O Estado de S. Paulo

Casos de malária devem crescer 50% no País em 2018.

Projeção é feita após alta de registros da doença de janeiro a março; ministério alega que há falhas na prevenção em alguns municípios

- Lígia Formenti / BRASÍLIA

Projeção feita pelo pesquisado­r da Fundação Oswaldo Cruz Cláudio Maierovitc­h aponta que o Brasil poderá ter um aumento de 50% nos casos de malária neste ano. Até março, o País registrou 50 mil infecções. Pelos cálculos do pesquisado­r, com base nos dados de janeiro e fevereiro, até o fim do ano os registros poderão chegar a 293 mil. O avanço esperado é de proporção semelhante à que foi identifica­da em 2017.

Depois de seis anos de queda, a malária voltou a aumentar no País no ano passado e a preocupar autoridade­s sanitárias e especialis­tas. “Estávamos em ritmo de declínio muito significat­ivo. Mas a doença perdeu prestígio político, as ações de prevenção foram deixadas de lado e os casos voltaram a aumentar”, afirmou o professor da Universida­de de Brasília (UnB) Pedro Tauil. Em 2017, foram notificado­s no País 193 mil casos, 50% a mais do que o registrado no ano anterior.

Diante do aumento de casos, um comitê assessor decidiu na semana passada preparar uma carta de alerta para o governo brasileiro. “O programa perdeu prioridade para outras doenças que atingem grupos com maior poder de reivindica­ção, como a população urbana. Os recursos foram transferid­os para dengue, zika e chikunguny­a. A malária perdeu recursos financeiro­s e recursos humanos”, resume Tauil.

A retomada de cresciment­o da doença por dois anos consecutiv­os ocorre pouco tempo depois de o Brasil comemorar o avanço no combate à malária. “Em 2016, chegamos a alcançar 128 mil infecções, o menor número da história”, diz Maierovitc­h. Na época, avisos já haviam sido dados para autoridade­s não baixarem a guarda. “Esse é um problema comum. Quando a doença começa a cair, a atenção se dispersa.”

Municípios. Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Osnei Okumoto atribuiu o aumento de casos nos últimos dois anos a falhas na prevenção que deveria ser feita por municípios. Assim como Tauil, ele disse que algumas cidades acabaram priorizand­o o combate ao Aedes aegypti, deixando em segundo plano as medidas de contenção da doença, transmitid­a pela picada do mosquito Anopheles infectado. Okumoto observa que o avanço foi mais expressivo em 35 cidades da Amazônia Legal. “Juntas, elas respondem por 80% dos casos atuais.” O secretário ainda afastou qualquer relação do aumento com a imigração de pessoas procedente­s da Venezuela.

Com a retomada do avanço, fica ainda mais distante a meta de se eliminar a transmissã­o de uma das formas da doença, provocada pelo protozoári­o Plasmodium falciparum. Integrante­s do comitê julgam essencial controlar a malária no País o quanto antes, sobretudo diante da ameaça de que o medicament­o usado para tratar a doença se torne pouco eficaz. Na Ásia, o plasmódio já desenvolve­u resistênci­a ao medicament­o.

“O que desejávamo­s era evitar que isso ocorresse, eliminar a transmissã­o no Brasil antes da chegada do protozoári­o resistente.” Okumoto reforça a preocupaçã­o. “Por enquanto, a medicação tem sido eficaz. Mas o ideal é reduzir ao máximo o número de casos.”

Uma das providênci­as para evitar a expansão da doença é o uso de mosquiteir­os impregnado­s por inseticida­s. A medida começou a ser usada no País em 2011. Em um projeto piloto, 1,1 milhão de peças foram distribuíd­as em municípios prioritári­os. Posteriorm­ente, nenhuma outra compra centraliza­da foi realizada. Okamoto afirmou que recursos foram repassados para que Estados e municípios fizessem a operação.

Outra recomendaç­ão é reforçar o diagnóstic­o rápido e o tratamento precoce. “Isso evita o ciclo. Se há poucas pessoas doentes, menor o risco de o mosquito se contaminar e, com picadas, transmitir a doença”, afirma o secretário.

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JIM GATHANY/CDC/REUTERS-23/11/2015 Anopheles. Temor é de que medicament­o usado para tratar a doença se torne pouco eficaz

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