Especialista defende uso maior do transporte coletivo.
Gabe Klein, consultor para startups de trânsito
Com experiência nos setores público e privado, Gabe Klein defende diversificar opções de transporte aos cidadãos
A figura de Gabe Klein sintetiza o caminho pelo qual a mobilidade evolui: uma combinação de iniciativas e pontos de vista vindos tanto do setor público quanto do privado. Klein, de 47 anos, iniciou sua trajetória profissional na Bike USA, que nos anos 1990 era a maior rede varejista americana do setor. Depois, assumiu a vice-presidência da Zipcar, com o desafio de convencer a todos de que compartilhar o mesmo carro era boa ideia. O ano era 2002 e ainda levaria cerca de sete anos até os serviços de transporte por aplicativo serem lançados.
Mais tarde, tornou-se diretor do Departamento de Trânsito de Washington D.C. e ajudou a popularizar o uso de bicicletas. A experiência o levou a assumir o Departamento de Trânsito de Chicago, onde implementou um novo sistema de compartilhamento de bikes. Hoje, é consultor para startups de trânsito e atua para a Fontinalis Partners, fundo que investe em mobilidade.
No fim deste mês, Klein participa do Summit Mobilidade Urbana Latam, em São Paulo, detalhando as experiências. De Washington, ele deu a seguinte entrevista:
O que aprendeu de mais importante no setor privado?
Em companhias como a Zipcar, startups e até no setor público, aprendi que é preciso focar no cliente. Às vezes, quando a burocracia é grande, seja de uma corporação ou do próprio governo, as equipes focam demais em sustentar a burocracia e em políticas internas, e não o bastante no que as pessoas precisam.
Qual a diferença?
Nos anos 1960 e 1970, as pessoas dirigiam para qualquer lugar. Se você perguntasse a elas o que queriam, diriam: “Mais estradas”. Precisamos achar maneiras de mostrar às pessoas o que está disponível, para que saibam que há mais do que comprar um carro.
Esta mudança tem a ver com os millenials, a geração nascida nos anos 1980?
Sou da geração X (nascida nos anos 1970) e posso dizer que nós é que fomos os pioneiros. Nos anos 1990 e começo dos anos 2000, decidimos que não queríamos o “suburban way of life” (estilo de vida suburbano). É uma reengenharia social que ganhou força nos últimos 15 anos. E há o fato de os millenials estarem saindo da faculdade cheios de dívidas, sem interesse em ter bens e propriedades, até porque não têm condições de adquirir. Querem experimentar a vida, e não “possuir” a vida. São mais conectados a pessoas do que a bens – exceto em relação a seus celulares, é claro.
De que um sistema cicloviário precisa para ser bem-sucedido? É muito importante que o governo dê segurança para outros modais além do carro. Se você não se sente seguro, não usa. É preciso ter uma separação que proteja o ciclista, bairros com velocidade reduzida. Tão importante quanto oferecer ciclovias é o compartilhamento de bikes, que dão às pessoas a oportunidade de tentar.
A mesma lógica vale para os serviços de compartilhamento de carros?
Sim. Por causa da maneira como as cidades foram desenhadas, às vezes você precisa de carro. Mas esses serviços eliminaram a necessidade de as pessoas terem o carro. Em lugares onde 70% a 80% das pessoas dirigem, a oferta de todos esses serviços pode reduzir o número de veículos nas ruas em até 30% em 20 anos.