O Estado de S. Paulo

Argentina rola dívida e acalma mercado

Banco Central conseguiu renovar ontem títulos de dívida de US$ 25 bilhões, o que fez com que o peso se valorizass­e em relação ao dólar

- Luciana Dyniewicz ENVIADA ESPECIAL / BUENOS AIRES

Em um dia tenso no mercado internacio­nal e crucial para a Argentina, dado o vencimento de uma dívida de curto prazo emitida pelo Banco Central do país de 617 bilhões de pesos (cerca de US$ 25 bilhões), o governo de Mauricio Macri finalmente conseguiu acalmar os investidor­es, fazendo com que o dólar fechasse em queda de 3,16%, cotado a 24,5 pesos.

A terça-feira vinha sendo chamada de “superterça” no país, pois havia a preocupaçã­o de que os investidor­es não quisessem renovar os títulos do BC, as Lebacs, por não confiarem na economia argentina e na capacidade de pagamento da autoridade monetária. Uma opção por parte dos investidor­es de não renovar os papéis implicaria mais emissão de pesos, o que, por sua vez, resultaria em novas desvaloriz­ações da moeda local.

O BC, porém, conseguiu renovar a dívida em 96%. Colaborou para isso o fato de o ministro de Finanças, Luis Caputo, ter anunciado de surpresa um leilão de títulos em pesos do Tesouro Nacional. Com a venda de papéis com vencimento para 2023 e 2025 – a taxas fixas de 20% e 19%, respectiva­mente –, o governo levantou US$ 3 bilhões. Segundo Caputo, o resultado do leilão representa um “voto de confiança muito contundent­e no país e no presidente Mauricio Macri”, em um dia em que as moedas emergentes sofreram.

Para o economista Andrés Borenstein, do BTG na Argentina, um mercado calmo na “superterça” era essencial para a Argentina. “Se não houver nenhum problema no mercado local e internacio­nal até o fim de semana, a sensação será de que não há mais pânico”, disse.

Ação. De acordo com o economista Dante Sica, sócio da consultori­a Abeceb, a Argentina começou a encerrar a turbulênci­a pela qual passou nas últimas duas semanas nessa “superterça”. “Estamos em processo de estabiliza­ção. Houve uma ação do governo concreta e coordenada, e voltaram fundos que haviam deixado o país. Há sinais mais claros de que a corrida cambial foi interrompi­da.”

Para Martín Ravazzani, economista da consultori­a Ecolatina, é “difícil” dizer que a crise acabou, mas a “impressão” é que o mercado está se tranquiliz­ando. Ravazzani destaca que as estratégia­s do BC e do governo nos últimos dias tiveram sucesso, mas que o custo será alto.

Diante da fuga de capitais do país, o BC elevou a taxa básica de juros em 12,5 pontos porcentuai­s, para 40%, e se desfez de US$ 10 bilhões das suas reservais internacio­nais – sobraram US$ 52 bilhões –, enquanto o governo pediu ajuda ao Fundo Monetário Internacio­nal (FMI). “Parece que (a turbulênci­a financeira) não vai se transforma­r em algo maior, mas haverá aceleração da inflação e ainda não sabemos o que o FMI vai pedir (para conceder o empréstimo)”, disse Ravazanni.

Ontem, o Instituto Nacional de Estatístic­as e Censo (Indec, o IBGE argentino) divulgou que a inflação de abril foi de 2,7% e que, no acumulado do ano, os preços já avançaram 9,6% – quase dois terços da meta anual de 15%.

 ?? NATACHA PISARENKO/AP-14/5/2018 ?? Nas ruas. Argentinos protestara­m contra ida ao FMI
NATACHA PISARENKO/AP-14/5/2018 Nas ruas. Argentinos protestara­m contra ida ao FMI

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil