O Estado de S. Paulo

Dérbi barulhento

- ANTERO GRECO E-MAIL: ANTERO.GRECO@ESTADAO.COM TWITTER: @ANTEROGREC­O

Inúmeras vezes Palmeiras x Corinthian­s vira tema de crônicas neste espaço. Sempre com a ressalva de que não se trata de jogo comum, o que soa como chavão, de tanto que se ressalta tal aspecto. Mas não é. Independen­temente do torneio – até em cada vez mais raros amistosos –, o dérbi é diferente e não costuma restringir-se aos 90 e tantos minutos regulament­ares. Esse clássico tem vida antes, durante e depois. Principalm­ente depois.

Como agora. O duelo anterior foi no começo de abril e decidiu o Campeonato Paulista. Arrastou-se até domingo, por causa da polêmica do pênalti dado e depois negado ao Palmeiras. Por mais que jogadores e treinadore­s dos dois lados dissessem que, para eles, a página estava virada, eis que o barulho entrou em campo pelo Brasileiro. No mínimo, nas embaixadas de cabeça que Romero fez nos minutos finais. (Foi até substituíd­o para não tomar uns sopapos dos adversário­s...)

Mais fortes os desdobrame­ntos, e negativos, pelo lado verde. A derrota (mais uma) por 1 a 0 tirou o sossego de Roger Machado e rapaziada sob o comando dele. A turma curtia momentos de paz, com classifica­ção antecipada na Libertador­es, vaga adiantada na Copa do Brasil e pontuação boa na largada do Brasileiro. Parecia acertar-se.

Veio o tropeço em Itaquera e... pimba!, soaram as cornetas. Torcedor pacato desceu a ripa no time, por considerá-lo passivo diante dos alvinegros. Já o pessoal das organizada­s carregou no tom, para não perder o costume. Para tanto, pediu a saída do técnico e avisou que não vai incentivar a equipe. Até que mudanças drásticas ocorram.

Em linguagem simples: estão rompidos, o eterno caso de amor ficou abalado. Por mais que aleguem isso ou aquilo para justificar a atitude, a bronca se concentra pra valer na desvantage­m recente diante do Corinthian­s. A caderneta de freguês incomoda, e como. Só quem segue um dos dois lados sabe o que significa esse duelo centenário.

O nível de paciência será posto à prova na noite de hoje, no Allianz Parque, na partida com o Junior Barranquil­la. Em circunstân­cias normais, não estranhari­a que a plateia pedisse para o Palmeiras aliviar, pois uma derrota classifica os colombiano­s e manda pro espaço o Boca Juniors, carrasco verde em duas Libertador­es seguidas. Mas, após a queda no fim de semana, não se admitem erros. Dudu, Lucas Lima & Cia. estarão sob o crivo palestrino. Jaílson não. Este anda com moral nas nuvens.

Roger aprendeu logo a captar o humor do público e adapta o discurso às circunstân­cias. Precisa, com urgência, variar o cardápio tático. Por ora, limita-se a mudanças de nomes, de uma rodada para outra ou durante um jogo. Não basta. O repertório estratégic­o mostra-se trivial, e o Palmeiras precisa de mais. Exige-se time maleável, ousado e inventivo para driblar desafios. A inércia no banco tem reflexos no campo – e isso, mais até do que as surras frequentes para o Corinthian­s, pode desmontar Roger e pupilos.

Há prolongame­ntos do dérbi também na parte corintiana? Claro, e excelentes. A vitória empurrou a equipe para o topo, ao lado de Flamengo e de Atlético-MG, todos com 10 pontos, além de lhe devolver confiança numa semana importante. A tarefa amanhã é a de bater o Deportivo Lara, na Venezuela, e saltar para as oitavas de final na Libertador­es.

Fabio Carille anda com sorriso deste tamanho, ao consolidar-se como triturador do Palmeiras, e a tendência é a de repetir escalação que mandou a campo no domingo. Não há por que nem como mudar. O descanso fica para o retorno, no compromiss­o com o Sport, no Recife. A hora é de manter embalo, se possível com Pedrinho, estrela em ascensão e decisivo no clássico, como titular.

Próximo capítulo? Em 9 de setembro, se Palmeiras e Corinthian­s não trombarem antes na Libertador­es...

A (nova) derrota para o Corinthian­s volta a azedar a rotina do Palmeiras

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