O Estado de S. Paulo

Chilique com o Fed

- FÁBIO ALVES E-MAIL: FABIO.ALVES@ESTADAO.COM TWITTER: @COLUNAFABI­OALVE FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS COLUNISTA DO BROADCAST

Desde o início de abril, quando os juros pagos pelos títulos do Tesouro americano de 10 anos começaram a subir com força, ultrapassa­ndo a barreira dos 3,0%, os mercados globais enfrentam grande turbulênci­a, com o dólar se fortalecen­do em relação às principais moedas mundiais e as bolsas de valores sofrendo forte correção nos preços.

Por trás desse nervosismo está o temor de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) acabe por acelerar o ritmo do aperto monetário mais do que o previsto. O mercado ainda precifica três altas dos juros americanos neste ano, enquanto é crescente o número de analistas que projetam um total de quatro elevações.

A expectativ­a é de que, na sua próxima reunião, marcada para os dias 12 e 13 de junho, o Fed passe a sinalizar oficialmen­te a projeção de quatro altas de juros neste ano.

Da última vez que divulgou suas projeções macroeconô­micas, em março, a mediana das estimativa­s dos 15 diretores do Fed apontava para três elevações neste ano, mas ficou faltando uma única projeção para que a mediana tivesse sido alterada para quatro altas.

O menor ou maior número de elevações dos juros neste ano não é o que deveria deixar os investidor­es animados ou preocupado­s, na opinião do economista-chefe da Mauá Capital, Alexandre Ázara. Para ele, o que interessa é qual será a taxa de juros ao fim do atual ciclo. “Essa taxa terminal não deverá causar maior estresse”, diz.

A aposta de Ázara é de que o Fed vai encerrar o atual ciclo com juros a 3,25% em 2020, elevando a taxa quatro vezes neste ano e três em 2019.

Para fazer sua aposta da taxa terminal de 3,25%, Ázara utilizou como premissa uma inflação de 2,0% mais uma taxa neutra de juros de 0,75%, com base no modelo criado por John Williams (futuro presidente do Fed de Nova York) e por Thomas Laubach (economista do Fed) que estima uma taxa neutra entre 0,40% e 0,90% para uma inflação entre 1,5% e 2,5%. Além disso, Ázara acrescenta 0,50 ponto porcentual à sua estimativa diante da sinalizaçã­o do Fed de que manteria a taxa nominal de juros acima da neutra.

Atualmente, a mediana das estimativa­s dos 15 diretores do Fed aponta para uma taxa terminal de 3,50%, enquanto a projeção dos votantes no Fomc (com base na interpreta­ção do mercado) é de juros a 3,75% em 2020.

O cenário de estresse seria, na visão de Ázara, se a inflação americana subisse rapidament­e para 2,5%, forçando o Fed a migrar para uma política monetária apertada ao jogar os juros para bem acima de 4%.

É bom lembrar que o Fed vem sinalizand­o recentemen­te que se, eventualme­nte, a inflação ficar um pouco acima da sua meta de 2% por algum tempo, isso não seria motivo suficiente para acelerar o ritmo de altas de juros nem aumentar o orçamento total do atual ciclo.

Para Ázara, se a inflação americana ficar entre 1,8% a 2,2% no ano que vem, a taxa terminal do atual ciclo ficará entre 3,0% e 3,50%. “Vejo um risco muito baixo de a inflação americana ficar muito acima de 2,2%: não há um superaquec­imento da economia tampouco existe pressão mais forte sobre os salários”, explica Ázara.

Ele lembra que, como a economia americana está a pleno emprego e crescendo acima do seu potencial, é não somente justificáv­el a normalizaç­ão da política monetária, como também saudável. “Até porque esse ciclo de alta de juros ocorre num momento em que as condições financeira­s nos Estados Unidos estão no nível mais frouxo dos últimos anos”, diz.

O índice de condições financeira­s dos Estados Unidos calculado pelo banco Goldman Sachs, que leva em conta os preços das ações em bolsas de valores, as taxas de juros de longo prazo e a cotação do dólar, entre outras variáveis, está ao redor de 99, abaixo do pico de 101 quando o Fed subiu os juros pela primeira vez no atual ciclo em dezembro de 2015.

O fato é que os investidor­es estavam demasiadam­ente lenientes em relação ao processo de normalizaç­ão monetária nos Estados Unidos. De repente, despertara­m para a realidade da alta de juros pelo Fed e não gostaram do que viram. Mas até quando vai durar esse chilique?

Investidor­es estavam lenientes com a normalizaç­ão monetária nos Estados Unidos

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