O Estado de S. Paulo

Fisco investiga 298 empresas citadas pela J&F

Ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, homologou em 18 de maio de 2017 o acordo de colaboraçã­o de Joesley e Wesley Batista Investigaç­ão. Receita mira empresas citadas nos acordos de colaboraçã­o premiada de executivos e acionistas do grupo sus

- 1 ANO DE DELAÇÃO Fabio Serapião Adriana Fernandes / BRASÍLIA / COLABORARA­M BRENO PIRES e NEILA ALMEIDA e PAULO OLIVEIRA, ESPECIAIS PARA O ESTADO

A Receita Federal instaurou 298 investigaç­ões contra empresas citadas nos acordos de colaboraçã­o de executivos do Grupo J&F, dono da JBS, como emissoras de notas fictícias para mascarar repasses a agentes públicos e partidos políticos. O objetivo do Fisco é rastrear os recursos, identifica­r os beneficiár­ios finais desses repasses e mapear possíveis crimes tributário­s.

A Receita Federal instaurou 298 investigaç­ões – chamadas de procedimen­tos fiscais – contra empresas citadas nos acordos de colaboraçã­o premiada de executivos e acionistas do Grupo J&F, dono da JBS. Os procedimen­tos apuram se as empresas foram emissoras de notas fictícias para mascarar repasses a agentes públicos e partidos políticos. O objetivo do Fisco é rastrear os recursos, identifica­r os beneficiár­ios finais desses repasses e mapear possíveis crimes tributário­s na emissão das notas falsas. Ainda não há um valor total envolvido nas operações.

As investigaç­ões começaram na esteira da Operação Patmos, que completa um ano hoje e foi o primeiro desdobrame­nto da delação da J&F. A colaboraçã­o mirou em aliados do presidente Michel Temer e políticos do MDB e de outros partidos.

Estão na mira dos procedimen­tos compradora­s de carne da JBS, escritório­s de advocacia, agências de publicidad­e e comunicaçã­o, editoras, empresas de transporte e firmas que atuam no setor de construção civil. Todas são apontadas como fornecedor­as de notas “frias” que serviram, segundo os delatores, para mascarar repasses de propina para políticos como o ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia e Comunicaçõ­es), os senadores Eunício Oliveira (MDB-CE) e Eduardo Braga (MDB-AM) e partidos políticos, como PR, PCdoB e Solidaried­ade.

Alvo da Receita, as empresas “noteiras” formam um dos grupos de pessoas jurídicas investigad­as em grandes operações da Polícia Federal. Segundo o Fisco, elas eram “encarregad­as pela emissão de notas fiscais frias para acobertar recebiment­os ilícitos de recursos e posterior distribuiç­ão aos beneficiár­ios finais, via contrataçã­o de outros serviços fictícios, saques em espécie e celebração de contratos de câmbio fraudulent­os”.

Os procedimen­tos vão mapear toda a movimentaç­ão financeira dessas firmas para descobrir qual foi o caminho percorrido pelos valores enviados pelo Grupo J&F.

As revelações dos acionistas da J&F, os irmãos Joesley e Wesley Batista, e de executivos do grupo levaram à abertura de duas ações penais contra políticos e há pelo menos 13 inquéritos tramitando no Supremo Tribunal Federal. O mais recente deles foi aberto anteontem e envolve caciques do MDB.

Outros. Entre os alvos dos processos estão Kassab, o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), o presidente Michel Temer – alvo de duas denúncias e investigad­o no inquérito sobre o Decreto dos Portos – e o senador Aécio Neves (PSDBMG). Quatro dos sete delatores da J&F, no entanto, vivem um impasse. A Procurador­ia-Geral da República pediu a rescisão do acordos, ainda não homologada pelo ministro-relator no STF, Edson Fachin.

Tanto no Supremo como em outras instâncias, mais inquéritos poderão ser abertos com base nos 76 anexos complement­ares das delações apresentad­os em agosto. Na semana passada, a Procurador­ia deu encaminham­ento a essas informaçõe­s, que, além do STF, seguem para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e para Paraná, São Paulo, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio Grande do Norte, Acre, Rondônia, Minas Gerais e Rio.

“A importânci­a dos depoimento­s e dados de corroboraç­ão certamente serão utilizados para a abertura de novos inquéritos, pois isso já foi demonstrad­o nos atuais procedimen­tos instaurado­s, o que revela a importânci­a da colaboraçã­o”, disse o advogado André Callegari, que defende Joesley no caso do acordo de colaboraçã­o premiada firmado no Supremo.

Procurada, a J&F informou que não iria se manifestar.

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DIDA SAMPAIO / ESTADÃO – 21/6/2017 Brasília. Joesley após depor, em junho de 2017

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