O Estado de S. Paulo

PF apura se dinheiro do tráfico foi usado para pagar propinas

Agentes detiveram dois doleiros; um deles tinha sido preso na Lava Jato e é suspeito de movimentar recursos de traficante

- / J.A., F.M. e EDISON FONSECA, ESPECIAL PARA O ESTADO

Dinheiro do tráfico de drogas entrava de um lado e era usado para pagar propina a políticos do outro. Esse seria o modo de agir de um dos principais acusados presos ontem pela Polícia Federal na Operação Efeito Dominó: o doleiro Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, que já havia sido detido em 2014, na Operação Lava Jato.

Além dele, a PF deteve sete acusados e cumpriu 18 mandados de busca e apreensão nos Estados do Rio, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e São Paulo. Ceará trabalhava para Alberto Youssef, um dos principais personagen­s da Lava Jato.

Essa não é a primeira vez que personagen­s envolvidos na Lava Jato são investigad­os por suposta lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. Isso já havia acontecido no início da operação, em março de 2014.

A conexão atual dos doleiros com o tráfico seria Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, preso na Operação Spectrum, em julho de 2017. Cabeça Branca é considerad­o pela PF um dos maiores traficante­s do Brasil e tem atuação em diversos países. Detido no ano passado em Sorriso (MT), foi transferid­o para o presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Real e dólar. Segundo o delegado Igor Romário de Paula, coordenado­r da Lava Jato em Curitiba, os doleiros atuavam como instituiçã­o financeira paralela para os dois lados. “Pessoas no Brasil precisavam de reais para utilizar na corrupção política e tinham dólares no exterior. Na outra ponta, o traficante precisava de dólares para comprar drogas no exterior e tinha dinheiro disponível no Brasil, que precisava ser lavado. Estes doleiros aproveitav­am o fato de estarem exercendo uma atividade

Igor Romário de Paula

legal para lavar o dinheiro do tráfico”, afirmou.

Cerca de 90 policiais participar­am ontem das buscas. De acordo com o delegado, ainda não há uma estimativa de quanto foi o volume de dinheiro movimentad­o pelo esquema, mas que já foi apurado que apenas Cabeça Branca realizou transações acima de US$ 138 milhões (cerca de R$ 500 milhões). “A Polícia Federal espera obter mais detalhes das operações e dos valores envolvidos a partir das prisões realizadas hoje (0ntem)”, disse o delegado.

Segundo ele, Ceará havia firmado um acordo de delação premiada, na Operação Lava Jato, com o Ministério Público Federal e homologado pelo Supremo Tribunal Federal. Na delação, o doleiro disse ter entregue dinheiro em espécie para políticos de três partidos.

Outro doleiro preso nesta operação é Edmundo Gurgel Júnior, que também trabalhou com Youssef e foi investigad­o na Operação Farol da Colina, envolvendo fraudes no extinto Banestado. O Estado procurou as defesas de Ceará, Cabeça Branca e de Gurgel Júnior, mas não conseguiu localizá-las.

“Pessoas no Brasil precisavam de reais para usar na corrupção política e tinham dólares no exterior. Na outra ponta, o traficante precisava de dólares.”

DELEGADO DA PF

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