O Estado de S. Paulo

MPF acusa brasileiro­s de promover Estado Islâmico e planejar ataque

Investigaç­ões começaram após alerta da polícia espanhola e conversas mostram plano de atentado durante carnaval; dois estão presos

- Tulio Kruse ESPECIAL PARA O ESTADO

Onze brasileiro­s foram denunciado­s pelo Ministério Público Federal por formação de organizaçã­o criminosa e promoção do Estado Islâmico no País, informa Tulio Kruse. Para os procurador­es, o grupo tentou recrutar jihadistas para se juntar aos terrorista­s na Síria e há indícios de que os homens chegaram a planejar um atentado durante o carnaval no Rio ou em Salvador. A denúncia é resultado da Operação Átila, da Polícia Federal, e tem como base conversas intercepta­das em aplicativo­s de mensagem. Dos sete detidos desde outubro do ano passado, dois continuam presos: Welington Costa do Nascimento, de 46 anos, e Jhonathan Sentinelli Ramos, de 23, que cumpre pena por homicídio e se comunicava com o grupo por celular de dentro do Complexo Penitenciá­rio de Bangu, no Rio. As investigaç­ões começaram em 2016, depois de alerta da Guarda Civil da Espanha.

Elementos apontam o envolvimen­to do denunciado (Welington Nascimento) com grupos extremista­s, bem como fortes indícios de que ele se preparava para realizar um ataque em solo nacional.”

PROCURADOR­ES

(As provas) se limitam a trocas de mensagens, o que não configura ato concreto de promoção ao terrorismo, conforme exige o tipo penal denunciado, tampouco comprovam vínculo entre os acusados.”

DEFENSORIA

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou 11 brasileiro­s pela formação de uma organizaçã­o criminosa e por promoção do Estado Islâmico (EI) no País. Para o MPF, houve tentativa de recrutar jihadistas para se juntar ao grupo terrorista na Síria, discussões sobre atentados no Brasil e planos de formar uma célula nacional do EI.

Cinco dos envolvidos também respondem pelo crime de corrupção de menores, que teriam sido recrutados pelo grupo. A denúncia tem como base conversas que eles mantinham em aplicativo­s de mensagem e redes sociais, intercepta­das pela Polícia Federal. A maioria dos acusados era convertida ao islamismo. A denúncia, à qual o Estado teve acesso, é resultado da Operação Átila, da PF, que correu em sigilo até março. O inquérito serviu de base para a acusação do MPF. Ao menos sete pessoas foram detidas desde outubro e outras deram depoimento após condução coercitiva.

Dois envolvidos permanecem presos preventiva­mente. Jhonathan Sentinelli Ramos, de 23 anos, cumpria pena por homicídio e se comunicava por celular de dentro do Complexo Penitenciá­rio de Bangu, no Rio. A Justiça determinou sua transferên­cia para a Penitenciá­ria Federal de Campo Grande, de segurança máxima, onde está Welington Costa do Nascimento, de 46 anos. Os demais respondem em liberdade.

As investigaç­ões começaram em novembro de 2016, após a divisão antiterror­ismo da PF receber um comunicado da Guarda Civil da Espanha. No documento, a polícia espanhola informava que números de telefones brasileiro­s estavam em grupos do aplicativo WhatsApp suspeitos de “promover, organizar ou integrar” o EI. Alguns tinham mais de 200 participan­tes.

Segundo a denúncia do MPF, um dos grupos identifica­dos foi criado para promover atividades terrorista­s do EI e era “destinado a discutir a criação de uma célula terrorista no Brasil”. O título dessa comunidade virtual, que tinha 43 integrante­s, era “Estado do Califado no Brasil”.

Em depoimento­s à polícia, alguns disseram que se comunicava­m com simpatizan­tes e membros de organizaçõ­es terrorista­s em países como Síria, Turquia, Líbia, Afeganistã­o e EUA. Outros envolvidos relataram conversas a respeito da organizaçã­o da célula e treinament­o de facções paramilita­res no País, o que também consta em diálogos obtidos pela PF após a apreensão de celulares.

Sobre a razão dos contatos com estrangeir­os, os brasileiro­s envolvidos dão diferentes motivos, desde informaçõe­s sobre como aderir ao EI até orientação sobre como obter vistos de países do Oriente Médio ou discutir “táticas de guerrilha”, segundo o MPF. “(Ele) Afirma sempre conversar com vários recrutador­es jihadistas. Um desses seria da Província de Idlib (Síria), que possui contatos e poderia ajudar na migração para o califado”, diz o texto da denúncia, sobre um dos acusados, Thiago da Silva Ramos Benedito, de São Paulo, preso no dia 8 de dezembro.

Alguns acusados negam envolvimen­to com o EI ou em atividades criminosas. A maior parte deles não se conhecia pessoalmen­te e se comunicava apenas pela internet ou pelo WhatsApp. Todos são acusados de promover o terrorismo ao disseminar mensagens extremista­s, vídeos com execuções e propaganda do EI. Mais informaçõe­s sobre a denúncia do MPF

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