Vera Magalhães
Ao ignorar denúncias e índices de desaprovação, Temer faz comemoração fake.
Michel Temer ignorou completamente um aspecto importante de seus dois anos de governo no balanço para lá de positivo que fez no evento de ontem no Palácio do Planalto, nas peças publicitárias e em artigo sobre a recuperação da economia promovida por sua administração.
Mas, como efemérides não seguem a “lógica Ricupero”, aquela segundo a qual o que é bom a gente mostra e o que é ruim a gente esconde, outro aniversário espreita o presidente: amanhã completa um ano o caso J&F, que eclodiu em 17 de maio de 2017 e tragou o governo para a impopularidade recorde da qual não consegue sair.
Ao ignorar tanto as duas denúncias de que foi alvo quanto os índices de desaprovação de seu governo na festa modesta que promoveu, Temer acabou por produzir uma comemoração fake, em que a menção às reais conquistas econômicas parece só uma tentativa pálida de melhorar a imagem.
Melhor seria enfrentar todos os aspectos dos dois anos, ainda que para se contrapor à narrativa de que o presidente tenha cometido ilícitos antes ou depois de assumir. Temer já o fez em outras circunstâncias, com maior ou menor ênfase, e as próprias circunstâncias obscuras que cercam o acordo de delação com Joesley, Wesley e companhia lhe dão alguns argumentos.
Ao simplesmente tentar fugir do assunto, ele cai na armadilha de se deparar com o outro aniversário menos auspicioso poucos dias depois. E certamente ele será lembrado, mesmo que sem bolo ou Parabéns a você.