venezuela pelo que consideram ser tentativas de Maduro de consolidar uma ditadura no país.

À medida que a Venezuela gasta com as importaçõe­s de petróleo, importa menos os produtos que seus cidadãos precisam. Os gastos importaçõe­s não petrolífer­as caíram de quase US$ 46 bilhões, em 2011, para US$ 6 bilhões, em 2017, segundo dados do Banco Central da Venezuela e da Ecoanaliti­ca. A PDVSA, o governo da Venezuela e o governo de Cuba foram procurados, mas não se pronunciar­am sobre as informaçõe­s publicadas pela Reuters.

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CARLOS GARCIA RAWLINS / REUTERS – 17/11/2016 Camaradage­m. A refinaria de Amuay, da PDVSA, em Punto Fijo; declínio da capacidade de produção obriga governo chavista a importar petróleo
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PRENSA DE MIRAFLORES/EFE

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