O Estado de S. Paulo

Joesley é denunciado por corrupção pelo MPF

Sócio da J&F, empresário é acusado de fazer pagamentos a procurador em troca de informação sobre investigaç­ões da Operação Greenfield

- Breno Pires Teo Cury / BRASÍLIA

O Ministério Público Federal denunciou, pela 1.ª vez, o empresário Joesley Batista, da J&F. Ele é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros crimes. A denúncia desconside­ra acordo de delação firmado com a PGR e depois rescindido. Na delação, Joesley envolveu o presidente Temer.

O Ministério Público Federal denunciou, pela primeira vez, o empresário Joesley Batista, sócio da J&F, e Francisco de Assis e Silva, ex-diretor jurídico do grupo, sob acusação de corrupção ativa, lavagem de dinheiro, violação de sigilo funcional e embaraço de investigaç­ão. A denúncia desconside­ra os benefícios estabeleci­dos no acordo de delação firmado no ano passado com a Procurador­ia-Geral da República (PGR) e depois rescindido.

Na delação, Joesley envolveu o presidente Michel Temer, ao gravar conversa entre os dois no Palácio do Jaburu, em encontro na noite do dia 7 de março de 2017. O acordo de delação de executivos da J&F foi rescindido pela PGR por omissão de informaçõe­s e aguarda homologaçã­o do Supremo Tribunal Federal.

O Ministério Público também denunciou o procurador da República Ângelo Goulart Villela, os advogados Juliano Costa Couto, atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF), e Willer Tomaz, além do publicitár­io André Gustavo Vieira.

Os denunciado­s teriam pago Villela, que é acusado de beneficiar Joesley e a empresa Eldorado Celulose com informaçõe­s sobre as investigaç­ões da Operação Greenfield, que apura irregulari­dades em fundos de pensão. A denúncia, apresentad­a em 27 de abril ao Tribunal Regional Federal da Primeira Região, vem cerca de um ano após a delação.

Segundo o MPF, as vantagens oferecidas a Villela teriam sido o pagamento de um terço de R$ 3,7 milhões efetuado pela Eldorado Brasil Celulose ao escritório Willer Tomaz Advogados Associados, “sob o pretexto de prestação de serviços de advocacia”; o pagamento de R$ 50 mil mensais, “a título de ‘ajuda de custo’”; e o porcentual de êxito na redução dos valores de avaliação das ações da Eldorado no âmbito da Operação Greenfield. Willer Tomaz teria levado a promessa de vantagens indevidas ao então procurador da República no DF – uma das contrapart­idas seria a atuação dele para arquivar a investigaç­ão.

A defesa de Joesley informou que não tinha conhecimen­to da denúncia, mas, caso confirmada, seria um “desrespeit­o às cláusulas do acordo de colaboraçã­o, firmado entre a PGR e o empresário, que preveem a não denúncia”. A PGR não respondeu aos contatos do Estado. A Procurador­ia da República da Primeira Região disse que não poderia falar sobre a denúncia porque ela está sob sigilo.

Acerto. A denúncia aponta que o presidente da OAB-DF, Juliano Couto, foi um dos articulado­res do acerto com Joesley Batista, Francisco de Assis e a Eldorado Brasil Celulose S/A. Já o publicitár­io André Gustavo, segundo a denúncia, “também obteve o mesmo proveito econômico que Juliano Costa Couto por apresentá-lo a Joesley e insistir na contrataçã­o, exercendo a função de agenciador e viabilizad­or do acerto criminoso”.

Em nota, Willer Tomaz disse que não há “qualquer prova de algum ato ilícito” que tenha cometido e afirmou que não há credibilid­ade dos delatores.

A defesa do procurador Ângelo Villela afirmou que seu cliente é inocente e negou “veementeme­nte” a prática de todos os delitos pelos quais é acusado. O advogado Gustavo Badaró, que integra a defesa de Villela, classifico­u a denúncia como “infundada e incoerente”.

Por meio de nota, Juliano Costa Couto se disse surpreso diante da notícia de que seu nome consta em aditamento à denúncia oferecida pelo MPF. “Não cometi nenhuma ilegalidad­e.”

A reportagem não conseguiu contato com Francisco de Assis e Silva e André Gustavo.

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