Serviços recuam e ratificam economia lenta
Com recuperação mais fraca que o esperado no 1º trimestre, projeções para o PIB caíram
O setor de serviços encolheu 0,2% em março em relação a fevereiro, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais um dado a confirmar que a recuperação da economia perdeu fôlego no primeiro trimestre. O resultado será um menor crescimento econômico, mais próximo de 2,0% do que de 3,0%, como alguns economistas estimavam no fim de 2017.
No início deste ano, a média das projeções de analistas do mercado financeiro apontava para crescimento de 2,69% em 2018, conforme o Boletim Focus, relatório do Banco Central (BC). Na mais recente edição do documento, a média caiu para 2,51%. Na semana passada, o Itaú Unibanco revisou sua projeção para o crescimento de 2018 de 3,0% para 2,0%.
Após a divulgação da produção industrial de março, no último dia 3, o Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), rebaixou a projeção de crescimento econômico de 2,6% para 2,4%. A composição dos dados do mercado de trabalho (com destaque para o crescimento das ocupações informais) e o desempenho do setor de serviços (o primeiro trimestre registrou queda de 0,9% ante o quarto trimestre de 2017, como divulgado ontem) são os principais pontos negativos.
“O mercado de trabalho está vindo um pouco pior do que a gente imaginava. O dado de renda veio um pouco pior”, disse Silvia, lembrando que fatores que contaram a favor do consumo no ano passado, como a liberação das contas inativas do FGTS e a redução da inflação, não se repetirão.
Na visão do economista sênior do Banco MUFG Brasil, Carlos Pedroso, os indicadores recentes reforçam que a economia vem se recuperando, mas de forma lenta. “Há alguns meses havia expectativas de alta em torno de 1% para o PIB do primeiro trimestre, e agora estão bem abaixo disso”, disse.
Para o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Ronaldo de C. Souza Jr., na virada de 2017 para 2018, as expectativas dos analistas podem ter sido contaminadas pelos dados positivos de dezembro. “Isso gerou uma expectativa de crescimento que não se concretizou”, disse Souza Jr.
Na avaliação do economistachefe do banco Santander, Maurício Molon, agora parece estar ocorrendo justamente o oposto. “Os dados do primeiro trimestre não vieram tão fortes quanto se esperava e tem muita gente aí perdendo um pouco a fé, sendo contaminado por um certo pessimismo de momento”, afirmou Molon, que está entre os mais otimistas do mercado.
A equipe do Santander segue projetando 3,2% de crescimento do PIB neste ano, com destaque para um avanço de 5,0% no consumo das famílias. A estimativa será revista somente após a divulgação do PIB do primeiro trimestre, no dia 30.
O Ipea publicou ontem um relatório sustentando que a retomada da economia segue em curso, mas com ritmo mais lento. O órgão projeta crescimento de 3,0% para 2018 e também deixará a revisão para depois do PIB do primeiro trimestre.
Juros. Para Souza Jr., a queda dos juros, que já sustenta avanços nos investimentos em máquinas e na compra de automóveis, se fará sentir com mais força ao longo do ano e darão impulso à economia. Visão também compartilhada por Molon. Conforme o economista do Santander, o comprometimento da renda das famílias com dívidas já caiu de 23% para 20%, mas pode chegar a 18,5%, abrindo espaço para novas compras.
Silvia, do Ibre/FGV, pondera que os efeitos da queda dos juros parecem estar demorando a aparecer, mais do que seria normal. Segundo a economista, a pouca concorrência entre os bancos, que dificulta o repasse de juros mais baixos para o consumidor final, e a informalidade no mercado do trabalho podem estar por trás disso.
Por outro lado, os economistas concordam que a incerteza relacionada às eleições atrapalha a economia. “A gente poderia ter uma recuperação mais intensa, especialmente dos investimentos, se tivesse menos incerteza”, resumiu Souza Jr., do Ipea.
“Os dados do primeiro trimestre não vieram tão fortes quanto se esperava e tem muita gente aí perdendo um pouco a fé, sendo contaminado por um certo pessimismo de momento.”
Maurício Molon ECONOMISTA DO BANCO SANTANDER