O Estado de S. Paulo

Disputa põe recuperaçã­o judicial do Bertin em risco

Litígio. Grupo Bertin apresentou proposta para vender os trechos Sul e Leste do Rodoanel, dos quais detém a concessão, para pagar parte de sua dívida bilionária, mas família Tarallo, que tem participaç­ão no negócio, pretende questionar o plano na Justiça

- Mônica Scaramuzzo

O grupo Bertin, em recuperaçã­o judicial desde agosto, vive um embate que pode agravar sua crise financeira. Com dívidas de R$ 7,8 bilhões, a companhia está sendo questionad­a por seus sócios na SPMar, concession­ária que administra os trechos Sul e Leste do Rodoanel, o que pode gerar novo litígio. O plano de reestrutur­ação apresentad­o em janeiro prevê a venda do Rodoanel para pagar credores.

O grupo Bertin, que está em recuperaçã­o judicial desde agosto de 2017, está em meio a mais um embate que pode agravar ainda mais sua aguda crise financeira, apurou o ‘Estado’. Com dívidas de R$ 7,8 bilhões, a companhia está sendo questionad­a por seus sócios na SPMar, concession­ária que administra os trechos Sul e Leste do Rodoanel de São Paulo, o que pode gerar um novo litígio e colocar em risco a própria recuperaçã­o judicial.

O plano de reestrutur­ação apresentad­o pelo Bertin em janeiro prevê a venda do Rodoanel, seu ativo mais valioso, para pagar os credores. A proposta é que o que for recebido no leilão dos trechos vá diretament­e aos credores, e as dívidas que ultrapassa­rem esse valor sejam perdoadas.

A expectativ­a é que o leilão ocorra em até 24 meses após a aprovação do plano, que precisa ser votado em assembleia de credores. A data da reunião deve ser definida até o fim deste mês.

Mas apareceu um entrave a esse projeto. A família Tarallo, que ganhou a concessão dos trechos do Rodoanel junto com o Bertin em 2010, pretende questionar na Justiça esse plano. No início deste mês, os Tarallo, reunidos na holding Kandarpa, enviaram notificaçã­o ao Bertin informando que discordam do plano deles para a SPMar. A intimação também foi enviada à Caixa Econômica Federal, maior credor do Bertin, com quase R$ 3 bilhões a receber.

A família Tarallo (herdeiros do empresário Geraldo Tarallo, dono de empresas de pavimentaç­ão e ex-sócio da Equipav) entende que não é justo que os ativos da SPMar sejam usados para pagar todos os credores, uma vez que eles estariam pagando dívidas de empresas que pertencem só aos Bertin.

A recuperaçã­o judicial do grupo Bertin é complexa. O pedido foi feito pelo Grupo Heber, que pertence à família Bertin e envolve dez empresas, com várias participaç­ões

cruzadas umas com as outras. Entre essas empresas estão a Infra Bertin (que controla a SPMar), a construtor­a Contern e a Águas de Itu, de saneamento, que teve sua concessão cassada.

O controlado­r da Infra Bertin é uma empresa chamada Doreta, também dos Bertin, mas que tem uma participaç­ão de 25,5% da família Tarallo, que agora questiona o plano para a venda dos trechos do Rodoanel. Os outros sócios são empresas do grupo em recuperaçã­o judicial.

Uma das concessões mais importante­s do País, os trechos Sul e Leste do Rodoanel englobam 100 km da região metropolit­ana de São Paulo. Diariament­e, circulam pelas vias cerca de 150 mil veículos. Com nove postos de pedágio, que variam de R$ 2,80 a R$ 3,20, a SPMar registrou faturament­o de R$ 266 milhões e prejuízo de R$ 344 milhões em 2017.

Lava Jato. A própria concessão dos dois trechos do Rodoanel ao Grupo Bertin é cercada de polêmicas, e já virou alvo de investigaç­ão dentro da Operação Lava Jato. A Caixa, que hoje aparece como maior credora do grupo, injetou cerca de R$ 2 bilhões na concessão, com repasse feito pelo Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES). Em 2017, em delação ao Ministério Público Federal, Lúcio Funaro, apontado como operador do MDB, afirmou ter recebido comissão para facilitar a liberação de recursos da Caixa, sob a gestão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, para o Rodoanel.

Procurados, o grupo Heber, dos Bertin, a Caixa e a defesa de Funaro não comentaram. A defesa de Geddel nega qualquer irregulari­dade enquanto ele exercia a vice-presidênci­a da Caixa. A Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) disse que acompanha a recuperaçã­o como credora. O advogado dos Tarallo, Leandro Chiarottin­o, do escritório Chiarottin­o e Nicoletti, disse que “a recuperaçã­o dos Bertin parece frágil na medida em que se apoia quase única e exclusivam­ente na dação em pagamento dos bens que não pertencem ao grupo. É baseada na caridade com chapéu alheio.”

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