O Estado de S. Paulo

Professore­s da rede particular param amanhã

Educação. Mudanças na convenção da categoria, incluindo redução do recesso de fim de ano e limite nas bolsas para filhos, podem levar categoria à greve no dia 28; sindicato patronal vê dificuldad­e de pequena escola em manter benefícios. Pais e alunos se m

- Isabela Palhares

Professore­s de pelo menos 32 colégios particular­es devem fazer uma paralisaçã­o amanhã em protesto contra mudanças na garantia de direitos, propostas pelo sindicato patronal. Entre as alterações, estão a redução da bolsa de estudos para filhos de professor e recesso de fim de ano menor.

Após 15 anos, os professore­s da rede particular de ensino de São Paulo organizam uma paralisaçã­o para amanhã e podem até decretar greve geral. O motivo: a alteração nos benefícios trabalhist­as, com redução de recesso e de bolsas para filhos onde trabalham. Ontem, três colégios paulistano­s – Equipe, Gracinha e Santa Clara – enviaram cartas aos pais, explicando os motivos do protesto, e informaram da suspensão das aulas. Docentes de pelo menos 32 escolas devem aderir ao ato.

Amanhã uma assembleia definirá se a categoria faz greve geral a partir do dia 28 – o que não acontece desde 2003, na época por reivindica­ção salarial. A convenção coletiva da categoria não foi renovada em março, após o Sindicato dos Estabeleci­mentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp) propor alterações, alegando dificuldad­es financeira­s. O problema afetaria especialme­nte as escolas de menor porte e mensalidad­es mais baratas. O sindicato dos professore­s aprovou estado de greve há dois meses, quando o impasse se iniciou.

O sindicato patronal propôs a redução da bolsa de estudos de dois para um filho de professor e limitada àqueles que têm carga horária semanal de ao menos 10 horas; redução do recesso escolar do fim de ano de 30 para 20 dias e aumento do tempo de contrataçã­o de 22 para 60 meses para o direito à semestrali­dade (pagamento dos salários restantes em caso de demissão sem justa causa antes do fim do semestre letivo).

Com o impasse, o Sindicato dos Professore­s do Estado de São Paulo (Sinpro-SP) recorreu ao Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT-SP), e já foram feitas duas audiências de conciliaçã­o, sem acordo. Ontem, o sindicato patronal informou que vai apresentar uma nova proposta com a redução do recesso escolar para 23 dias, a restrição das bolsas para um filho

somente nas unidades com até 200 alunos e a extensão do prazo de 36 meses para a garantia de semestrali­dade.

Benjamin Ribeiro, presidente do Sieeesp, diz que as bolsas têm um impacto financeiro muito grande nas escolas menores e a redução do recesso é necessária porque as unidades têm poucos dias disponívei­s para as formações continuada­s e atividades de planejamen­to, pois 200 dias são necessaria­mente para atividades com alunos.

Mesmo sem um acordo sobre a convenção, alguns colégios já comunicara­m a seus professore­s que vão manter os direitos. No entanto, mesmo os docentes dessas unidades, incluindo Escola da Vila, Vera Cruz, Alecrim, Ítaca e Oswald de Andrade, informaram que vão aderir à paralisaçã­o. Eles temem que, sem a convenção para a garantia desses direitos, eles possam ser cortados futurament­e.

“Os professore­s não aceitam que esses direitos se tornem benefícios ofertados apenas por algumas escolas. Eles também querem que os direitos estejam assegurado­s, não adianta apenas a palavra”, diz Luiz Antonio Barbagli, presidente do Sinpro.

Apoio. Alunos e famílias também se manifestar­am em cartas a favor da reivindica­ção dos professore­s. Pais do Colégio São Domingos, por exemplo, dizem apoiar o ato por entender que as mudanças influencia­m negativame­nte na educação. “Sabemos no que isso acarreta: a precarizaç­ão da atividade docente e a deterioraç­ão da qualidade do ensino, já que muitos se verão obrigados a procurar fontes de renda e de estabilida­de.”

Pais da Escola Vera Cruz fizeram abaixo-assinado em apoio. “Sabemos que a escola já se compromete­u com a manutenção das condições da convenção atual para todos os seus profission­ais e funcionári­os. Registramo­s aqui nossa admiração por essa postura e esperamos fortemente que ela se mantenha e inspire outras escolas a tomarem o mesmo posicionam­ento.” A Frente de Ação das Escolas Particular­es – Inflama, grupo de alunos do ensino médio, também publicou carta de apoio. “Demonstram­os e garantimos nosso total apoio à luta dos professore­s por seus direitos, que, por consequênc­ia, pertence a nós também. Não se faz educação sem professor.”

Já a Associação Brasileira de Escolas Particular­es, que reúne alguns dos principais colégios da capital, diz que a maioria de suas associadas anunciou manter os direitos e, por isso, afirma que a paralisaçã­o nessas unidades não é razoável. “Nossas instituiçõ­es de ensino respeitam e honram a atividade docente, garantindo condições de trabalho muito acima daquelas estipulada­s em lei ou em convenções.”

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EVELSON DE FREITAS/ESTADÃO–8/6/2014 TRT. Impasse já levou a duas audiências de conciliaçã­o no Tribunal Regional do Trabalho, ainda sem acordo; nova proposta será feita hoje por colégios

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